Leitoras com Swag

Hey garotas, beliebers ou não beliebers. Só estava faltando você aqui! Nesse blog, eu, Isabelle, faço IMAGINE BELIEBERS/ FANFICS. Desde o começo venho avisar que não terá partes hots nas Fics, em nenhuma. Repito, eu faço 'Imagine Belieber' não Imagine belieber Hot. A opinião da autora - Eu, Isabelle - não será mudada. Ficarei grata se vocês conversarem comigo e todas são bem vindas aqui no blog. Deixem o twitter pra eu poder seguir vocês e mais. Aqui a retardatice e a loucura é comum, então não liguem. Entrem e façam a festa.
" O amor não vem de beijos quentes. Nem de amassos apertados. Ele vem das pequenas e carinhosas atitudes."- Deixa Acontecer Naturalmente Facebook.
Lembrem-se disso. Boa leitura :)

Com amor, Isabelle.

terça-feira, 25 de abril de 2017

One Life 49

— E como diabos você sabia disso? — Justin questionou intrigado empurrando o armário.
Eu estava ao seu lado esperando que deixasse um espaço escapar para que pudesse ajuda-lo, coisa que ele não permitiria, demasiadamente preocupado com minhas mãos. Em contrapartida, não levava em conta seu peito perfurado, descartando qualquer apreensão minha. Se seus pontos estivessem estourados, o curativo continha o fluxo de sangue, e sua expressão negava qualquer traço de dor.
— Eu sou os olhos e ouvidos desse lugar, meu caro.
Ryan, entretanto, não tentava disfarçar seu estado, massageando as têmporas. Ele precisava imediatamente de um medico.
Conseguíamos ouvir o zumbido da serra que usavam para derrubar a porta cada vez mais alto, competindo com meus batimentos cardíacos apressados. Ciente do fato, Justin dobrou suas forças, e com um gemido final o armário se deslocou o suficiente para deixar a vista um pedaço grande da parede. Prestes a perguntar a lógica do que fazíamos — de tamanha que importância que levara Ryan a atirar na câmera —, o observei abrir o armário medonho e tirar um martelo do tamanho da minha cabeça para chocá-lo com ímpeto contra a tintura. Eles achavam mesmo que havia uma passagem ali.
No início, houve apenas um estrondo e a vibração estranha que me lembrou de minhas pernas momentos atrás, em seguida, abriu-se uma brecha.
— Você tem absoluta certeza de que isso tem uma saída, certo? — confirmou Justin num tom implicitamente ameaçador, arregaçando suas mangas antes do próximo golpe.
Imaginei como seria ficar presa dentro de um buraco na parede e a claustrofobia escalou as paredes do meu estômago.
— Se não confia nas minhas habilidades, teremos um problema serio.
Numa velocidade que eu não teria no meu melhor dia, Justin terminou de abrir a fenda grande o bastante para que passássemos. Teríamos de nos abaixar para entrar naquela toca de coelho, mas nada comparado a ficar e ter que encarar dezenas de assassinos.
Com o serviço pronto, o martelo foi ao chão e seu possuidor descansou as mãos nos joelhos, controlando sua respiração.
— É só cansaço, está tudo bem — me afirmou  um pouco ofegante ao flagrar meu olhar aflito — Agora vão, não temos muito tempo.
Ryan já estava se movendo para adentrar o buraco negro, mas finquei os pés no chão, me atentando a ausência do plural na segunda oração.
— Nós vamos — corrigi com firmeza.
Os dois me fitaram e depois trocaram um olhar significativo. Ryan entrou na parede, calculadamente se virando de costas.
— Faith — Justin se aproximou exalando persuasão em sua íris clara.
Dei um passo para trás, relutante. Aquilo não estava em discussão.
— Cala a boca Justin, vamos todos entrar no buraco e procurar um médico.
Ele deu um sorrisinho pela estranheza de minha sentença. Para mim não era engraçado.
— Eu sei, só preciso ir mais tarde, vou ficar aqui para empurrar o armário de volta e atrasá-los um pouco, depois encontro vocês.
Mal esperei que terminasse de falar e já estava negando.
— Você acha que eu sou burra? Você não pode enfrentar tantos sozinho, com um você quase morreu! — minha voz beirava a histeria.
Sua mão alcançou a minha, direcionando-a até seus lábios para que desse um beijo.
— Já te falei o quanto é preciosa? — murmurou com mansidão, encarando o fundo dos meus olhos.
— Não muda de assunto, se não formos juntos, ninguém vai.
Ele estalou a língua, segurando meu rosto.
— Não estou mudando. Preciso garantir que fique segura para que possa me concentrar. Se você estiver aqui, não consigo. Esse foi o problema de agora pouco.
— Mas você também não precisa estar aqui.
— Preciso atrasá-los. Vai dar tudo certo.
Não acreditei nele. Não sabia se devido nossa confiança rachada, ou porque estava com medo demais, ou se até mesmo suas palavras eram perfeitamente polidas para transparecer convicção que soavam duvidosas, mas eu tinha certeza de que não podia deixar aquele lugar sem ele.
— Você não está sendo coerente!  — as palavras saíram apressadas da minha boca — Nada pode ficar bem se você ficar aqui sozinho e...
— E eu amo você, então não pode me pedir o contrário — confessou, acariciando minha bochecha com o dedão e olhando no fundo dos meus olhos para que eu visse sua sinceridade.
Precisei de um momento para encontrar minha boca de novo. Aquelas três palavrinhas já usadas por mim antes entraram pelos meus ouvidos e fizeram o estrago pelo restante das vias, fazendo cócegas na glândula lacrimal, trazendo vida a todos os órgãos. Se eu já estava dependente emocionalmente antes, naquele momento fui costurada em sua alma. Não seria possível tirá-lo de mim sem levar grande parte minha.
