Leitoras com Swag

Hey garotas, beliebers ou não beliebers. Só estava faltando você aqui! Nesse blog, eu, Isabelle, faço IMAGINE BELIEBERS/ FANFICS. Desde o começo venho avisar que não terá partes hots nas Fics, em nenhuma. Repito, eu faço 'Imagine Belieber' não Imagine belieber Hot. A opinião da autora - Eu, Isabelle - não será mudada. Ficarei grata se vocês conversarem comigo e todas são bem vindas aqui no blog. Deixem o twitter pra eu poder seguir vocês e mais. Aqui a retardatice e a loucura é comum, então não liguem. Entrem e façam a festa.
" O amor não vem de beijos quentes. Nem de amassos apertados. Ele vem das pequenas e carinhosas atitudes."- Deixa Acontecer Naturalmente Facebook.
Lembrem-se disso. Boa leitura :)

Com amor, Isabelle.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

One Life 40

Aquela não era apenas uma ideia ruim, era uma péssima ideia, uma ideia terrível, pior, uma ideia oriunda da minha mente. E o mais apavorante, eu nem sabia se poderia denominar aquilo de ideia. Era o reflexo de um impulso prepotente mimoseado pelo florescer da noite. Por estes motivos crianças dormem cedo e o horário comercial é diurno, estou certa que também é a razão pela qual Cinderela só teve até meia noite no baile, se ultrapasse o horário provavelmente distribuiria desastres por suas mãos calejadas — quem sabe não estapearia a madrasta ali mesmo e rasgasse os vestidos das “irmãs” insolentes? A ausência da luz característica na madrugada provavelmente possui uma essência de demência que danifica o cérebro humano para que cometa todas as burradas existentes, e comicamente, enquanto estamos conscientes.
Eu tinha plena consciência daquela estupidez enquanto colocava meus pés dentro daquele lugar por livre e espontânea burrice. Podia ouvir a voz esbravejante de Hanna me xingar de todos os nomes possíveis, me mandando voltar para casa — onde ela dormia em um colchão ao lado da minha cama como um cão de guarda — e cumprir o protocolo de elaborar um plano no raiar do dia. Ela apenas não havia pensado em alguns detalhes importantes que me ocorriam enquanto ouvia seu ressono ilusoriamente despreocupado. Poderia não haver amanhã, já tínhamos sorte por poder desfrutar do final de sábado e todo o domingo aparentemente em paz. Eu sabia que o poderio da decisão sobre o tempo que eu respirava não era meu e nem o destino possuía mais essa façanha. No momento em que terceiros desejassem, estaria tudo acabado, e eu realmente odiava essa coisa de decidirem por mim. Em casa eu podia suportar rédeas curtas, mas porta a fora era bem diferente. Então por puro orgulho e anseio de livrar o fardo de todos os meus conhecidos que eu colocava em perigo, lá estava eu me espremendo pelos corpos dançantes para encontrar a morte de frente — possibilidade esta que neguei veementemente quando me foi sugerida por Hanna.
Eu não tinha certeza de que ele estava ali, apenas possuía uma forte intuição. Como deixara subentendido, aquele parecia ser o ponto de encontro de sua Companhia idiota, uma cova de leões prontos para me atacar. Em minha mente um confronto público me salvaria, só havia deixado passar o detalhe de como todos ali se afastaram quando Bieber espancou Guilherme. Aquele pensamento tardio me paralisou naquela sensação perturbadora de ter tomado uma decisão errada sem volta. Engoli em seco e respirei fundo. Eu já estava ali, agora iria até o fim.
Conferi mais uma vez o porte de um spray de pimenta dentro da minha jaqueta jeans e o celular de Hanna no bolso da minha calça preta para o caso de precisar fazer uma chamada de emergência. O kit básico para um encontro com um assassino — eu esperava não ser inútil.
Meus olhos varreram a área VIP que ele estivera da última vez e o bar, mas não encontrei nada, graças a Deus, nem mesmo Guilherme. Não lamentei tanto a possibilidade de ter sido uma perda de tempo enganar meus seguranças — afirmando que havia um carro na esquina me esperando para me levar aos meus pais que estavam convenientemente em Nova York para “resolver questões de última hora”, bem quando eu mais precisava de respostas. Caleb não compreendera meu ataque de frustração ao saber que eles não voltariam para casa. Se tivessem voltado, possivelmente eu não estaria cometendo esse erro terrível.
Como havia funcionado da última vez, eu planejava ir ao bar pedir informações, mas assim que me virei notei um detalhe importante que não notara no espaço antes, um segundo andar. Uma única escada, bloqueada por dois seguranças, no extremo esquerdo, conduzia àquela solitária e cumprida zona que separava divindades dos meros mortais, como espectadores das condutas devassas do primeiro andar. Um dos seres celestiais se apoiava no corrimão majestoso ininterrupto, projetando seu corpo para frente com ombros curvados como se pesasse sobre eles a responsabilidade de administrar aquele lugar. O rosto trazia traços profundos entalhados na seriedade que incidia os lábios em um bico concentrado e as sobrancelhas unidas. Sua postura exalava poder, como se ninguém ali pudesse medir forças com ele, informando que chamar a atenção de seus olhos vigilantes era extremamente ruim — ou bom, no caso de estar à procura de uma acompanhante. As mangas da camisa arregaçadas provavam que ele estava pronto para o trabalho, não se tratava de uma mera escultura para embelezar a decoração, embora pudesse muito bem se passar por uma. E apesar de ser insano, não senti medo quando suas pupilas dilatadas se estagnaram claramente em mim.
Involuntariamente apertei meus olhos, cruzando os braços significativamente, se ele não descesse eu subiria. Sua testa se enrugou enquanto julgava se eu seria mesmo tão doente de aparecer ali, mas não demorou a se convencer, a fisionomia passou a não demonstrar mais sentimento algum e ele se virou, apressando-se para descer as escadas.
Meu coração se desregulou rapidamente em desespero. O que eu planejava? “Quer dizer então que foi contratado para me matar? Pois bem, vim facilitar seu trabalho! ” Ou “ Você, um assassino treinado desde o berço, se acha capaz de enfrentar uma garota de estatura média, não muito forte e armada com um spray de pimenta? Pense novamente rapazinho”. A raiva que eu sentia tornava tudo muito possível e lógico em minha cabeça, por isso diz ser melhor não tomar decisões com as emoções a flor da pele, assim se pode pensar com clareza. Coisa que de fato não ocorria no momento.
Seu olhar não se desviou de mim enquanto descia os degraus um de cada vez, o rosto impassível não me dava dicas. Provavelmente era melhor eu sair correndo aos gritos enquanto podia.
Corre, Faith. Corre, Faith, Corre, Faith. CORRE, ANTA!
A voz baixa insistiu em minha cabeça ao passo que ele abria espaço na multidão para chegar a mim, mas eu estava paralisada. Não conseguia ter um medo real dele, embora soubesse nos meus ossos que deveria. Uma reação coerente apenas se apresentou quando finalmente parou na minha frente, fazendo com que eu engolisse em seco outra vez. Não tive tempo de mais, sua mão agarrou meu braço com uma força inumana, me arrastando como um cão abatido.
Então era mesmo uma ideia fundamentada em bosta.
Eu protestei incessantemente, tentando escapar das garras que ele fazia em meu braço. Nem mesmo podia ter certeza de que me ouvia, a música quase estourava meus tímpanos, agitada o suficiente para combinar com meu ritmo cardíaco. Agora a possibilidade dele me fazer mal fisicamente não parecia tão distante assim. Olhei em volta para buscar ajuda nos corpos dançantes, e era como se eu não estivesse ali. A teoria de que estaria mais segura em público era mesmo falha, pelo menos nesse meio.
Passamos pelo palco do DJ, no lado contrário a área VIP havia uma porta bem no fundo. A lembrança da segunda vez em que nos vimos me ocorreu, quando nos isolamos nos fundos da casa noturna e eu admirei seu corpo, desconhecendo que eram marcas de um predador.
Assim que abriu a porta, fui lançada para dentro, cambaleando pelo cômodo para que não caísse de cara no chão, mais insegura ainda por estar escuro. Pude distinguir o som da fechadura batendo e tremi involuntariamente, me assustando também quando a luz azul se acendeu, não clareava o suficiente — o que deveria ser intencional —, e eu pude ver apenas uma mesa redonda de centro e um sofá longo preto de couro.
Não me preparei para encará-lo, virando bruscamente para trás. Se ele planejava me atacar, seria encarando meus olhos. Sua fisionomia estava transtornada, um pouco mais do que quando o encontrei na segunda-feira.
— Qual o seu problema, Evans? Tem um instinto suicida? — questionou gesticulando com as mãos, furioso demais para usar somente palavras.
Tentei reunir toda a bravura que possuía quando decidi confrontá-lo, entretanto, não consegui ao menos piscar os olhos, como uma presa inútil fixada nos olhos de seu predador.
Ele esperou uma resposta, e pareceu mais indignado por não a obter, passando a mão com força pelo queixo e desviando a cabeça por um momento. Sua conclusão fez com que agarrasse meus braços e me empurrasse contra a parede, me deixando encurralada, as mãos apoiadas ao lado do meu corpo e o rosto bem em frente ao meu. Minha respiração entalou na garganta.
— Por que você seria tão burra para vir até aqui? — insistiu, enfatizando cada palavra como se eu tivesse retardo mental.
Eu já tinha certeza de que meu cérebro era defeituoso, mas não sabia que era tão grande para me paralisar numa situação daquelas. No fim, minha tese de como reagiria diante ao perigo estava terrivelmente correta.
