Leitoras com Swag

Hey garotas, beliebers ou não beliebers. Só estava faltando você aqui! Nesse blog, eu, Isabelle, faço IMAGINE BELIEBERS/ FANFICS. Desde o começo venho avisar que não terá partes hots nas Fics, em nenhuma. Repito, eu faço 'Imagine Belieber' não Imagine belieber Hot. A opinião da autora - Eu, Isabelle - não será mudada. Ficarei grata se vocês conversarem comigo e todas são bem vindas aqui no blog. Deixem o twitter pra eu poder seguir vocês e mais. Aqui a retardatice e a loucura é comum, então não liguem. Entrem e façam a festa.
" O amor não vem de beijos quentes. Nem de amassos apertados. Ele vem das pequenas e carinhosas atitudes."- Deixa Acontecer Naturalmente Facebook.
Lembrem-se disso. Boa leitura :)

Com amor, Isabelle.

domingo, 31 de julho de 2016

One life 2

Meu estômago girou e eu me perguntei como havia chegado esse tanto de gente em poucos minutos. Eu gostaria que fossem menos fissurados com horários.
Paralisada no topo da escada, percebi seus olhares de expectativa e admiração ao fazerem uma análise em mim, mas duas pessoas me olhavam com uma atenção redobrada e um pouco exigente. Claro, meus pais.
Deixei meus olhos caírem no chão, lembrando-me que seria repreendida por isto mais tarde. Apoiei-me na barra lateral e movi um pé na frente do outro com cuidado, policiando-me para pelo menos deixar a cabeça elevada. Para meu pai, um Evans não deveria abaixar a cabeça para nada.
Terminei de descer os degraus, feliz por não tropeçar e fazer da festa um caos hospitalar, assim, soltei o vestido que eu segurava com a mão suada.
— Aí está ela! — meu pai anunciou com orgulho, como se todos já não tivessem me visto, e me senti um produto de sua empresa.
Levantei os olhos o vendo vir até mim com Eleanor ao seu lado, pendurada em seu braço, ambos com a expressão tranquila demais para quem havia enganado a dona do evento. Um sorriso resplandecente se espalhava por seus rostos, brilhando tanto quanto seus trajes elegantes que combinavam.
As palmas atingiram meus ouvidos ao mesmo tempo que meu pai me entregava uma taça de champanhe, como todos tinham em suas mãos. Minha mãe não gostava da bebida, mas aliás, o que seria de um evento sem champanhe? Segundo eles, nada. Às vezes mamãe trapaceava e tomava água gasificada fingindo ser champanhe.
Sorri abertamente para os rostos variados de desconhecidos e familiarizados. Algumas dessas pessoas frequentavam todas as festas Evans, mas meu pai gostava de inovar seu "público".
Identifiquei Hanna ao lado do filho dos Peters e ela me deu uma piscadela. Me surpreendi com sua rapidez para se arrumar e arranjar um partido, contive o riso imaginando a longa conversa que teríamos sobre seu jogo de sedução com Wren.
Todos esperavam que eu dissesse alguma coisa, então tratei de pensar rápido e controlar o rubor que subia por meu pescoço.
— Obrigada por virem, eu realmente fico muito grata. Espero que apreciem meu mundo tanto quanto eu mesma — levantei um pouco a taça com um sorriso calculado.
Eles bateram palmas outra vez.
— Deixe-me lhe apresentar Jhon Vincent, dono de um dos museus mais importantes da America do Norte — meu pai colocou a mão em minha cintura, soltando minha mãe e me guiando.
— Pai, já quer minhas obras num museu?
— Temos que pensar também no futuro — ele piscou para mim e eu balancei a cabeça numa reprovação humorada. Eu realmente não estava muito bem com ele, mas demonstrar isso em público seria um tolice tamanha.
Pelos próximo quarenta minutos meu pai fez questão de me apresentar para umas vinte pessoas, as quais esqueci os nomes, embora ele afirmasse ser extremamente importante que eu decorasse. Pedi para que me deixasse sentar por um segundo, e mesmo com olhares repreensivos, consegui permissão.
Me direcionei à sala e encontrei um sofá inteiro vazio. Por algum motivo, nessas festas as pessoas gostavam de ficar em pé, provavelmente para não amassar suas roupas, mas até que nesse evento em particular fazia sentido. Resisti a tentação de tirar o salto e apenas cruzei as pernas, observando um de meus quadros pendurado na parede à frente. Algumas pessoas estavam paradas em frente à ele, avaliando e conversando entre si. Me senti nervosa para saber o que comentavam, ao mesmo tempo que a responsabilidade me tomou. 30 segundos de descanso era o suficiente par a anfitriã da festa que deveria estar explicando seus quadros.
Suspirei e me levantei, levando reclamações dos meus pés conforme eu andava. Essa sandália idiota parecia ser a mais desconfortável que eu usara na vida, esse era o preço por deixar Eleanor escolher meu calçado.
— Chama-se Dark Inside — cheguei à roda de fininho, expondo — Vocês podem ver pelo modo que ela os encara, as íris de seus olhos são facas, e o sorriso de lado é sarcástico e irônico, fazendo um contraste com suas vestimentas de renda rosa e o laço no cabelo. A mãe passa a mão em sua cabeça afetivamente, não fazendo ideia do que se passa na cabeça da menina. Não é um quadro para se ter em uma sala de estar, por exemplo — eles deram uma risadinha e eu os olhei com um sorriso simpático, voltando à realidade.
Talvez meu sorriso não houvesse sido adequado, eles pareciam se questionar se eu era a garota "assassina" do quadro.
— Profundo — uma das senhoras se pronunciou, mas algo em seu tom me deu a impressão de que queria dizer "perturbado".
— E do que realmente se trata? Ouvi dizer que seus quadros costumam ter um significado particular — um dos homens perguntou, tomando o cuidado de escolher as palavras para não parecer grosseiro. Todos sempre eram muito educados comigo, ao menos na minha frente, mas pelos motivos errados.