A frustração discretamente preencheu seus olhos e sua voz ficou mais baixa e grossa.
— Está com medo de mim?
Era a quota de insultos, finalmente consegui tirar o choque que pesava sobre meu corpo e dei um sorriso sarcástico.
— Não. Sempre quis ter uma tatuagem em minha homenagem em seu corpo — minha voz, contudo, estava levemente fraca.
Ele pareceu aliviado por eu não ter perdido a língua, mas não recuou.
— Você já tem — revelou sério.
Antes que pudesse deter, uma parte da minha mente imaginou qual seria.
— Então quer dizer que já estou morta pra você — rebati com uma expressão satisfeita, ridicularizando o quanto dizer aquilo me doeu.
Eu não achava ser possível, mas ele fechou mais a cara.
— Você não sabe nada do que eu sinto — murmurou com rispidez.
Empurrei seu peito para que se afastasse de mim e assim o fez, me dando espaço. Meu corpo até então rígido relaxou um pouco, me incentivando a desafiá-lo.
— E como poderia saber, Justin Bieber? Se é que esse é seu real nome.
Ele ignorou o comentário.
— Você não entendeu da primeira vez que esse não é o lugar ideal para se estar? Pensei que seria sensata para ficar longe de mim por mais tempo. Fugiu de mim por uma razão, se lembra?
Por toda a hipocrisia que vivemos, eu esperava que pelo menos se defendesse, mas já deveria ter entendido que sua melhor defesa era o ataque.
— Isso é uma ameaça? — perguntei sem rodeios, deixando o corpo mais ereto para aparentar uma autoridade que eu não tinha.
— Faith, eu sou uma ameaça.
Cruzei os braços, protegendo meu peito como se pudesse privar meu coração do mal que viria em seguida.
— Já entendi isso, vim aqui para entender algumas coisas mais. Desde quando você foi contratado para me matar?
Ele desviou os olhos, demonstrando ao menos um pouco de pudor. 
— Acho melhor você se sentar — sua voz finalmente amenizou, embora permanecesse o toque sombrio.
Finquei os pés no chão sem dizer palavra alguma. Ele levantou a fronte, compreendendo.
— Esse realmente não é um lugar seguro pra você, poderíamos...
— Não — interrompi — Não vou sair daqui até você me dizer.
Justin respirou fundo e colocou as mãos nos bolsos das calças, desistindo.
— Era isso o que eu queria te contar ontem antes daquele babaca aparecer — ele mordeu a boca por dentro, relutante, esperando que eu me acostumasse com a primeira informação. Sinceramente, no momento não me interessava se ele me contaria no dia anterior ou dali mil anos. Meu rosto transmitiu a mensagem e ele assentiu, jogando tudo de uma vez enquanto os olhos me sondavam — A verdade é que.... Esse é o motivo pelo qual eu estive na sua festa. Uma semana antes fomos contratados e... Essa foi a oportunidade que encontrei para me aproximar de você. Eu já andava observando, sabia de algumas coisas, mas precisava de mais.
Desde o início éramos uma mentira? A pergunta reverberou pelos meus tecidos.
Seu silêncio só poderia significar que esperava uma resposta minha. Temi que escutasse meu coração se quebrando em mil pedaços e o mantive falando.
— E por que não fez de uma vez? Como com o homem do livro? Por que precisava se aproximar tanto? — o zumbido em meus ouvidos impedia que eu me ouvisse. Torci para que fosse clara o suficiente.
— Era um jogo. O pedido foi específico, a ordem primordial não é te matar, é ameaçar seu pai, você era apenas um meio de chegar a ele — sua fala quase se interrompeu quando observou meus olhos se arregalarem, perplexos, mas continuou — Precisávamos te ter onde queríamos e desesperá-lo o suficiente para que cedesse, caso contrário... — ele se deteve, deixando as consequências nas entrelinhas.
O ar passou entrecortado na minha garganta e eu travei o maxilar para conter qualquer jorro de emoção. Um jogo? Era isso que eu significava pra ele? Apenas um meio de ferir meu pai? Ao menos as ameaças condiziam com o modo de Bryan agir ultimamente, me senti pior por estar sendo tão incompreensiva com ele.
Fingi não estar desmoronando e prossegui:
— O que querem dele? E quem é que os contratou?
Ele passou a língua sobre a boca antes de responder.
— Requerem que abandone a empresa, abrindo mão de todos os seus direitos.
Balancei a cabeça, quase rindo.
— Isso tudo se resume ao dinheiro?
— Basicamente todas as coisas no mundo são — banalizou.
Eu percebia.
— Bryan não vai desistir de uma coisa que ele batalhou para conseguir — retruquei, desejando com toda a minha força poder aborrecê-lo de alguma forma para que pagasse o que estava fazendo comigo.
— Mas deveria. Você não parece ter compreendido o quanto a ameaça é real. O incêndio no seu quarto não foi acidental.
Cogitar essa possibilidade era uma coisa bem diferente de vê-la tornar-se real. Eu o convidava para minha casa e ele colocava fogo nas minhas coisas?! Não sabia por quanto tempo conseguiria manter as aparências de indiferença.
— Você? — carreguei a pergunta de desprezo, quase cuspindo a palavra.
Ele assentiu devagar, hesitante.
— E não era para ter saído viva daquela. Você é o maldito prazo que tenho que cumprir. Bryan não quer ceder, precisamos fazê-lo entender que não é brincadeira. Eu insisti que podemos enlouquecê-lo apenas com essas chantagens, mas a firma tem pressa. Os boatos de ineficiência se espalham rápido, e todos estão interessados em levar o prêmio. Por isso foram atrás de você na segunda.
Não percebi quando fechei os olhos como se quando os abrisse tudo aquilo fosse uma mentira. Quando abri minhas pálpebras nada mudara, Justin permanecia a minha frente, mantendo com esforço a seriedade superficial.
— Quem os contratou? — indaguei outra vez, direcionando minha fúria para essa incógnita.
— Eu não sei.
Bufei.
— Me diz de uma vez — engrossei a voz, perdendo o controle conforme meu corpo tremia.
— Eu não sei — insistiu — Não cuido de todos os contratos diretamente, às vezes algum pedido me é designado e não recebo o nome do contratante. Venho tentando descobrir, mas eles estão perdendo a confiança em mim.
Neguei repetidas vezes com nervosismo. As rédeas foram puxadas da minha mão.
— Então por que não me deixou morrer no fogo? Por que não acaba com isso de uma vez?! Você é um sádico idiota que quer ficar brincando com os meus sentimentos antes de se dar por satisfeito! — acusei, fechando as mãos em punho com desejo de socá-lo.
Justin negou com a cabeça discretamente.
— Você não sabe do que está falando.
Uma risada estranha saiu da minha garganta.
— Eu nunca sei de nada, não é? Sou a ingênua iludida jogada aos pés de um babaca sem coração!
— Você não sabe do que está falando! — repetiu, elevando a voz e me encarando perigosamente.
— Claro! Sou um pedaço de lixo que você usa e abusa quando quer! Uma demente por não enxergar toda a verdade que estava bem embaixo do meu nariz!
Eu sabia que o estava tirando do sério, mas não previ seu próximo movimento. Em segundos a palma de sua mão direita se chocava contra a parede, bem ao lado da minha cabeça. Eu estremeci. 
— Você quer toda a verdade? Acha que consegue entender por que simplesmente não consegui te deixar queimando naquele fogo?! Por que não é prazeroso te imaginar sofrendo?! Por que odeio quando você chora e faria qualquer coisa para que parasse?! Consegue entender por que seu costume estúpido de nomear estrelas e a mania imbecil de se preocupar com todo mundo me cativa?! Então me explica!
Não ousei me mover e por um instante só se ouvia nossa respiração acelerada. Eu absorvi suas palavras uma a uma, tentando entender qual era a tática do jogo dessa vez. Ele me deu as costas, passando as mãos pelo rosto com exaustão.
— Eu tô cansado disso, Faith. Cansado da minha arrogância em te querer, cansado de ficar no meio de tudo, cansado de me lembrar o tempo todo de você e desejar no fundo do meu ser que tudo pudesse ser diferente para que eu ficasse com você — seu corpo deu meia volta para que seus olhos frustrados caíssem em meu rosto — O que porra você fez comigo?
Ele não estava se declarando pra mim no mesmo momento que confessava ter se aproximado apenas para me matar. Não estava.
Dei uma risada histérica.
— E você acha que eu vou acreditar que realmente se importa comigo? — eu disse com um ironia, apertando minhas mãos ao redor dos meus braços. Eu sabia que seria estupidez acreditar nele de novo.
Sua boca se arqueou pra baixo enquanto ele negava rapidamente.
— Não espero que acredite em mim. Você pediu a verdade, e é isso que estou te dando — arguiu ele, dando de ombros.
Dei um sorriso falso, cansada estava eu por ser jogada emocionalmente de um lado para o outro sem nenhum aviso prévio. Ele travou o maxilar, mais irritado com meu gesto de indiferença do que estaria com minhas palavras. Eu podia fazer melhor do que isso, aproveitando toda a energia que se debatia dentro de mim.
— Então é minha vez de te dar um presente — forjei uma voz agradável, me aproximando dele que imediatamente ficou desconfiado. O movimento que fiz foi tão inesperado que não deu tempo que armasse sua defesa. Levantei meu joelho abruptamente com entusiasmo, acertando suas partes baixas. Imediatamente ele soltou um gemido abafado, curvando o corpo de dor — Isso é por ter tentando me matar — justifiquei e empenhei o segundo ataque que aprendera no dia anterior com Will, dobrando o braço e atingindo meu cotovelo no meio do seu peito, ouvindo um arfar satisfatório — E isso é por ameaçar toda a minha família.
Não, eu não me esquecera que recentemente estava costurando seu peito por ter levado um tiro, na verdade esperava fervorosamente que o golpe fizesse com que se abrisse e ele tivesse uma hemorragia.
Não consegui encenar a expressão cortês por muito mais, embora fosse deleitante desfrutar de sua fisionomia de dor. Joguei um olhar frio e desprezível em sua direção antes de dar a volta nele. Eu já tinha muito mais do que queria, estava pronta para ir embora.
Abri a porta, e ele expeliu uma lamúria para que eu esperasse.
— Só para constar, eu estava errada, você é sim mau, e não vale a pena nem meus mínimos segundos — proferi para suas costas, batendo a porta atrás de mim.
De volta aos seres insensíveis e individualistas, preocupados apenas com quantas bocas conseguiriam beijar na noite, marchei determinada para a saída da casa. Consegui me irritar a cada passo dado, aquela musica ensurdecedora, os toques inevitáveis de estranhos que quase me jogavam de um lado para o outro enquanto dançavam e aquele cheiro detestável de suor e álcool.  Isso me inspirou a deixar a mão fechada, pronta para dar um soco no primeiro que pensasse em entrar no meu caminho. Para não provocar o destino, não ousei olhar para o palco da Companhia hipócrita, eu não queria lidar com mais nenhum deles. 
Felizmente, empurrei a porta preta desimpedida e saí na rua como se soubesse o que estava fazendo, me centrando no meu próximo objetivo, chegar em casa. Eu só queria chegar em casa. O vento batia gélido em meu rosto, cruel como deveria ser, me lembrando que a única coisa que eu ganharia desse mundo seria dor lancinante constante. Se o mundo recusou Jesus, por que eu esperava que comigo, mero pó, fosse diferente? 
E mesmo sabendo que minha aflição não era extraordinária, me sufocava. Eu deveria confessar que estava em parte aliviada por não ser a responsável de toda a merda que estava acontecendo. Não era culpa minha ansiarem a empresa do meu pai, como Justin esclarecera muito bem, eu não passava de um detalhe naquela equação, facilmente descartada. Apenas me chateava que Bryan não desse conhecimento da situação para mim. Eu não deveria saber que corria perigo? Se soubesse desde o início, mudaria alguma coisa? 
O pensamento apenas me serviu como um incentivo para contar a Caleb sobre nossa mais nova ruína. Eu só não queria dizer para minha família que eu fora a porta de entrada para um assassino, já era difícil o bastante pensar naquilo sozinha. Garoto idiota dos olhos mel aproveitador. Ele aprenderia que meus sentimentos não eram brinquedos de seu parque para parar de tentar me confundir com palavras emotivas patéticas. 
Fiz sinal assim que o primeiro táxi passou na rua, notando que eu quase estava me acostumando com aquele serviço do tanto que utilizara nos últimos meses. O taxista não tinha carisma, então mal olhou para meu rosto, o que foi uma benção, eu não queria explicar para um desconhecido o motivo de estar afundando em uma tristeza profunda que cada vez me puxava mais para baixo.
O tempo passou indistinto, e num estalar de dedos eu já estava em casa. Paguei e desci, tendo noção de que acolhia o torpor de boa vontade. Eu estava cansada de lamentar meus infortúnios. Assim, apenas me lembrei de ter que dar uma desculpa para Fred e Walter quando estava parada na frente deles, que me olhavam com um ponto de interrogação acima de suas cabeças. Tecnicamente, eu deveria estar em Nova York no momento.
— Ao que parece não serei mais necessária lá — justifiquei, sem me preocupar em parecer verdadeira.
Eles abriram espaço, confusos, enquanto Walter abria a porta. Eu já estava entrando quando me virei pra eles.
— Ah, se virem aquele idiota de cabelo castanho chamado Justin Bieber por aqui,  imediatamente chamem a polícia, eu não quero vê-lo nem pintado de ouro.
Suas expressões de espanto com certeza escondiam o fato de acharem que eu exagerava por ter uma briga com o namorado, um ataque típico de uma garota de classe alta. Me lembrei de maldizer Bieber por aquela dádiva de duvidar das pessoas e suas superfícies. Seria pra sempre assim?
Entrei de fininho em meu quarto, Hanna estava jogada com a barriga para baixo, e por mais que soubesse que negaria até a morte, roncando. Joguei minha jaqueta pela cama e deitei nela mesmo de calça e sapatos, sentindo que aquele sim era o meu lugar, isolada de tudo e todos, ninguém poderia me tocar ou me ferir se eu ficasse no meu canto.
Meu cérebro revirou todas as últimas lembranças, comparando as novas informações com as antigas, mais uma vez organizando todas as gavetas, pela milésima vez declarando calamidade sentimental. Eu queria poder aprisionar tudo aquilo e jogar dentro de um cofre no meio do oceano, me livrando pra sempre de coisas que eu nem ao menos pedira para ter.
Eu estava estática olhando para o teto quando meus neurônios chegaram a uma conclusão. Eu não poderia me livrar de memórias, mas sim da presença física do grande causador de toda aquela bagunça. No dia seguinte, iria à policia.  


quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

One Life 39

— Você sabe que não tá fazendo sentido algum né? — Hanna andava de um lado para o outro quase desgastando o piso — Tem certeza que não está de ressaca? Justin queria te amolecer, então ofereceu bebida, você por estar nervosa aceitou, ficou muito bêbada e perdoou ele, depois acordou toda bagunçada e ficou com remorso, então seu cérebro inventou toda uma história para compensar! O manipulador e atrativo Justin Bieber com terríveis planos para te seduzir.
Sentada como estava com os cotovelos apoiados nas coxas, esfreguei minhas têmporas, sentindo que minha cabeça explodiria.
— Sua teoria é falha, eu não bebo e não sou tão criativa assim — retruquei com a voz cansada.
Por mais que fosse irritante, tentar convencer Hanna de que era verdade estava estimulando minha racionalidade. Não havia como negar, os fatos confrontavam minha vontade, sem espaço algum para as ilusões do meu coração, órgão idiota que me levara até ali, diluída em fracasso no meio de tanta gente. Minha sorte era todos estarem tão apressados, correndo contra o relógio para chegarem ao seu destino. Eu não fazia ideia de qual era o meu, mas era claro que também estava de passagem.
Uma cena em especial me chamou a atenção, paralela ao cenário corriqueiro da estação, embora tão pertencente ao espaço que servia como um de seus alicerces. A garota de estatura média com o cabelo afro trabalhado nos cachos enormes procurava algum refúgio nos braços franzinos do menino com franja escura que lhe cobria os olhos, misturando-se com as lagrimas bruscas que escorriam por seu rosto.
Me senti constrangida de estar presenciando a cena tão íntima, mas não conseguia parar de olhar, imaginando qual deles estava indo embora e por que. O modo como se agarravam um ao outro era prova de que ainda existia sentimento. Ou talvez ele pudesse estar mentindo sobre isso e muitas outras coisas. Se fosse, ela saberia reconhecer? E se soubesse, conseguiria simplesmente manda-lo embora excluindo todas as vivências que experimentaram juntos? Uma mentira poderia deslegitimar tudo? Na minha realidade, emaranhada como estava ao restante, podia. Ela voltava pelos tecidos da minha mente, corrompendo cada gesto, cada palavra, me retratando como a pessoa mais ingênua existente.
Então os invejei, mesmo que não soubesse o que estavam vivendo, não poderia ser tão ruim quanto estar na minha pele. Se fosse, ela não estaria com os olhos úmidos de admiração presos a ele. Estaria?
— Não surte agora! — Hanna chacoalhou meus ombros, olhando em meus olhos com a inquietação de quem não era ouvida. Seria cômica sua contradição se não fosse trágica — Temos muito o que pensar. Por um absurdo da vida isso é mesmo verdade ou você realmente acredita nisso.
Ela estava assustada e eu queria conseguir acalmá-la, mas não conseguia engolir o desespero entalado em minha própria garganta.
— É verdade Hanna Marin! Eu não tenho nenhum motivo para inventar uma coisa dessas, e não estou delirando para encontrar mais razões que me afastem dele. Já te disse que descobri sobre ele ser um assassino na segunda, a novidade é apenas essa demanda específica de acabar com a minha vida mais do que emocionalmente — falei tudo de uma vez, destruindo todo o meu avanço de autocontrole.
Hanna se agachou na minha frente para que pudesse me olhar nos olhos, semicerrando os seus.
— Talvez seja melhor pra você existir uma alternativa que não envolva me esconder tais coisas, principalmente de que o cara com o qual estou saindo apenas está comigo para te atingir — seu tom de voz ameaçado transparecia o quanto estava chateada.
E mais essa.
Choraminguei, jogando a cabeça para trás com as mãos no pescoço.
— Eu sei que devia ter te contado, eu só não sabia e muito menos sei agora como lidar com isso! Eu já estava arrumando um jeito de te proteger dele, Justin já havia dado um aviso ontem que me arrumou tempo para encontrar a melhor forma de agir.
Retratá-lo como o bom moço deixou um gosto amargo na minha boca. Não parecia mais certo.
Ela suspirou, colocando a mão em cima da minha.
— Essa parte também não faz sentido. Por que ele nos protegeria do Guilherme se quer tanto assim te matar?