— Escutou bem. Bom, na verdade, o Sr. Evans não queria esse quadro na coleção — eles riram — Significa que os pais não conhecem o suficiente dos seus filhos. E a questão é, por que?
Suas expressões eram cuidadosas, eles tentavam não demonstrar que estavam no minimo perturbados, mas estavam. Claramente agora não havia dúvidas de que eu era a assassina. Eles não pegaram o espírito da arte, então esse grupo não entendia nada, eram só mais alguns riquinhos comprando quadros para parecerem cultos.
Me esforcei para um último sorriso, me controlando para não ouvir meu lado humorístico e assustá-los com um sorriso psicopata.
— Com sua licença — pedi educadamente e me retirei, pronta para explicar o próximo quadro ao grupo de curiosos adiante.
— Faith Evans! — escutei a voz atrás de mim e me voltei para o som.
— Meredith Peter — respondi o cumprimento da nossa vizinha de meia idade e convidada de todas as festas.
— Já cumprimentou Wren? — perguntou empolgada, indicando com a cabeça para o lado em que ele e Hanna estavam conversando.
— Ainda não tive a oportunidade — contive meu suspiro de tédio.
— Não seja por isso! — ela agarrou meu braço, me puxando para o outro lado da sala antes que eu pudesse pensar em responder — Wren, a anfitriã da festa reservou um tempo à você! — Meredith interrompeu o filho no meio de uma frase.
Sorri com cordialidade e lhe estendi a mão.
— Boa noite, Wren. Obrigada pela presença.
Ele apertou minha mão.
— Boa noite, Faith. Está deslumbrante como em todos os dias — ele beijou minha mão com cavalheirismo.
— Ora, vocês tem intimidade o suficiente para um abraço — Sra. Peter protestou.
Às vezes essa obsessão para que eu namorasse seu filho me enchia a paciência. Ela nunca cansava.
O abracei rapidamente antes de lançar um olhar de desculpas para Hanna que aparentava expressivamente sua irritação.
— Você está linda, Hanna, fico feliz que esteja aqui.
— Me empresta ele um pouquinho, Faith? Vamos falar com seu pai — Meredith segurou o braço do filho.
— Sem problemas — respondi, me sentindo incomodada.
Ela sorriu para mim e olhou educadamente para minha amiga por uma fração de segundos. Wren não tirou os olhos dela.
Quando se distanciaram olhei para Hanna na defensiva. Ela cruzou os braços. 
— Seus quadros estão lindos — elogiou, mas mal sabia disfarçar sua ira.
— Os seus são melhores. Escute Hanna....
— Eu já entendi. Acho que você deveria ter me avisado que havia um partido seu na festa — resmungou.
— Ele não é, é só uma coisa boba dos nossos pais, mas não queremos isso — expliquei.
— Não posso competir com você. - ela colocou uma mecha do cabelo loiro atrás da orelha, chateada, mas ainda sem saber seu alvo.
— Serio, eu não estou na competição — afirmei, encarando seus olhos azuis na esperança de que ela entendesse.
— Claro que não — murmurou com desdém — Preciso de uma bebida — ela mostrou o copo vazio com um sorriso forçado e saiu do cômodo mesmo que houvessem dois garçons à nossa frente. 
Expirei. Hanna era intensa. Ao menos eu já havia me acostumado com isso. Desde que nos conhecemos no primeiro ano da faculdade éramos inseparáveis, então eu conhecia suas crises de raiva o bastante.
— Então ela é uma assassina? — a voz rouca e grave me chamou a atenção, mas não percebi que era comigo que falava até que ele parasse na minha frente. 
O analisei rapidamente e tive certeza de que esse era um dos desconhecidos, eu certamente me lembraria se o houvesse visto alguma vez. Seu rosto era infantil, embora o cavanhaque se destacasse em sua pele branca, chamando atenção para sua boca pequena em forma de coração. Seus olhos eram castanho claros, numa cor límpida, intensa e cativante, e pareciam ser bem reservados. Os cílios faziam uma sombra pequena embaixo dos olhos e o nariz era perfeitamente alinhado. Passando para o cabelo, notei que era castanho claro mais para um loiro escuro, penteado todo para trás, grande o suficiente para cobrir boa parte da nuca, trazendo a elegância dos galãs de filmes de época. Aprovei seu terno azul escuro que o destacava entre as pessoas do recinto, como se precisasse de mais para ser o centro das atenções. Ele era.... inumanamente lindo. Eu estava sem fala encarando seu sorriso amistoso. 
— Desculpa? — lutei para não gaguejar, desde já me achando uma estúpida. 
—- A garota do quadro. Com os olhos de faca — ele explicou.
Demorei a entender, mas seu corpo se inclinou um pouco para que eu tivesse visão do Dark Inside. 
— Ah... Não exatamente — senti o sangue se acumular em minhas bochechas por minha lerdeza, o motivo desta não tinha justificativa plausível — Eu só queria uma analogia. 
— Criativo — ele ampliou seu sorriso e pensei ter visto algum traço de humor em seus olhos, como se curtisse alguma piada interior -— Isso tudo para dizer que os pais devem dar mais atenção aos filhos? Você é boa — ele estendeu uma das mãos e eu pude perceber que segurava um martini em cada uma. Eu não era uma real fã da bebida, mas peguei por educação.
— Então você consegue interpretar quadros com facilidade? — supus, bebericando a taça.
O gosto amargo da vodka quase fez da minha expressão uma careta. 
— Ouvi você explicando — confessou — Seus pais não tem compreendem ou o que?
Seu olhar estava mais agressivo do que o normal para dois estranhos, e eu não gostei disso, muito menos de sua pergunta indelicada.
— Hm... O que? — dei-lhe a chance de se remediar. 
— Tem problemas com seus pais? — ele persistiu na ideia. 