O desvio imperceptível de assunto era sinal de que talvez ela me perdoasse depois que conseguisse me acalmar. Para dar prioridade para os meus sentimentos, eu com certeza deveria estar visivelmente nadando em merda.
Olhei pra ela com raiva, embora não fosse a responsável pelo sentimento.
— Manipulação. Pode ter sido tudo uma encenação para que ele se passasse por bom samaritano e me tivesse onde queria — o raciocínio veio rápido, estimulado pela fúria bombardeando minhas veias — Devida a aparição de Guilherme, ele foi “obrigado” a estourar os pontos para me ver, e assim eu fui pra casa dele. E também aquela noite na casa noturna ele claramente disse para um dos idiotas não mexerem com seus assuntos, por isso me defendeu deles, queria o monopólio da minha morte para si mesmo.
Seu rosto se retraiu de pena, sabia que fazia sentido, mas igual a mim não queria que fizesse. De qualquer forma, eu não gostava de seu olhar de piedade, significava que eu falhara em alguma coisa, no caso, em usar meu cérebro. Deveria saber que seus segredos aparentemente bobos dos primeiros encontros não levariam a boa coisa.
Ela mordeu a boca, decidindo se deveria dizer o que estava pensando.
— Faith, esse não é o único problema. Você disse que eles são contratados para matar, então com certeza alguém está pagando para que o façam. Tem alguma ideia de quem poderia ser? — sua voz estava baixa e hesitante, detestando tomar a responsabilidade de me contar uma coisa tão terrível.
Com todo o meu drama sentimental não havia parado para pensar nisso, e um gelo percorreu minha espinha ao cogitar a ideia.
— Não faço ideia — neguei repetidas vezes, arranhando meu pescoço acidentalmente enquanto grunhia.
O ar foi expelido com um ruído por seu nariz, como se desistisse. Contrariando, um sorriso de lado exalando confiança e consolo apareceu em seu rosto.
— Sei que vamos pensar em alguma coisa — incentivou, então distorceu a expressão em angústia — Por favor, para de chorar que isso atrapalha meu raciocínio.
Passei as costas das mãos com desleixo pelo rosto, aborrecida por ela me lembrar do fato. Ultimamente era o que eu mais fazia, então pensei que ignorar pudesse impedir a continuidade.
— O outro passo talvez possa ser.… procurar a polícia — sugeriu devagar, analisando minha reação.
Assim que concluiu eu tive a resposta.
— Não — decidi firme, quase como reflexo.
Não era uma decisão plausível na situação e todo o seu rosto fez questão de me lembrar disso, mas não quis me questionar com palavras.
— Ou... — seus olhos se apertaram, indicando que não era agradável. Pensei que me aconselharia a um suicídio de uma vez — Poderíamos falar com ele.
Meu palpite era bem melhor, o olhar que lhe direcionei deixava isso claro.
Ela levantou as mãos em rendição.
— Não podemos ficar paradas esperando eles chegarem Faith. E pelo que me consta, eles já possuem os meios de conseguir, sabem de pessoas para usarem contra você, conhecem sua vida e cada detalhe de sua casa. Nós temos que agir primeiro.
Tentei não ficar com raiva dela, não era sua culpa minha cabeça desejar rejeitar o fato óbvio e me conduzir através do arco íris para enfim encontrar a paz do Senhor.
— E você acha que falar com um assassino que mentiu para mim desde o início fará alguma diferença? — exagerei no sarcasmo, plantando até mesmo um sorriso — Com certeza é uma ótima ideia.
Ela respirou fundo, tentando não sair do controle e iniciar uma discussão. Duas pessoas temperamentais não era uma combinação muito inteligente às vezes. Num geral, eu era a mais paciente, mas naquele momento não poderia exigir qualquer coisa do caos em meu espírito.
— Ok. Você acha mesmo que todos os momentos com ele foram uma mentira? Sabemos que não é ingênua assim, deve ter alguma palavra, olhar, qualquer coisa que tiveram para te confrontar agora. Você passou muito mais tempo com ele do que comigo — sua acusação final fora calculada para estar ali e dar mais credibilidade aos dizeres.
Não adiantou.
— Pois é, eu sou tão estúpida assim mesmo. Agora vamos para os argumentos plausíveis para eu falar com ele.
Sua paciência se esticou na minha frente, eu estava ampliando seus limites. Ela deu de ombros.
— De qualquer jeito você tem que falar com ele. Eu acho que deve ter pelo menos alguma vez que não quis fazer isso... — ela captou minha expressão, então mudou de estratégia — Talvez possa fazê-lo contar quem o contratou e por que. É nossa melhor chance. Você não pode fugir, e sabemos que se alguém for... fazer isso, será ele. Ele não quer que mais ninguém o faça. Também não me esqueci de que ele te salvou do fogo aquele dia no brunch.
Era verdade. Entretanto, a causa daquele incêndio era tão estranha que não duvidaria se ele mesmo tivesse plantado aquela situação para me tirar depois e ganhar mais alguns pontos, conquistando a gratidão dos Evans além do meu coração.
Fugindo da dor que o pensamento resultara, me atentei ao fato de ser logo após o incidente o contrato de Bryan com nossa segurança particular. Nem mesmo a mídia conseguira compreender aquilo e fomos taxados de pretensiosos. Meu pai saberia da ameaça? Por isso andava tão aflito? Era ele que estava ao meu lado no topo do quadro investigativo.
— Não posso pensar nisso agora. Só quero poder sair daqui — joguei meus braços nas minhas pernas e os entrelacei ali, escondendo meu rosto no espaço entre ele.
Péssimo dia para ser Faith Evans.
Senti a mão de Hanna em meu cabelo.
— Ao menos se livrou de um babaca. Imagina se estivessem casados e você pegasse seu filho de dois anos brincando com uma granada da bolsa do papai?
Eu quase ri, mas o setor de humor não pode ultrapassar a destruição emocional.
— Vamos achar uma saída, Faith. Nunca vi algo que você não pudesse resolver, assim como eu. Ou seja, juntas nós somos uma dupla melhor do que Chuck Norris e Jack Chan.
Dei um sorrisinho mesmo que ela não pudesse ver. Quando me endireitei só para deitar em seu colo, já havia desaparecido. Era o segundo consolo do dia na mesma forma, mas tão discrepantes.
— Eu sinto muito por Guilherme. Você realmente gostava dele?
Ela bufou, abanando a mão exageradamente.
— Você sabe como sou para homens, é uma coisa instantânea, o prazo de uso dele estava mesmo acabando.
Espremi os lábios e balancei a cabeça com reprovação, contendo um sorriso. Hanna riu, feliz por cumprir o objetivo de me distrair por um segundo.
Eu odiava fazer isso com ela, não era justo enfiá-la também nessa situação a ponto de corromper até mesmo um de seus relacionamentos. Eu sabia que não era da forma que ela relatava, Hanna se importava até demais para querer brincar com o coração de alguém por qualquer período de tempo, por isso terminava tão rapidamente. Ela conseguia se apaixonar numa velocidade inumana, e o mesmo para perder o interesse, mas era honesta o suficiente para não querer iludir alguém. E assim só me restava me importar com esse ser humano impulsivo e cuidar dela como se fosse a mim mesma, eu a amava como uma parte de mim, e talvez isso fosse perigoso. Como eu estava aprendendo, amar era perigoso. Poderia Hanna também me decepcionar dessa forma? Por uma causalidade ela podia ser uma vampira sedenta pelo meu sangue.
Na verdade, eu era extremamente grata por sua presença insistente em minha vida, por mais louca que fosse. Ela respeitou meu espaço, esperando num abraço que eu estivesse pronta para sair daquele lugar, reunindo cada resquício de coragem que pudesse haver em meu sistema. Aquela estação tão estranha para mim era o mais perto que eu teria de um porto-seguro.
Cheguei em casa batendo a porta, não era algo que eu pudesse controlar. Passei direto por Flê, ela também podia estar em perigo por minha causa, eu não conseguiria lhe olhar nos olhos e desejar um “bom dia” quando eu sabia que não era. Hanna me seguiu e eu sabia que havia trocado um olhar de desculpas com minha quase-mãe.
Bati repetidas vezes na porta de Caleb embora Hanna resmungasse alguma coisa sobre eu tratar da minha aparência primeiro.
Sua expressão de espanto por minha insistência estava mal-humorada.
— Calma aí... Faith? — ele estava sem camisa, o cabelo grudando no suor de seu rosto e pescoço reforçava a ideia de que estava malhando, dando sentido para a música alta de Martin Garrix um pouco mais irritante naquele dia do que o costume.
— Onde está nosso pai? — despejei as palavras, batucando no batente da porta num tique irreprimível.
Ele olhou para trás de mim, procurando alguma explicação em Hanna.
— Oi Hanna....
— Não temos tempo para isso, fala de uma vez — interrompi, prestes a voar em sua garganta, mesmo sabendo ser uma reação exagerada. Meus nervos estavam a flor da pele.
Suas mãos se levantaram em rendição, embora as sobrancelhas estivessem franzidas.
— Foi resolver alguma coisa na empresa, disse que voltaria para o almoço. A mãe foi junto também. Daqui a pouco estão aqui — ele analisava meu rosto enquanto falava, então perguntou — Você andou bebendo?
Revirei os olhos para aquela besteira e lhe dei as costas.
— Obrigada, Caleb.
Entrei no meu quarto e escutei os passos apressados de Hanna para me acompanhar. Ela fechou a porta.
— Caleb pensa que estou te levando para o mau caminho — comentou com humor.
Me joguei de costas na minha cama, me sentindo mais cansada do que pensava ser possível para alguém que acordara há pouco.
Apenas percebi que meus olhos estavam fechados quando vi imagens dançantes de várias formas que eu poderia morrer.
— Hm... Não deveríamos estar arquitetando planos? Eu já não gostei da ideia de voltarmos para cá sem elaborar alguma coisa.
Ignorei sua pergunta para tirar aquilo que estava me corroendo no peito. Me sentei e olhei pra ela com receio.
— Me perdoa por te colocar nessa? Se eu soubesse que algum dia te faria mal...
Ela fez uma careta, colocando as mãos na cintura.
— Não comece com essas bobagens, ambas sabemos que sempre gostei de um filme de ação — brincou.
Forcei um sorriso de lado.
— Está faltando o homem que protege a mocinha, nos filmes ele não quer matar a pessoa com a qual se relaciona.
Han bufou, abanando a mão.
— Século vinte e um, meu bem, aqui não tem nenhuma mocinha, nos defendemos sozinhas — discordou, acrescentando depois — E já viu Sr. e Sra. Smith? Ambos querem se matar.
— Mas ela também sabe matar. E não ouse comparar aquele pedaço de ser humano com o Brad Pitt — avisei ameaçadoramente.
Ela concordou com a cabeça, pegando meu braço e me puxando da cama.
— Pois bem, vá se higienizar que já sei um plano, vamos aprimorar a defesa pessoal com Willian e Caleb enquanto pensamos em outro plano mais eficaz.
Era bem utópica a ideia de que eu podia escapar de uma empresa de assassinos tradicional com um dia de defesa pessoal. Desejei com todas as minhas forças ter batido o pé com Eleanor para que me deixasse continuar nas aulas de Muay Thai.
Nunca tomei um banho tão desleixado como aquele, minha cabeça estava tão ocupada com assuntos mais importantes do que passar shampoo e condicionador que só me lembrei de usar o sabonete. Meu cabelo estava pingando no meu moletom de Harvard quando saí do banheiro, talvez pior do que quando entrei.
Hanna estava entrando no quarto com os dois professores improvisados e me olhou de cima a baixo com o julgamento afiado. Ela deu um sorriso coringa antes de cochichar no meu ouvido.
— Você não precisa mostrar pra ninguém que está na fossa, precisa parecer perigosa.
Meu olhar serio veio acompanhado das palavras:
— Hoje não é dia para lição de moda.
Ela não concordou, mas pelo menos não retrucou. Era uma coisa a menos para eu me preocupar, já que ainda tinha o olhar desgostoso de Will. Tentei dar um sorriso de desculpas enquanto acenava com a mão.
— Oi Will.
Ele estava com os braços cruzados e respirou fundo para conter a língua, não queria me entregar ao meu irmão. De qualquer forma, Caleb já analisava a situação e formulava as teorias do que eu aprontara dessa vez, baseando-se em sua primeira constatação de quando fui ao seu quarto.
— Ok, posso saber qual o motivo do interesse repentino que exige a presença de nós dois pra essa aula? — Caleb quis saber.
— Não pensamos em nada melhor para fazer — Hanna murmurou com um sorrisinho angelical. Não era mentira.
Eles se entreolharam, analisaram nossas expressões ingênuas, então foram ao trabalho com um dar de ombros. Por conveniência, Willian ficou responsável por me ajudar, era sorte seu porte físico ser de Hulk pelo fato de eu estar imaginando a cara do Justin na sua como incentivo. Com a mesma ferocidade dos meus movimentos, os pensamentos trabalhavam em minha cabeça.
Para quem eu deveria contar? Quem podia me ajudar? Por que eu não confiava na polícia? Deveria avisar as pessoas a minha volta para que se afastassem por eu ter um alvo nas costas? Isso não faria com que se aproximassem mais já que se importavam? Aquela náusea não deixava meu estômago.
Sequei as mãos mais uma vez na calça, tomando ar.
— Faith, tem certeza de que está bem? — Willian perguntou outra vez, a testa vincada de preocupação.
Devia ser essencial contar ao seu segurança que um assassino tinha total acesso a você.
Era isso, precisávamos, mudar de casa!
— Faith — ele insistiu, os olhos atentos em mim.
Não havia percebido que ainda não o respondera e tentei mover a cabeça para uma resposta afirmativa. Não obtive sucesso. Me desesperei sem compreender o que estava acontecendo quando tive uma sensação pior de estar sendo desligada do mundo, puxada lentamente do meu próprio corpo. Percebi que ia cair, e a única coisa que pude fazer foi torcer pra que Willian me segurasse a tempo.

Quando consegui abrir os olhos outra vez foi completamente desesperador. Meu coração foi parar na boca por não saber onde eu estava, como havia chegado ali e por que.
— Tá tudo bem. Você só desmaiou.
Relacionei a voz à Hanna apenas quando a encontrei sentada no pé da cama, a mão tocando minha canela para me tranquilizar.
Apoiei as mãos na cama para me erguer e sentei, ainda confusa, tentando puxar na minha mente os episódios que me fugiam.
— Como se sente? Deixou todo mundo preocupado — ela simulou uma bronca.
— Com sede — respondi e ela deu uma risadinha, apontando para a cômoda ao lado da minha cama onde havia um copo de água.
— Flê que deixou aqui, Willian preferiu esperar lá fora para não te sufocar e seu irmão está ligando para seus pais e um médico para vir aqui. Mas acho que ambas sabemos o motivo, não? — seu olhar ficou triste — Eu já tinha lido em algum lugar que emoções muito fortes causam desmaios, mas não sabia que era verdade.
— Não quero um médico.
Demorei ainda alguns segundos para entender de qual era a causa que ela falava, e assim que recuperei tudo o que fugia, preferi permanecer às cegas.
Ela assentiu, compreensiva.
— Wren está aí, está lá fora com Caleb. Ele veio te ver, levou um susto quando dissemos que estava desmaiada. Vou falar pra ele entrar.
Pelo que eu sabia, era a primeira vez que se viam após o término, era compreensível que as coisas ainda estivessem estranhas.
— Não, não contei a ninguém sobre o que descobrimos hoje, e sim, me sinto mal perto de Wren, por isso estou vazando — respondeu antes mesmo que eu pensasse em perguntar — Não se preocupe, estarei aqui fora, qualquer coisa dá um grito, vou tentar convencer seu irmão a cancelar o médico.
Ela piscou e em um instante já estava fora do quarto. Eu sabia que sua pressa era por causa de Wren. Quanto mais rápido ele entrasse, mas rápido saía para bolarmos nos planos.
Eu estava colocando o copo de volta na cômoda quando ele bateu na porta, dando uma espiada em seguida.
— É aqui que se encontra uma enferma em seu leito de morte? — perguntou bem humorado.
Mal sabia o quanto chegava perto da verdade.
Era incrível que apenas o sorriso dele conseguisse transmitir tanta paz.
Balancei a cabeça em reprovação.
— Entra, idiota.
Ele riu e obedeceu a ordem, andando desajeitadamente pelo quarto, não sem seu exame facial intacto. Wren segurava uma caixa branca nas mãos, o que tornou meu sorriso mais verdadeiro. Em meio a desgraça os meros detalhes fazem diferença.
Ele captou meu olhar e pareceu satisfeito pelo que viu.
— Era minha vez de trazer comida — relembrou, se referindo a nossa escala alimentar durante nossas visitas nos últimos dias — Com licença — pediu antes que se sentasse ao meu lado.
Cruzei as pernas feito índio em cima da cama e abri espaço pra ele, pegando a caixa que me estendia.
Não demorei a abrir, quase dando pulinhos ao ver fileiras de cupcakes de chocolate com um ou outro espaço vazio. Eu gostava muito de comer quando estava nervosa.
— Fui assaltado lá fora — explicou-se, se desculpando.
— Você está salvando minha vida — agradeci, pegando um e dando a primeira mordida concomitantemente.
Ele deu seu sorriso Wren e me imitou. Nossa amizade era simples e leve, mas numa situação extraordinária dessas, não me surpreendeu quando buscou o assunto.
— Então, não foi me ver essa semana, huh? — ele disse mais para uma brincadeira do que uma cobrança.
O olhei com um pedido de desculpas.
— Semana difícil — justifiquei, esperando que não me obrigasse a contar detalhes.
Ele assentiu, olhando para o seu cupcake.
— Você sabe que eu entendi do que se trata, não é?
Embora fosse um absurdo que ele realmente soubesse que eu estava saindo com meu assassino particular, não pude deixar de ficar espantada. Ele não percebeu minha paralisia.
— Você brigou com ele, pude notar quando coloquei os pés no quarto. Está faltando aquele brilho disfarçado no seu olho. E se me permite dizer, foi coisa séria.
O pedaço de chocolate desceu com ruído pela minha garganta.
Seus olhos procuraram os meus para a confirmação da qual não precisava.
— Talvez futuramente eu possa te contar o que ocorreu, mas no momento eu simplesmente... — procurei a palavra adequada — não estou pronta.
De relance o vi assentir.
— Compreendo. Então me diga, no fim qual era a encrenca que Hanna havia se metido? Passei um bom tempo curioso com isso.
Ele supunha que o novo assunto era mais leve, e eu não o culpava por isso, não tinha como adivinhar que estava tudo interligado.
— Era só uma emergência feminina. Alguma coisa sobre unha e figurino na festa que ela iria com a mãe no dia seguinte — menti, já me sentindo horrível por isso.