Precisa de travas na língua?
— Não exatamente. Você tem? — contra-ataquei, arqueando a sobrancelha. 
O sorriso torto que ele dera era de puro divertimento, e foi a única resposta que tive, logo em seguida seus lábios estavam em sua taça. Ele deu um gole considerável com os olhos em mim. Eu fiquei intimidada, como um rato aos olhos de um gavião.
— Você... gostou dos quadros? — perguntei preenchendo o silêncio estranho. Sua aparência surreal e a personalidade incerta estavam me deixando bem desconfortável. 
— São interessantes, você gosta? — sua língua passou sob os lábios e eu quase entrei em colapso. 
Pisquei para ter certeza de que não era uma miragem. Para minha surpresa, ele continuava ali, me esperando responder. 
— Eu os fiz — ri pelo nariz, estranhando sua pergunta.
— Não foi isso que eu perguntei.
Por um momento fiquei sem fala. Mesmo sem me tocar ele parecia estar querendo me colocar contra a parede, e eu não entendia o motivo. Mesmo assim, resolvi ser sincera.
— Na realidade, os enxergo como um ensaio. Não queria uma exposição agora. 
— Mas seus pais gostam de uma exposição — ele sorriu outra vez, de um modo conspirador. 
— Então você os conhece bem? Não me lembro de tê-lo visto em outras festas — indaguei desconfiada. 
— Talvez... Realmente não estive presente em outras. 
— Então é algum amigo?
— Mais ou menos isso.
Fiquei frustrada com suas respostas evasivas, eu gostaria de poder ver através de sua compostura suas reais intenções nas frases estranhas. 
— Qual é o seu nome?
Seu sorriso encoberto se ampliou.
— Se eu te contasse, teria que te matar.
O encarei, seus olhos brincavam, mas alguma coisa nele me dizia que acreditava de verdade nisso.
Ou ele era psicopata ou simplesmente um idiota, nos termos do senso comum. 
— O que você está fazendo aqui? — questionei seria. Ele parecia estar se divertindo muito às minhas custas.
O estranho deu de ombros antes de prosseguir, mas minha aparente irritação o havia divertido mais ainda. 
— Eu gosto de exposições. Aliás, você fez um belo espetáculo descendo as escadas. 
Cruzei os braços, ele atingira minha quota de paciência. 
Calma, Faith.
— Aquilo não era um espetáculo — franzi a testa.
— Para mim parecia, você foi muito graciosa, uma entrada realmente precisa para exibir o bem mais precioso dos Evans, Faith Angel.
Arqueei a sobrancelha, pensando em jogar meu martini nele. Parte pequena de mim estava lisonjeada, mas eu não era uma droga de objeto como ele parecia pensar. 
— Qual é o seu problema? — soltei antes mesmo de cogitar a frase e não me surpreendi por não me arrepender em seguida. Será que ele era tão doente a ponto de não perceber quando estava testando os limites das pessoas? Eu duvidava muito. 
— Você se ofendeu? Perdão, não foi a intenção. 
Eu não conseguia saber se ele estava sendo sincero ou não, pelo menos o sorriso irritante havia sumido.
— Eu tenho mais o que fazer, com licença — fingi um sorriso e virei as costas para sua expressão inocente, marchando para longe daquela máquina de indelicadezas.
Eu não havia dado nem dez passos e minha mãe apareceu na minha frente. 
— Faith, querida, onde estava? — ela pegou uma das minhas mãos. 
Nesse momento passou um garçom ao meu lado e eu coloquei o martini quase cheio em sua bandeja, acompanhado de um "obrigada" sussurrado.
— Na outra sala atendendo os convidados, explicando alguns quadros — respondi em seguida.
— Ótimo, parece meio chateada, tudo bem?
Tirando o fato de todos estarem dispostos a testar meus limites hoje...
Assenti, forçando um sorriso. 
— Gostaríamos que conhecesse alguém — seu braço se enganchou ao meu e ela me conduziu até um homem de cabelo grisalho que falava com meu pai. 
Eu achava que deveria estar conhecendo as pessoas por conta própria, mas como sempre, meus pais estavam monopolizando todo o ambiente. Contive o suspiro. De qualquer forma, essas pessoas eram entediantes, fúteis e dotadas de sorrisos falsos, então não fazia diferença. Provavelmente o homem que conheci há pouco era o mais pretensioso de todos, algum repórter penetra tentando me fazer dar um escândalo para seu furo no jornal. Era a única conclusão que eu tinha para o seu comportamento. Então eles achavam que mandar um cara bonito faria com que eu me abrisse e contasse todos os segredos da família ou me deixasse levar por sentimentos extremos e descontrolados como fúria?
— Eis a mulher da noite — meu pai disse quando apareci em seu campo de visão. 
Dei meu melhor sorriso montado, a linguagem corporal dos meus pais indicava a importância do homem com pés de galinha nos olhos, portanto minha performance deveria ser impecável. 
Estendi minha mão e ele a beijou.
— Vittorio de Sica. 
— É um prazer. 
— Ele é italiano — esclareceu meu pai por meu olhar curioso — É um dos críticos mais considerados no mundo. Qual a porcentagem de aumento de vendas após uma avaliação positiva?
— Uns oitenta por cento — sorriu orgulhoso em meio a seu sotaque, franzindo o nariz rapidamente para parecer modesto, e em seguida olhou em volta, avaliando meus quadros nas paredes. 
Minhas bochechas se avermelharam e senti alguma coisa corroer meu estômago. 
— Você tem potencial — seu sorriso agora se direcionava a mim, meu corpo relaxou. 
— Obrigada.
— Tem muito a amadurecer, mas aposto em você.
Assenti, ampliando o sorriso, mas de alguma forma estranha, eu permanecia inquieta. 
— Se me derem licença, tenho que dar atenção aos outros convidados. Foi uma honra te conhecer Vittorio. 