Seus olhos que se arregalaram.
— Serio? — ele não gostava de ser indelicado, mas não conteve a perplexidade pela futilidade que nos fizera armar para os meus seguranças.
Fiz sinal positivo com a cabeça, forçando uma risada para autenticar o fato.
— Hm, imagino que você quis fazer um ensopado de Hanna.
Forjei uma expressão de revolta e ele riu.
— Hanna é engraçada.
Concordei, mas despertando aquela preocupação.
— E como você está em relação a isso? Como foi vê-a agora?
Enrolei o embrulho do cupcake terminado na mão e peguei mais um, ligando um grande “dane-se” para o que Eleanor pensaria sobre isso.
Ele deu de ombros, ainda na metade do seu primeiro.
— Está ficando mais fácil. Sei que vai passar — Wren tinha costume de menosprezar suas dores, então eu não sabia se comprava — E se essa for sua decisão também, você é muito mais forte do que eu. Sei que consegue passar por qualquer coisa que quiser. Além do mais, eu estou aqui com você — sua mão livre se apoiou em cima da minha sobre o lençol bagunçado — Só não é uma temporada para amar, sabe?
Eu quase não consegui respirar através do nó emotivo no meio da minha garganta, então apenas lhe dei um sorriso de gratidão. Ele não sabia que estava me ajudando muito mais do que superar um coração quebrado.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

One Life 38

— Sim, esse é definitivamente uma surpresa — admiti reconhecendo a voz de John Meyer fluindo pela acústica boa de sua sala.
Ele estava com os olhos atentos em meu rosto, abstraindo cada emoção minha a julgar a playlist de seu aparelho de som, então deu de ombros para meu espanto.
— Não sabia que os góticos das trevas gostavam de músicas tristes românticas, a pauta diária deveria ser a fixação pela morte — refleti, provocando-o e trocando de faixa com o controle pequeno em minhas mãos.
Justin desviou os olhos, banalizando a questão.
— Creio que uma renovação no repertório não é ilícita.
E mais John Meyer.
— Você deveria ter me avisado sobre isso antes, também gosto dele, poderíamos aprender uma canção juntos.
Ele quase sorriu.
— É recente, mas aprendi uma. Se ainda quiser depois posso te ensinar, antes me deixe te dizer o que estou tentando há alguns minutos.
Neguei com a cabeça e me levantei do seu colo, desviando o assunto:
— Você me disse que tinha alguns instrumentos aqui, onde estão?
Justin suspirou, me fitando com o olhar superficialmente acusador.
— O que? — perguntei com inocência.
Ele não se deixou enganar.
— Você está me enrolando.
Fingi estar intrigada, embora soubesse que o único efeito seria prolongar, o que era minha intenção.
— Não estou — neguei.
— Faith, pensei termos chegado à conclusão de que apenas a verdade nos dará a direção.
Relaxei os ombros me rendendo, mas segurei sua mão e deixei meus olhos ali, tentando ser convincente.
— Eu vou ouvir a verdade, só quero ver seus instrumentos primeiro.
Eu quase podia ouvir seu cérebro trabalhando em uma rota alternativa antes que propusesse.
— Posso tocar uma das músicas para você, depois você me deixa falar. Os instrumentos estão num quarto do segundo andar, mas o violão está aqui na sala de treino.
Treino.
Impedi que o julgamento infestasse minha cabeça, me focando no oposto.
— Você quer tocar violão do jeito que está?
Ele revirou os olhos, fazendo menção de se levantar.
— Eu fui baleado, não amputei os braços. Isso é como bater o dedinho do pé para mim.
Coloquei a mão na frente para que não se movesse.
— Tudo bem, eu pego, mas você sabe que se estourar os pontos....
— Você vai jogar álcool e sal, rir da minha cara e me levar no hospital — completou, entediado.
Contive qualquer traço de humor e assenti para que me levasse a sério, me levantando.
— Muito bem, que seja feita sua vontade no leito de morte.
Me encaminhei para o já conhecido cômodo perturbador da casa, não tendo boas memórias dali. Estávamos mesmo na mesma semana? Parecia já fazer um século que eu vivia aquele impasse, os momentos leves e divertidos ao seu lado faziam parte de um século passado. 
Seu violão de cordas de aço estava deitado no meio do tatame, um lugar estranho para um instrumento musical; tão deslocado como eu naquela casa, quebrava a atmosfera pesada, revelando um ponto de sensibilidade na perdição. Forcei que despertasse do devaneio, peguei o que me interessava e saí depressa dali antes que minha mente fértil criasse as imagens das quais eu fugia. 
— O que um violão faz em meio a um ambiente violento? — questionei em voz alta enquanto voltava para a sala de estar.
Justin estava girando o controle do som nos dedos, os olhos no horizonte não enxergavam as coisas físicas a nossa volta, denunciando seu estado reflexivo, provavelmente sondando a melhor maneira de contar o que queria. Senti o verme imaginário corroer as paredes do meu estômago. Se Justin tinha medo da minha reação, era justo que eu também o sentisse. Ele olhou para mim ao escutar minha voz com um fantasma de sorriso no rosto, e eu supunha que estivesse feliz que eu ainda não saíra dali aos berros, de certo modo o inevitável para ele.
— Eu ando meio bagunçado — murmurou, então estendeu a mão.
Mesmo que incerta, entreguei para ele, torcendo que não tivesse uma hemorragia pela causa extremamente egoísta da minha parte. Eu não negava, desejava mais do que tudo poder ouvi-lo cantar nesse pedaço de realidade quase distante de nossos problemas.
Me sentei ao seu lado outra vez enquanto o observava tocar os dedos nas cordas separadamente para conferir a afinação, aperfeiçoando o som nas tarraxas.
— Pronta? — perguntou após terminar.
Dei um sorrisinho, incentivando para que começasse.
Ele pigarreou, então começou a dedilhar no violão, fechando os olhos. Após a introdução, começou a cantar:
— Jovem e cansado de fugir
Me diga aonde isto está me levando?
Apenas um grande desvendador ou um minúsculo infinito
Eu me lembrava de já ter ouvido aquela música algumas vezes, mas aquela melodia saindo de sua boca parecia nova e única, ninguém poderia cantar aquilo como ele. Sua voz de veludo entrava pelo meu ouvido e alcançava meu coração, transmitindo claramente a consternação.
— Amor realmente não é nada
Além de um sonho que fica me acordando
Pois todas as minhas tentativas
Você ainda termina morrendo
Como pode ser?
Não era surpresa que meus olhos já estivessem úmidos, e alguma coisa me avisava que eu não suportaria o refrão.
— Não diga nem uma palavra
apenas venha e deite-se aqui comigo
Porque estou prestes a colocar fogo em tudo que vejo
Eu te quero tanto que voltarei às coisas em que acredito
Aí está, acabei de dizer
tenho medo de que você se esqueça de mim
Ele pigarreou de novo quando sua voz ficou fraca e eu agradeci por estar de olhos fechados para não ver o quanto eu já me desfalecia, limpando disfarçadamente em meu rosto a trilha de destruição que ele deixava.
— Tão jovem e cansado de fugir
por todo o caminho até o limite do desejo
Controlo minha respiração, gritando silenciosamente
"tenho que te ter agora"
Inquieto e estou cansado
Acho que vou dormir nas minhas roupas no chão
Talvez esse colchão gire em torno de seu eixo
e me ache no seu
Era tão injusto o modo como a música terminava de materializar nossa realidade. Minha mão coçou para dar um tapa em sua boca por estar fazendo aquilo comigo, ele tinha mesmo que me deixar triste o tempo todo? Apesar disso, deixei que repetisse o refrão mais duas vezes, tentando rapidamente esconder o quanto aquilo me afetava antes que ele abrisse os olhos. Não demorou muito para que me olhasse, mas ambos não soubemos o que dizer, desabafando tudo o que precisava pelo nosso olhar visivelmente abalado.
De repente eu soube o que fazer, tirando o violão das suas mãos e colocando ao meu lado no sofá, me virando novamente para ele e me aproximando devagar, permitindo que a ponta dos meus dedos tocasse sua bochecha. Ele acompanhou o movimento antes de voltar aos meus olhos, entendendo onde eu queria chegar, desse modo segurou meu queixo com a mão direita, puxando minha boca para a sua.
Eu não queria chorar, já estava desidratada o suficiente para uma vida inteira, mas acabei tornando o beijo um pouco mais molhado do que deveria. Eu o amava como nunca havia amado ninguém, e a murmuração rodava em minha cabeça, por que quando eu finalmente experimentava algo tão forte assim tinha que ser tão complicado? Por que ele não podia simplesmente ceder e aceitar ser outra pessoa por mim?
Sua mão esquerda se apossou da minha cintura, descendo até minha perna com firmeza, intensificando o beijo, me mostrando como era sua forma de gritar silenciosamente que precisava de mim. Levei minha mão livre às suas costas, respondendo ao seu pedido, puxando levemente seu corpo contra o meu para que não o machucasse.
Não durou o tanto quanto eu desejava, logo ele estava se afastando para me olhar, direcionando as duas mãos ao meu rosto para afastar as gotículas de água.
— Eu quero que você se lembre disso, da forma que nos sentimos, do quanto isso é real e exclusivo. Você tem alguma dúvida da autenticidade desse sentimento, Faith? — perguntou baixo impetuosamente.
Era claro que eu não duvidava do quanto ele me tinha em suas mãos, mas poderia ter certeza de seu afeto? Naquele instante, não me parecia duvidoso.
Neguei rapidamente, tentando engolir o nó na garganta.