— Claro, quando decidir se lançar no mercado, ficarei feliz em fazer uma avaliação para você. Prometo ser benevolente — nós rimos, mas eu quase parecia uma hiena histérica — Seu pai tem meu contato. 
— Aprecio a consideração — agradeci com sinceridade, mesmo tendo o conhecimento de que se esse cara falasse um 'A' que fosse mal de minhas obras, minha carreira estaria acabada antes de começar. 
Curvei um pouco minha cabeça com respeito e saí, considerando se deveria dar uma bronca em meus pais pela presença deste convidado. 
Avistei Flê vindo com uma bandeja de canapé de tomate seco e presunto defumado. Sorri para ela e peguei um, e então só pude pensar em o que eu não daria por uma porção de batata frita. 
— Aprovado?
— Como sempre Flê — embora eu preferisse altas gorduras, sua comida sempre estava impecável. 
Ela ficou olhando nos meus olhos, esperando. 
— Pode dizer, Faith, só não peça batata frita. 
Dei uma risadinha, balançando a cabeça e tendo o conhecimento de que ela não falava do canapé. 
— Eu só... Estou um pouco perturbada. Conheci algumas pessoas inesperadas. 
Ela estreitou os olhos, tentando interpretar minha fala. 
— O que quer dizer?
— Um crítico super poderoso e um aspirante à jornalista idiota e desnecessário.
Ela deu uma risadinha, contendo uma gargalhada.
— O que este ultimo te fez? Posso te ajudar?
— Só se dentro dessa cozinha e, com seus dons extraordinários, tiver miolos novos para que possamos trocar e deixar um bom pacote para alguma garota de sorte. 
Fleur comprimiu os lábios. 
— Então ele é bonito?
— Num geral — desviei os olhos, me mostrando desinteressada — Mas não é relevante.
— Talvez tenha entendido errado as intenções dele — ela ponderou, e eu já sabia onde queria chegar. 
— Claro. Se não for um jornalista é um completo retardado. 
Desta vez Flê mordeu a boca e ficou vermelha, tão próxima a explodir em uma gargalhada que eu mesma tive que conter a minha. 
— Depois conversamos sobre isso, mocinha, mas agora tenho que trabalhar e você também. Só não julgue tanto a testosterona. 
Fiz careta para sua escolha de palavras e revirei os olhos.
— Eu sou gentil com todos os homens, aliás eu tenho um irmão. 
Fleur me olhou com tédio e passou por mim negando com a cabeça. 
Como se o fato de uma pessoa ser homem mudasse minha forma de tratá-la!
Pude ver Hanna perto da porta sozinha quando olhei para o outro lado e respirei fundo, decidindo ir até ela. 
— Está indo embora?
Ela levantou seus olhos marcados com lápis preto. À primeira análise não estava agressiva. 
— Não. Está me expulsando?
— Não. Está brava?
Hanna desviou o olhar e mordeu a boca. 
— Não. Ele me disse que vocês não tem nada. Eu só estava meio intimidada, mas já tenho até o número dele — ela sorriu um pouco, me olhando novamente. 
— Isso é ótimo Han! — me animei — Quer saber, se quiser, posso te ajudar com isso — lhe dei uma piscadela.
— Só se você arrumar um par para sairmos em casalzinho. Alguém interessante nessa festa de velhos? — seu olhar malicioso e empolgado recaiu sobre mim após uma rápida análise no recinto. 
Neguei rápido, entortando a boca.
— Ok. Quem é, Faith? — sua voz estava saturada de curiosidade.
Fiz careta. Eu era muito fácil de interpretar e isso era uma droga, mas mais um motivo para pensar que o idiota estava brincando com a minha cara.
— Ninguém que valha a pena. Era um cara inconsequente e sem noção — revirei os olhos. 
— Não é difícil te estressar, ainda mais quando não se sabe o que te irrita. É só usar as palavras erradas e bum!
A encarei seria. 
— Olha quem diz. 
Hanna deu de ombros, rindo.
— Olá, moças — escutei a voz de Wren e me virei em sua direção.
Ele foi para o lado de Hanna e ela me deu um sorriso disfarçado. Contive o sorriso.
— Faith, se incomodaria se eu tirasse a Hanna para dançar? As pessoas não estão dançando, mas aquele centro vazio está implorando por uma dança. Aliás, é uma excelente música.
Olhei para o rosto deslumbrado de minha amiga e não pude evitar o sorriso. 
— Fique a vontade. Vai dar uma inovação na história de exposição de arte.
Ele sorriu, estendendo a mão para Hanna. 
— Me concede essa dança?
Ela agitou seus cabelos antes de afirmar.
Enquanto Wren à conduzia para o centro ela se virou para mim com os olhos arregalados e a boca aberta, explodindo de felicidade.
Balancei a cabeça, rindo.
— Senhorita Evans? — Ashley, a assistente do meu pai, colocou a mão educadamente em meu ombro — Temos um comprador — prosseguiu quando a olhei.
Franzi a testa, confusa. Esta não era uma noite de vendas, somente uma exposição para a avaliação de como eu estava indo, e dependendo da reação das pessoas, cogitaríamos outro evento para isto. 
— Hmmm.. Você avisou que não estão à venda?
— Sim senhorita, mas ele insiste, está disposto a pagar qualquer valor. 
Me surpreendi com a resposta. Nenhum dos meus quadros era bom o suficiente para isto. Se meu avô estivesse esta noite, apostaria que era ele. 
— Ok. Quem é ele e onde está?
— Me acompanhe. 
A segui pela casa, entrando na sala que estivera minutos atrás.
— É este senhor — ela apontou para alguém em frente ao Dark Inside. 
Quando tive visão do indivíduo, desacreditei. Ao mesmo tempo ele se virou, com aquele sorrisinho insuportável de canto. 
Respirei fundo. 
— Não me testou o suficiente, desconhecido?

quarta-feira, 27 de julho de 2016

One Life

Eu não conseguia respirar.
Bom, o mecanismo do sistema respiratório eu sabia, inspire pelo nariz, o oxigênio passará para os seus pulmões, e depois, expire para eliminar o gás carbônico. Era uma tarefa simples, e por mais que eu soubesse que meu corpo estivesse fazendo isso involuntariamente, o oxigênio não parecia estar acertando o caminho. Minhas mãos estavam alarmantemente gélidas, meu estômago prestes a desabar, e meus ombros estavam tensos o suficiente para que eu passasse um dia inteiro na massagista.
— Vai ficar incrível — Caleb colocou a mão sobre meu ombro, sentindo minha tensão refletir por todo o cômodo.
— Não sei se incrível o suficiente para alguns dos convidados — segurei sua mão com ternura, demonstrando gratidão pelo apoio.
Não era de hoje que ele estava ao meu lado, como meu irmão dois anos mais velho, Caleb cumpria muito bem seu papel. Seu sorriso de covinhas costumava pelo menos me acalmar, era extremamente familiar e reconfortante em meio ao caos. Seus olhos castanho escuros estavam geralmente dotados de uma serenidade influenciável, embora seu corpo fosse grande o bastante para entrar numa briga de luta livre, ou ao menos fazer um papel de galã em algum filme pretensioso.
— Queria que você estivesse aqui amanhã — suspirei insatisfeita, passando meus olhos ao redor da sala que transbordava os quadros pintados por mim.
Ser uma estudante de artes em Harvard podia ser interessante, eu adorava grande parte do curso, e talvez estivesse cometendo um crime por não ter certeza de que queria isso para o resto da minha vida quando eu estava terminando o quinto semestre.  Como consequência, eu não tinha confiança o suficiente para uma exposição, mesmo que eu amasse pintar, uma coisa que me distraía, me acalmava. Então, eu tinha um bom acervo de quadros em casa, e meus pais, que foram os responsáveis pela minha escolha de curso, não desistiram até me persuadir a fazer uma exposição inaugural, mesmo que eu ainda não estivesse com diploma em mãos.
— Alguém tem que representar os Evans — ele passou o braço em cima dos meus ombros com uma pitada de sarcasmo na voz.
Nossa vida se baseava em status, aparência e elegância. Por mais que tentassem negar, essa era uma grande prioridade para meus pais. Era uma grande responsabilidade ser filho de Bryan e Eleanor Evans, gestores de uma das empresas mais bem sucedidas dos Estados Unidos da América.
Que sorte a nossa.
— Vai levar a Cassie? — olhei para seu rosto a fim de captar qualquer emoção que aparecesse.
— Não sei — confessou com indecisão e me soltou, ficando desconfortável. Esse não era um de seus assuntos preferidos.
Não insisti, seu relacionamento iô-iô era última coisa com a qual eu precisava me preocupar agora.
— Você deveria dormir para estar bem disposta amanhã — e lá estava ele me dispensando.
Revirei os olhos pela sua tentativa.
— Não se preocupe, não vamos falar dela, mas se quiser se retirar, fique a vontade.
Ele deu de ombros e encarou o quadro à nossa frente.
— Conseguiu convencê-los a expor este? — seu tom era um pouco surpreso.
Dei um sorriso de satisfação, esta fora uma luta a mais nas minhas conquistas.
— Eu concordei em fazer a exposição, o mínimo que poderiam fazer era me deixar escolher os quadros.
Passei para o cômodo seguinte, a entrada da casa, espaço que também utilizamos para pendurar os quadros, tendo em vista que era basicamente vazio, com apenas a escada grande de veludo, o lustre de cristais  e uma pequena mesa no canto com as flores preferidas de mamãe, orquídeas.
Eu já havia olhado tudo pelo menos umas quinze vezes, fazendo uma reavaliação dos quadros em si, ordenando-os como eu achava melhor, sempre procurando algum detalhe inacabado. Caleb me fazia companhia, sempre fazendo comentários positivos, refutando minhas críticas inseguras. Ele aguentou minha ansiedade excessiva pacientemente, mas ambos sabíamos que no dia seguinte estaria pior.
Era exatamente uma hora da manhã quando subi para o segundo andar, quase arrastada por meu pai para que eu fosse dormir, ele me acompanhou com os olhos pelo corredor de seis cômodos — meu quarto, o de Caleb, dos meus pais, dois de hóspedes e um banheiro — até que eu entrasse na última porta à direita e a fechasse, Caleb deu uma risadinha antes de fechar a sua própria em frente a minha.
Meu quarto agora parecia maior que antes, a cama no centro, grande o suficiente para três pessoas — com a colcha azul escura encoberta por meus ursinhos de pelúcia — parecia distante demais dos outros móveis; um sofá branco pequeno no extremo direito bem embaixo de duas prateleiras com meus livros preferidos; a tela pequena de pintura em branco no extremo esquerdo para quando eu estivesse com pressa ou preguiça de subir ao terceiro andar onde estava meu ateliê; a penteadeira bem ao lado da porta de entrada com um espelho grande e os mais diversos itens embelezatórios embutidos. A sacada que ficava entre a cama e o sofá estava fechada, a cortina azul marinho combinava com o restante do quarto pintado em um tom de azul claro; o banheiro ao lado do sofá estava fechado, e o closet ao lado da tela de pintura também, ainda havia uma televisão apoiada na parede em frente à minha cama.
Eu sentia o impulso de ligar para Hanna, minha melhor amiga, ou então de chamar Caleb, para dormirem aqui e me fazerem companhia. A ansiedade parecia me sufocar.
Respirei fundo algumas muitas vezes e peguei um pijama de seda para me vestir, tentando me manter ocupada com cada fase preparatória para dormir. Escovei os dentes meticulosamente após tomar um banho por estar calor demais; pensei em relaxar na banheira, mas assim eu teria muito tempo para pensar. Depois, me joguei na cama com Billy, meu panda gigante — que fora um presente de natal de Caleb —, e tentei esvaziar a mente.