— Eu não planejava sentir essas coisas por você, mas aconteceu e é genuíno. Você me faz sentir vivo, como ninguém nunca fez antes. Você acredita nisso? — continuou.
Assenti, influenciada pela sinceridade em seus olhos.
Ele tirou as mãos de mim, esfregando seu rosto com nervosismo.
— Eu não posso perder você também — sua voz saiu abafada. De qualquer forma, eu não parecia ser mais sua interlocutora, o lamento era para si mesmo.
Sua aflição estava conseguindo me assustar.
Funguei, tomando coragem.
— Você pode me dizer — anunciei, querendo ser tão corajosa quanto minha vontade de ser.
Ele soltou o ar pela boca com um ruído alto, por fim me fitando.
Observei seu maxilar travar e diversas emoções passarem por seus olhos, a expressão procurando qual era a adequada. Esperei até que aquela seriedade distante tomasse seus traços. Ele pensava que se distanciar de mim tornaria aquilo mais fácil, mas até sua fisionomia sabia que aquilo não daria certo, portanto eu podia ver alguns resquícios de aflição e pesar ali.
Parei até mesmo de respirar quando ele abriu a boca para falar.
O som que veio em seguida não era o que eu esperava, era oco e reverberava pela sala. Paralisamos no momento em que ouvimos o chamado forte pelo vão da porta.
— Bieber?
Tendo em vista que até onde eu sabia todos os que o conheciam eram assassinos que não gostavam de mim — com exceção de Caitlin que pelo menos não queria me fazer mal — não era insano o aumento em meus batimentos cardíacos.
Justin levantou a palma da mão para que eu ficasse quieta e calma, direcionando sua atenção para a entrada da casa.
— Bieber? Estou com pressa — o homem repetiu, aparentando não estar com muita paciência.
Justin xingou baixo, me olhando com uma pressa camuflada.
— Só quero garantir que nada aconteça, então pode por favor se esconder lá em cima? — pediu com calma, tentando me tranquilizar.
Assenti e me pus em pé num salto, não me deixando enganar. Evidentemente se ocorresse algum problema, ele não estava em condições de lutar.
— Não faça barulho algum — me alertou, se levantando de uma vez e enrijecendo a postura.
Era ridículo, mas as palavras saíram da minha boca antes que eu pudesse repensar:
— Me chama se precisar de ajuda.
Sua testa se franziu imediatamente enquanto ele questionava minha sanidade.
— Não ouse descer aqui, Faith — avisou sério e indiciou com a cabeça para que eu subisse.
— Bieber eu vou arrombar essa porta — sua visita mais uma vez clamou.
Me virei imediatamente e tentei andar a passos surdos até a escada, subindo da forma mais silenciosa que eu podia. Rezei para que não tivesse um ataque de desastre bem naquele momento para tropeçar e rolar pelos degraus, e finalmente cheguei no segundo andar. Dali pude ver Justin se aproximar da porta e seu olhar violento flagrou minha hesitação. Dessa forma, disparei pelo corredor, entrando no quarto dele e fechando a porta. Parei bem ali no meio, com medo até mesmo de respirar ao mesmo tempo que apurava meus ouvidos para me atentar a qualquer sinal de encrenca. Caso acontecesse, eu deveria obedecê-lo e permanecer aqui a todo custo ou descer para ajudá-lo? Alguém disposto a enfrentar Justin Bieber devia ser tão experiente quanto ele, então eu definitivamente não estaria à altura do sujeito. Provavelmente era burrice, mas concluí que não importava, eu podia ser uma boa distração e pelo menos atrasá-lo para que Justin pudesse detê-lo, então sim, eu desceria.
Assim, colei meu ouvido na porta, tentando ouvir alguma coisa, mas só captava as vozes, não conseguia distinguir o que falavam. Fiquei no que pareceram horas naquela posição, até pensar na possibilidade dos dois subirem para o quarto. Justin disse não trazer mulheres, mas nada sobre homens — não de forma maliciosa. E se Guilherme houvesse contado do dia anterior e estivessem atrás de mim para saberem se estávamos juntos outra vez? Justin avisara sobre consequências por sermos vistos juntos. Apenas entrar no quarto não era uma forma de se esconder.
Tendo em vista que eu já não conseguia entender o que estava acontecendo e podia colocar tudo a perder, corri de modo abafado até a porta que eu supunha ser do banheiro. O trinco girou com facilidade sob minha mão, deixando a vista um closet um pouco menor do que o meu. A maioria das roupas ali eram sociais, ternos intermináveis quase idênticos de cores neutras, algumas peças esportivas solitárias e muitos sapatos sociais. Havia um espelho enorme cobrindo a parede do fundo e uma porta à direita. Dei uma espiada, encontrando um banheiro tão sofisticado que eu não me surpreenderia se o vaso fosse de ouro. Voltei ao closet e olhei a minha volta em estado de contemplação com o tanto dele que havia por ali, até o cheiro penetrava o ambiente. Corri minhas mãos inquietas pelas roupas, necessitando de uma distração. Parei em frente ao espelho e senti a moldura dourada tão bem elaborada. Mais preocupada do que eu imaginava, acabei fazendo uma pressão desnecessária que resultou num estalo. O arrepio de medo passou rápido pela minha coluna, e eu me afastei esperando que todo aquele vidro se espatifasse no chão. Era agora que eu seria descoberta.
Burra, burra, burra.
Cobri meu rosto para preservá-lo e apertei forte os olhos, rezando para que não me machucasse antes que pudesse lutar com quem quer que fosse que estivesse lá embaixo. Isso se Justin não me matasse primeiro do que ele.
Estava tão absorta me maldizendo que não percebi de imediato o silêncio que seguia. Abri um dos olhos para investigar o que estava acontecendo e vi uma idiota paralisada vestindo roupas amassadas e escondendo o rosto com as mãos. Eu mesma, a rainha do vexame.
Relaxei meus ombros pelo espelho estar intacto, mas podia ver o vão de cima a baixo que agora estava ali entre a moldura e a parede do lado em que o ruído se fez. Com cuidado — embora meus instintos gritassem para que eu não mexesse em mais nada — coloquei minha mão ali e tentei mover o espelho em minha direção, e ele abriu como se fosse uma porta. Uma passagem escondida atrás do espelho? Nada mal Justin.
Entrei naquele espaço escuro e tateei pela parede para encontrar um interruptor mesmo sem saber se haveria luz com receio. Por que ele esconderia um cômodo de sua casa? A alternativa mais plausível era ser o local que escondia armas.
Finalmente o cômodo se clareou quando encontrei o interruptor e dois segundos depois eu preferia que permanecesse apagado.
As paredes pretas davam destaque para os quadros brancos espalhados por elas, eram pelo menos uns cinco cheios de fotos e informações escritas a caneta vermelha, deixando espaço apenas para um armário embutido e mais uma porta no extremo esquerdo. Na verdade, o que me chamou a atenção foi a pintura que eu reconheceria em qualquer lugar pendurada acima da mesa grande e branca bagunçada que originava a arte exposta nos quadros investigativos que eu só vira na televisão, um organograma de pessoas, provavelmente os alvos do residente daquela casa. Por que ele penduraria meu quadro num lugar assim?
Passei meus olhos pelos organogramas sentindo meus braços se arrepiarem, algumas fotos estavam com um X vermelho em cima, e isso com certeza não queria dizer que Justin havia feito mais amigos. A tristeza se acumulava conforme eu apreendia rostos e mais rostos, e me aliviava por não serem todos a estarem riscados.
O ar entalou em minha garganta quando reconheci um rosto em um dos organogramas. Ao que Hanna poderia conduzir? Então veio como um clarão as fisionomias ao redor, estavam todos ali, os Peters, Flê, Nicole, Jean, Etienne, todos ligados a uma pessoa com um grande e exagerado círculo vermelho no topo, Faith Evans. Uma linha vermelha me ligava a Bryan bem ao meu lado, Eleanor e Caleb estavam abaixo ligados a nós dois. Minhas preferências, o restaurante italiano, o spa que Eleanor me levava, meu shopping preferido, notícias sobre mim, minha exposição de quadros, o brunch de Eleanor, detalhes sórdidos da minha casa, tudo estava exposto ali. ”Solteira” “Difícil de conquistar? ”, “Amante de batata frita”, “Cativante”, “Não consome bebidas alcoólicas”, “Sensível”, “Desavença com a família? ” “Fetiche por estrelas” e mais algumas outras frases contornavam minha foto, mas eu não conseguia mais ler, minha visão estava turva, eu não conseguia respirar.
Meu cérebro estava com dificuldades de raciocinar tudo de uma vez, e eu sentia que estava prestes a forçar um desligamento. Quando mais eu precisava do meu raciocínio? Não. Me apoiei na mesa e tentei respirar, encarando o chão para evitar as imagens perturbadoras, eu não podia pensar no quanto havia sido enganada, que tudo era uma mentira para que.... Interrompi o pensamento no meio quando o quarto girou, me concentrando novamente na minha respiração e me agarrando ao meu instinto.  Eu tinha que sair dali, e não seria pela porta da frente.
Cambaleei até a porta e girei a chave que estava nela para destrancar, sem ao menos pensar no que eu poderia achar ali. Para minha sorte não havia nenhum corpo em decomposição a vista, apenas uma escada mergulhando na escuridão do espaço estreito. Se lá embaixo haveria gente morta era outra coisa, mesmo assim resolvi arriscar. Não encontrando interruptor para não andar às cegas, me obriguei a descer devagar, apoiando nas paredes e colocando meticulosamente um pé a frente do outro.