O processo levou muito mais tempo do que eu pensava, e eu rolei na cama por duas horas antes de conseguir fechar os olhos para levantar às sete com meu despertador inconveniente.
Era previsível que minha mãe reparasse nas minhas olheiras assim que entrasse na sala de jantar e me repreendesse por isso, mas ainda assim me deixou um pouco irritada, provavelmente resultado de sono e ansiedade que me deixavam bipolar, parecendo um zumbi com um dedo na tomada.
— Eu não consegui dormir — justifiquei o óbvio, me sentando na mesa.
— Seu pai me disse que teve que te arrastar para que fosse se deitar — repreendeu . Bryan balançou a cabeça, confirmando. Traidor.
O fuzilei com os olhos antes de responder.
— Não faria diferença alguma — contestei, colocando um pouco de bacon e ovos mexidos em meu prato.
— As maquiadoras darão um jeito nisso.
Suspirei cansada.
— Então não vou poder fazer do meu jeito mesmo?
— Aquele papo de "transparecer seu natural'? Não é para essas festas — discordou sem nem ao menos me olhar, sua forma de demonstrar que o assunto não estava em discussão.
Fechei a cara e tratei de comer rápido, não havia muito o que eu pudesse fazer hoje já que eles se ocupariam de toda a organização, mas ser o alvo de Eleanor em um dia como esse não era uma boa ideia. Além do mais, ela fizera questão de marcar o dia no spa para mim e Hanna, que me pegaria às oito e meia.
Me retirei da mesa após engolir de uma vez o suco de laranja, um pouco triste por não poder apreciá-lo como merecia, e corri para a cozinha, dando um beijo na bochecha de Fleur que lavava a louça.
— Bom dia Flê!
Ela sorriu para mim, quase rindo por meu estado de espírito agitado. Fleur era nossa doméstica desde antes de eu nascer, então sempre fora como uma segunda mãe para mim, muitas vezes até a primeira. Ela veio da França com seu marido e dois filhos, que uma vez crescidos foram trabalhar em Cleveland; por isso, eu e Caleb supríamos grande parte da ausência deles, já que também éramos considerados seus filhos. Nicole e Jean até tentaram levá-la para morar com eles, afirmando que Flê não precisaria mais trabalhar, mas com extrema fidelidade ela recusava-se a abandonar-nos, embora nós mesmo disséssemos dar conta do recado.
"Acha que alguém cuidará da minha família melhor do que eu?" — ela perguntara com as sobrancelhas franzidas, a autoridade em sua voz de 50 anos tendendo para uma bronca coletiva.
E foi assim que ela venceu dois meses de discussão.
— Bom dia Faith, pronta para se divertir no spa? — sua voz era zombeteira, todos sabiam o quanto eu era agitada demais para um lugar desses me suportar.
— Sou a próxima rainha Elizabeth — fiz reverência e saí da cozinha, mesmo que na teoria as pessoas que deveriam me reverenciar, ouvindo sua risada baixa.
Ainda que eu não estivesse exatamente atrasada, subi as escadas correndo, esbarrando em Caleb no corredor.  Ele estava carrancudo, seu humor matinal costumeiro, acrescentando que era sábado e ele teria que trabalhar,
— Um bom dia de spa para você — ele carregou a voz de acusação com os olhos semicerrados. 
Dei risada.
— Você pode vir comigo se quiser — ofertei.
Entrei no quarto e fui direto ao closet, escolhendo uma roupa. Não era uma tarefa muito importante, já que eu passaria praticamente o dia todo de roupão. Peguei um shorts jeans simples e uma regata um pouco grande com um desenho patriota. Calcei uma rasteirinha e deixei o cabelo solto. Quando me olhei no espelho fiquei satisfeita com a simplicidade, por conseguinte, mamãe ficaria decepcionada. 
Meu celular informava que ainda era oito horas, então me joguei na cama após pegar o controle da Tv e liguei a mesma. Eu não costumava assistir muito televisão, mas era um ótimo programa para absorver o cérebro e fazer as horas passarem rápido. Zapeei pelos canais esperando que alguma coisa me chamasse atenção. Eu poderia pegar meu notbook e assistir CSI, mas Hanna chegaria antes que eu terminasse o episódio, e eu odiava parar uma serie no meio. Acabei optando por assistir Gloob, estava passando Alvinnn e os esquilos e eu tinha uma espécie de adoração por esse desenho.
Como planejado e esperado, parecia haver se passado segundos quando Fleur apareceu na porta.
— A senhorita Hanna está te esperando, Faith.
Dei um pulo da cama.
— Se ela ouvir você dizendo senhorita vai brigar contigo. Nada de formalidades! — repreendi calçando a rasteirinha.
Ela deu um sorrisinho.
— Vai assim, menina? — me analisou dos pés a cabeça e eu assenti — Sorte sua que sua mãe já saiu, estava atrasada, então mandou te dar os recados.
— Sobre como me comportar no spa? — perguntei entediada.
Ela riu, balançando a cabeça.
— Já sei de tudo Flê, nos poupe — beijei sua bochecha ao passar ao seu lado e corri escada a baixo.
Han não estava no andar de baixo, então abri a porta e a vi com o carro parado na entrada. Ela estava de óculos escuros e cantando uma música animada que tocava alta no rádio.
— Temos aqui uma legítima Cinderela a caminho da fada madrinha — comentou assim que me viu.
Mostrei a língua e pulei para o banco do carona.
— Bom dia Hanna.
— Preparada para o nosso dia de princesa? — ela sorriu abertamente. Han parecia mais filha da minha mãe do que eu.
— Empolgadíssima! — fingi um sorriso e ela me deu um tapinha acompanhado de uma risada.
Eu deveria confessar que pelo menos das funcionárias do spa eu gostava, elas sempre nos recebiam com um sorriso agradável no rosto, a expressão serena e a simpatia ao extremo; mas ser recepcionada com uma aula de ioga não era exatamente meu forte. Recebemos alguns olhares de repreensão por darmos algumas risadas quando era para estar em silêncio. Todas as vezes que eu era obrigada a vir, acabava atrapalhando a professora Lilian, ela provavelmente me odiava.

No final, acabou sendo melhor do que eu pensava. As massagens tiraram a tensão dos meus ombros, embora tenha doído o suficiente para eu querer interromper o procedimento. No pain no gain, eles dizem, mas nesse caso, eu prefiro perder mesmo, não sou do tipo masoquista. 
A limpeza de pele me deixava agoniada, Hanna fez questão de tirar fotos de mim com aquelas mascaras ridículas, e eu devolvera o favor. Graças a Deus, para a depilação a lazer me passaram um creme que deixou a pele anestesiada 30 minutos antes, pois eu sempre sofria com isso — mais um dos motivos para eu não gostar de vir aqui. Entretanto, se havia algo que era realmente agradável nesse lugar era o ofurô.
— Eu te entendo — Hanna murmurou com satisfação assim que entrou na água quente cheia de pétalas.
Todas aquelas luzes com efeito calmante, as velas, as músicas e os óleos me davam a sensação mais maravilhosa que eu sentira na vida, o prazer de estar mais leve que uma pena, como se nada de ruim pudesse acontecer. E foi só naquele momento que a ansiedade me deixou completamente. Talvez eu tenha dormido naquele paraíso, pois rápido demais Annelise apareceu na porta.
— Hora de se arrumarem meninas. 
Abri os olhos, despertando do paraíso, descendo da minha nuvem e quase choramingando por ter que voltar à realidade cruel. Meu estômago girou desagradavelmente por eu me lembrar o motivo pelo qual deveria me aprontar.  
Eu não estava tão nervosa com o penteado que fariam quanto com a maquiagem, e Olívia fez jus a isso. Ela alisou meu cabelo, só para cacheá-lo novamente, fazendo duas tranças em cada lado da minha cabeça com a parte da frente do cabelo que se uniam atrás, depois amarrou com uma fita vermelha, fazendo um laço que eu amei. Hanna apenas alisou todo o cabelo, preferindo deixá-lo livre, já que ela tinha grande costume de passar a mão nele. Ela deu um pequeno gritinho animado ao ver o meu penteado e me puxou para a área da maquiagem.
Quando me sentei na cadeira afofada torci para não ficar parecendo uma drag queen, não era a imagem que eu gostaria de passar. Talvez eu tenha desejado com tanta força que funcionou, ou foi meu pedido para a maquiadora deixar leve. Me encarei no espelho e até que gostei do que vi. Elas eram melhores do que eu pensava, o delineador não tão alongado, o rímel grosso, a sombra dourada e disfarçadamente avermelhada em junção com o batom vinho, casavam em perfeita harmonia. Caroline queria deixar as cores da sombra um pouco mais fortes para que se destacassem, mas eu a convencera de que assim estava ótimo e me levantei antes que ela pudesse me impedir. 
— Caraca mona! — o queixo de Hanna caiu quando ela me olhou — Não é que tem como você ficar ainda mais linda?!
Eu ri e balancei a cabeça, discordando.
— Eu que estou em frente à própria Afrodite.
Olhei no relógio quadrado na parede, reparando que marcava seis e meia da tarde. 
— Ok, temos que nos vestir depressa, eles chegarão às sete — falei apressada, vasculhando o recinto com os olhos para achar os vestidos que minha mãe disse que enviaria para cá, com medo de que se nós duas trouxéssemos amassasse no carro, e eu não era louca de discutir seus tiques.
Hanna parou Caroline que estava saindo do cômodo para perguntar.
— Então garotas, sua mãe ligou e disse que não deu para enviar os vestidos, vão ter que correr para casa e se arrumarem lá.
Arregalei os olhos, mordendo a língua para conter as palavras não muito educadas que eu queria proferir.
— Inacreditável — respirei fundo.
— Talvez não tenha sido proposital — Hanna argumentou com certo receio.
Lhe fitei com sarcasmo, seria inocência dela acreditar numa coisa dessas.
Pegamos nossas coisas e nos despedimos das garotas com gratidão, mas quando entrei no carro, bati a porta com um pouco de força demais. 
— Desculpa — pedi, mesmo que mal humorada, e ela só me deu uma olhadinha que queria dizer "calma" - Eu vou perder a recepção da minha própria festa, falei para não fazerem isso.
Então Hanna começou a tagarelar sobre qualquer coisa, tentando me distrair. Ela estava animada com a festa, uma das coisas que mais amava, e grande parte da animação era pela possibilidade de encontrar um novo romance, seus olhos não perdiam nada.
Desci voando do carro quando ela parou, dando um pequeno aceno enquanto ela estacionava; foi então que notei o montante de carros em volta da residência e xinguei. Que imagem eu passaria chegando atrasada na minha própria festa e ainda não pronta? Contive a vontade de gritar e respirei fundo antes de abrir a porta, meu rosto já esquentando pela vergonha que passaria. Mas assim que a abri, não havia ninguém a vista, entretanto eu podia ouvir o barulho vindo da sala que estava de portas fechadas. Pelo menos isso. Subi as escadas e em um segundo estava no meu quarto.
O vestido estava em cima da cama como eu havia deixado, mas o de Hanna não estava lá. Antes que eu pudesse ter alguma reação, escutei atrás de mim:
— Faith, como foi o spa?
Olhei para meu pai, que naturalmente já estava pronto em seu terno cinza.
— Muito bem. Que pena que ocorreu um incidente e cheguei atrasada no meu evento. Por que tantas pessoas já estão aqui? — falei com amargura.