Respire Faith, respire. Isso é um pesadelo, é apenas um pesadelo.
Eu já não enxergava mais nada quando cheguei ao fim dos degraus, dando de cara com uma barreira. Passei minha mão por ali até encontrar um trinco que girei com desespero, me sentindo claustrofóbica. Empurrei a madeira que não se abriu completamente, rangendo por ser pouco utilizada. Me espremi para passar pelo vão aberto e alguma coisa arranhou as partes expostas do meu corpo. Percebi segundos depois que eram galhos e folhas, e encostada na parede me afastei deles. O sol bateu em meu rosto assim que fiquei livre, e eu identifiquei o gramado que Bieber admirava pela manhã, localizado no fundo de sua casa. A janela da cozinha estava bem ao meu lado e respirei fundo algumas vezes antes de bisbilhotar por ela. Não havia ninguém na cozinha, isso era um fato, mas mesmo assim mantive a cautela, preferindo não colocar minha cabeça entre o vidro aberto. Para minha sorte eu conseguia ouvi-los conversando da sala.
— Sei Philip, mande o recado que eu te disse. Logo estarei lá, então por que não deixamos isso para conversar pela tarde? — Justin resmungou, irritado.
— Eles não vão mais engolir suas desculpas, Justin. O trabalho vai ser tomado de suas mãos e sua credibilidade vai diminuir mais do que pela metade por não conseguir lidar com uma mimadinha insignificante — Philip respondeu num tom repreensivo.
Não pude me enganar muito mais. Eles estavam falando de mim? A Companhia Bieber estava atrás de mim?
É só um pesadelo Faith, é um pesadelo.
— A pressa é a inimiga da perfeição, meu caro, vou inovar nossas técnicas e fazer crescer nosso nome. Mas isso eu não tenho que dar satisfação a você, eu já disse que após o almoço estarei lá. Agora se retire da minha casa, sim?
Inspire, expire. Inspire, expire.
Ouvi quando a porta se abriu e depois de um tempo de espera se fechou com um estrondo que me fez tremer. Espiei outra vez pela janela e após o barulho do carro saindo, Bieber subiu pelas escadas. Rapidamente forcei a porta de correr da cozinha e para minha segunda sorte no dia, ela se abriu. Corri então pela casa mesmo com as pernas trêmulas, sabendo que era questão de segundos para ele encontrar meus rastros. Saí pela porta de entrada sem me dar ao trabalho de fechar e me lancei na calçada, voando para a direita. Eu não sabia muito de direção e só havia feito o caminho da sua casa para a minha uma vez, então provavelmente não fazia ideia de para onde estava indo, só que ficar parada não era opção.
Ele viria atrás de mim, isso se já não tivesse me visto, então a prioridade era me esconder. Virei na próxima rua à direita e só então percebi que o contato do meu pé com o chão estava um pouco liso devido ao fato de eu estar apenas de meias. Perder um par daquelas era melhor do que perder minha vida.
Minha respiração já estava ofegante, e estar debilitada emocionalmente não me ajudava, mas adentrei as ruas sem direção nenhuma rezando para que funcionasse.  Não fiquei surpresa quando tropecei nos meus próprios pés e caí no chão, arranhando as palmas das mãos no concreto. De qualquer forma, a dor física não foi o motivo pelo qual quase não consegui me levantar. Assim que estava em pé, sentindo que parte de mim tinha ficado no chão, percebi alguém parado a minha frente me encarando. Estava prestes a dar meia volta quando assimilei a voz.
— Faith, está tudo bem? — o timbre fino e quase estridente de Clarissa sempre fora irritante para mim, mas naquele momento era uma benção.
Seu rosto estava preocupado, embora prevalecesse a repulsa — eu com certeza não estava bonita. Ela segurava a sacola da Victoria Secret’s, loja que estava bem atrás de seu corpo alto.
Não pensei duas vezes antes de segurar seu braço e arrastá-la novamente para dentro do estabelecimento, ouvindo seu gritinho de protesto. Me escorei na parede e a soltei.
— Me ajuda, por favor — supliquei arquejando.
Seus olhos se arregalaram um pouco mais.
— O que aconteceu? — perguntou alarmada.
Estendi a mão.
— Me empresta seu celular.
Ela ficou parada tentando entender a situação em sua mente. Eu não tinha tempo para que deixar que meu cérebro trabalhasse, que dirá o dela.
— Anda! — apressei, ordenando.
Clarissa deu um pulo de susto e pegou o aparelho no bolso de sua calça branca, me passando depressa.
Foram duas tentativas para que conseguisse acertar o número de Hanna, e esperei longos quatro toques para que me atendesse. Não esperei sua saudação.
— Você está com Guilherme? — fui direto ao ponto.
— Faith? — ela perguntou confusa.
— Só responde Hanna, está com o Guilherme ou não?
— Não — respondeu aturdida.
— Então vem me buscar na Victoria Secret’s da... — afastei o celular e olhei para Clarissa — Onde estamos? — ela respondeu confusa — 82 Newbury Street, perto do parque público. Venha imediatamente e sozinha.
— Você está me assustando. Tem algum problema? — questionou temerosa.
— Hanna, vem agora. Vou estar te esperando.
Desliguei o celular e devolvi para Clarissa.
— Obrigada. Acho melhor você ir agora.
Se eu fosse encontrada não queria arriscar a vida de mais ninguém, mesmo que fosse Clarissa. Hanna já estava na merda, então deveríamos sair juntas.
A ruivinha estava paralisada de assombro na minha frente. Não era mesmo uma situação ordinária, eu estava faltando as aulas, então de repente aparecia no meio da rua, sem sapatos, com a roupa amarrotada, sem agasalho, suada e descabela pedindo por ajuda. Teria sorte se não ligasse para a polícia.
— Tem certeza? Se quiser posso te levar a algum lugar ou ligar para o seu irmão — ofereceu.
Era óbvio que tentasse obter vantagem até numa situação dessas, se ela soubesse que ele estava solteiro então ...
— Tenho Clarissa, te vejo segunda — afirmei, tentando não ser mal-educada, afinal havia me ajudado.
Ela assentiu com a cabeça e saiu olhando para trás muitas vezes. Eu conhecia aquele olhar, com certeza fofocaria para todos na faculdade e fariam uma enquete para descobrir o que havia acontecido comigo num sábado de manhã. Seria uma ressaca terrível? Essa era uma boa teoria, embora eu não bebesse. Repensei a parte de ser uma benção encontrá-la.
Não me movi, apoiando as mãos nas coxas e regularizando minha respiração. Comecei a contar os segundos para não pensar no que havia acabado de me meter, mas mesmo sem pensar naquilo, estava doendo, e eu queria gritar de raiva e chorar, e espernear e até matar alguém. Aquele alguém.
— Senhorita, você precisa de ajuda? — uma das vendedoras veio até mim, me analisando dos pés à cabeça.
Se ela viesse com arrogância num momento daqueles eu não responderia por mim.
— Não. Estou esperando alguém, vamos escolher um presente — inventei parcialmente.
Ela fingiu um sorriso e assentiu.
— Qualquer coisa é só me chamar.
Imitei sua falsa cordialidade e ela saiu, sem saber disfarçar que não acreditava em mim. Eu também não acreditaria.
Estava ficando muito ruim permanecer dentro daquela loja com todos aqueles olhares. Eu não sabia se era pior não me reconhecerem ou se o fizessem. Então agradeci aos Céus quando Hanna adentrou pela porta, olhando apreensiva todos os cantos.
Me endireitei e ela me viu, arregalando os olhos.
— O que aconteceu com você? — interrogou aflita.
Olhei pela porta para me certificar de que estava limpo.
— Vamos — instruí, saindo da loja.
Seu carro estava bem ali na frente e esperei que destravasse, varrendo a rua com os olhos antes de saltar no banco.
Ela entrou desorientada.
— Acelera — solicitei com pressa, me abaixando.
— O que raios está acontecendo, Faith?
— Acelera e pergunta depois! — exigi apressada.
Hanna se rendeu, ligando o carro e manobrando.
— Pode me dizer agora?!
Deixei minha cabeça cair entre as mãos, tentando conter por mais alguns minutos toda a informação que se debatia em minha cabeça. Suas perguntas não ajudavam.
— Não vamos pra sua casa, nem pra minha, nem pra lugar nenhum que a gente sempre vai. Onde nunca iríamos? — pensei, revirando minha mente já em caos.
— Faith, pelo amor de Deus você está me assustando. Cadê o Justin?
— Numa estação de trem! — solucionei — Vá para a estação de trem.
— Justin está na estação de trem? Você está parecendo uma doida! Me diz o que aconteceu ou eu juro que paro esse carro e te jogo para fora! — ela ameaçou, surtando.
E foi a gota da água que bastava para que rompesse a barreira contendo a represa de pensamentos. Eu vi aquele quarto atrás do espelho, o quadro branco com meus dados, o círculo vermelho em volta da minha foto, as informações que eu havia passado para ele, meu fetiche por estrelas, meus lugares favoritos, minha relação difícil com meus pais... E aquilo só podia dizer uma coisa, não tinha como me enganar. Aquele era o seu trabalho, o tempo todo aquele era o seu trabalho. Eu era apenas a droga de mais um obstáculo para que ele ganhasse dinheiro.
— Faith! — Hanna gritou histérica, sua voz atravessou o zumbido em meus ouvidos.
Eu devolvi o favor, colérica:
— Ele vai me matar, Hanna! É isso o que está acontecendo!