Ele não pareceu envergonhado, nem tentou negar.
— Pedi para que chegassem dez minutos mais cedo. O que posso dizer? Sabe como uma boa apresentação conta.
— Se eles me vissem chegando nesse estado à essa hora seria mesmo uma boa apresentação. Conversaremos sobre isso mais tarde. Agora, onde está o vestido de Hanna?
— Alguns riscos temos que correr. Ele está no andar debaixo, sua mãe cuidará dela.
Eu estava furiosa, mas perder tempo discutindo só me prejudicaria. 
— Ok. Agora se me dá licença, tenho um vestido para colocar. 
Ele saiu do quarto com a expressão tranquila e isso só me deu mais raiva. Fechei a porta e respirei fundo antes de voar pelo quarto. Me troquei com um pouco de dificuldade para que não desmanchasse o penteado e peguei a caixa de sapatos embaixo da penteadeira com minha sandália de salto preta.
Me olhei no espelho para ver se o vestido não estava do avesso e nem nada. O tecido vermelho e liso se moldava ao meu corpo e caía até meus pés com uma abertura na perna direita e um decote pequeno. Eu conseguira deixar meu cabelo intacto, portanto só faltavam os acessórios.
— Faith? — ouvi as batidas hesitantes na porta, reconhecendo a voz de Flê enquanto eu colocava os brincos prata.
— Entre, Flê — falei em meio tom para que ela pudesse ouvir.
— Oh que maravilha! — exclamou ao me ver pelo reflexo do espelho.
— São brincos magníficos não é? Papai comprou Mise en Dior. 
— Estou falando de você mesma, menina. A cada dia mais bela.
— Você é apenas gentil demais — sorri.
— Deixa de bobeira, está pronta? Posso ajudar?
— Hmmm, acho que sim. Só estou fervendo de fúria. Você sabia que ele tinha marcado mais cedo com os meus convidados? — dei uma última olhada no espelho e me voltei a ela indignada.
— Eu sabia que ele queria tudo pronto meia hora antes, apenas, mas seu pai gosta de ser sempre adiantado então não suspeitei de nada — sua expressão era de remorso, como se ela pudesse ter feito algo para impedir.
Bufei. 
— E ele quer que eu esteja sempre atrasada. Eu juro que ele ainda vai me matar de nervoso.
Flê deu uma risadinha, com um olhar compreensivo.
Era ridículo, os dois tinham algum tipo de complexo comigo. Todo bendito evento que faziam, me mantinham ocupada o suficiente para que boa parte dos convidados chegasse e eu fizesse o show de exibição na escada. Adoravam a expectativa que minha entrada dava, era como um ritual, e eu deveria estar sempre impecável para este momento. Esta era a coisa mais doente que eu conhecia, e eu implorei para que pelo menos neste dia não fizessem isso. 
— Você sabe como eles são, Faith, não se irrite — Flê intercedeu.
Grunhi e apertei as mãos em punho, tendo o estranho impulso de socar alguma coisa.
— Você sabe que isso não faz sentido. Qual o problema deles?! Eu não sou uma marionete!
Ela deu de ombros e torceu a boca.
— Não fique tão estressada agora, respire fundo, você tem uma noite para conduzir, depois pode surtar a vontade — me instruiu, segurando minha mão. 
Sentei-me na cama, tentando esvair a fúria do meu corpo a cada ciclo respiratório. Flê ficou me olhando com um sorrisinho de compaixão.
— Tudo bem — eu disse após um minuto, invocando o auto controle, e me levantei, pensando no quanto eu queria que essa noite desse certo — Esqueci alguma coisa? — perguntei, me olhando no espelho novamente e fazendo eu mesma uma análise.
De relance, vi que ela se dirigia à penteadeira, e quando me dei conta, suas mãos estavam passando o colar de brilhantes em meu pescoço.
— Se não descesse com esse colar, seu pai te enforcaria com ele.
Dei um meio sorriso. Era mais provável eu enforcá-lo com ele depois dessa.
— Você sempre salva minha vida.
— Agora vamos descer de uma vez, já deve ter gente o suficiente esperando o prato principal — ela disse após um sorriso.
— Ugh, isso é pior do que ser chamada de cereja do bolo — franzi a testa e ela riu.
— Depois de você, querida. 
Flê gentilmente abriu a porta e eu respirei fundo mais uma vez antes mesmo de pensar em me aproximar. Eu queria poder ter evitado a escadaria, era difícil me lembrar de colocar um pé na frente do outro. Mas eles estavam na sala, não me veriam até que eu chegasse lá, me lembrei.
Caminhei até a porta com a maior delicadeza que podia, ensaiando meus passos para quando chegasse a vista das pessoas. Eu nunca me acostumava com toda atenção desnecessária, o que mudava na vida deles saber o que eu estava vestindo? Queria que se centrassem nos meus quadros pelo menos essa noite, então agradeci que não estivessem ali para ver o espetáculo do meu pai. Se bem que, se eu bem o conhecia, ele já teria dado seu jeitinho, provavelmente colocara as pessoas ali na entrada quando deixou meu quarto.
— Está linda — Fleur me disse, transmitindo segurança com seus olhos calorosos.
Sorri em sua direção e expirei o ar que prendia, ansiosa para ver se os convidados estavam mesmo na sala, me poupando daquele massacre de olhares que quase me faziam tropeçar. Assim que dei um passo para fora do meu quarto vi o aglomerado de pessoas que já se atentavam a mim.
Eu iria vomitar.
Por favor, que eu não vomite.
Eu precisava sobreviver a esta noite. 






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Olá, terráqueos, já faz tempo que postei aqui, mas resolvi postar hoje novamente! Sinto muitas saudades de tudo desse blog, mas sei que a maioria das meninas se foi, e agora eu posto no anime mesmo. Mas, vamos garantir que o texto não suma, não é mesmo?
Aqui está então!