— E você não pode me pedir para te deixar para trás — retruquei em um tom estranho — Ainda mais depois de dizer uma coisa dessas.
— Pessoal, eu sei que é complicado, mas precisamos ir agora — Ryan interviu.
Ele deu um sorrisinho.
— Demoramos a admitir, huh?
Neguei.
— Acho que não podia ser diferente.
Se inclinando, Justin beijou minha testa e então minha boca, com aquela leveza atordoante trazendo um novo significado, mais intenso e concreto, nossos sentimentos recíprocos solidificados.
— Agora vai, Ryan tem razão.
Cruzei meus braços, decidida.
— Meu Deus, mulher, não me faça te carregar, e eu juro que vou.
Justin deu uma risadinha do amigo, inclinando a cabeça, concordando. Fuzilei Ryan com os olhos.
— Eu o conheço antes de você, sei do que ele é capaz — resmungou — Ele é um Bieber, como o Poderoso Chefão, já vai nos alcançar, mas vamos todos morrer se não estivermos de acordo.
Com um desvio muito bem planejado, os braços de Justin me envolveram, e fui tão abstraída por seu abraço que não percebi que estava sendo conduzida. Em certo ponto, mãos diferentes se encaixaram em minha cintura, me puxando para longe. Só tive tempo de um protesto baixo e abaixar a cabeça para não bate-la contra o pedaço de parede acima.
Ryan me soltou assim que me estabilizei, se colocando a minha frente para que eu não tentasse sair. Se minhas mãos estivessem boas, aquele homem estaria numa encrenca tremenda. Justin lhe passou a arma que me dissera estar com silenciador e olhou fixamente para os olhos de Ryan.
— Sabe que se ela estiver com um arranhãozinho a mais, eu vou estourar a sua cara. Estou confiando praticamente minha vida a você.
Eu não saberia que estava falando de mim se não me olhasse em seguida com tamanho afeto. Poderia sorrir, mas sentia cada um dos meus ossos se remoerem de angústia por ser obrigada a deixa-lo para trás. Aquela não era uma decisão minha. Eu não aceitava.
— Pode confiar, cara.
— Isso não é justo, eu não posso opinar?!
Ambos me ignoraram.
— Quando saírem mande uma mensagem, vou deixar o toque do meu celular alto. Me diz que ainda está com ele aí.
Ryan enfiou a mão no bolso da frente com um sorriso orgulhoso, tirando o aparelho.
Pensando estar distraído, tentei passar por ele, mas seu braço se postou prontamente a minha frente, fechando o caminho.
— Quebro o pescoço, mas o celular não.
— Eu posso quebrar seu pescoço! — blefei.
Era como se eu fosse invisível.
Justin puxou o seu, observando com uma careta a tela quebrada.
— Pelo menos ainda funciona.
Ouvimos um estrondo descer as escadas. Afinal haviam serrado o suficiente para derrubar a porta?
— OK, vão — ordenou, se posicionando para empurrar o armário de volta.
— Não! Nós não... — e era tarde demais, Ryan segurou meu braço quando me tentei ir para frente e de uma vez Justin arrastou o metal, me dando apenas uma piscadela determinada como se estivesse a ponto de derrubar pinos num jogo idiota para me ganhar um urso de pelúcia. A solidão me abraçou quando o perdi de visão.
Ryan ligou a lanterna do celular para que enxergássemos alguma coisa, me guinchando para que seguíssemos adiante naquele terreno desconhecido de paredes rebocadas e estreitas em volta do chão de terra. Ele espirrou algumas vezes devido ao cheiro terrível de mofo, estava abafado o suficiente para que eu considerasse a ideia de morrermos sufocados enquanto Justin era atacado em todas as direções por homens brutos, estúpidos e insensíveis.
— Essa é uma propriedade antiga, então esse túnel existe por causa de alguma guerra, ou sei lá o que. Vocês têm sorte de ter minhas habilidades investigativas — ele se vangloriou.
— E nessas habilidades está incluída a capacidade de abandonar um amigo? Surpreendente — murmurei impotente, o aperto em meu coração me dava vontade de golpeá-lo com seu celular ‘indestrutível’.
— Somos estrategistas Faith, e essa era a estratégia mais viável — justificou sem o mínimo de culpa.
Bufei indignada demais para poder expressar em palavras e ouvi sinais de luta do outro lado do armário. Eu estava sufocada.
— Me diz então, há quanto tempo você lida com situações desse tipo? Se tiver uma ideia melhor, volto com prazer junto com você.
— Qualquer coisa seria melhor do que usar um ser humano como válvula de escape.
Não surpreendentemente, tropecei em meus pés, como se eu pudesse ser mais patética. Apoiada pela mão de Ryan que ainda não largara meu braço, me endireitei, mas sentia como se estivesse estatelada no chão.
— Faith, preciso de você aqui para me ajudar a achar a porta — disse ele calmamente.
— Não deveríamos ter deixado Justin sozinho.
A umidade das paredes começava a se apossar do meu rosto e diversas vezes tive que passar as costas da mão sobre ele.
— Você vai ter muitas rugas se continuar se preocupando dessa maneira. Não deveria ser a pessoa com mais fé no mundo?
— E você não deveria ser um amigo que se importa a ponto de não abandonar?
Ele parou de andar, se concentrando em meu rosto.
— Ouça, sei que não consegue compreender o que fazemos e como fazemos, mas te prometo que vai ficar tudo bem. Se Justin disse que pode fazer isso, ele vai fazer, e quanto mais rápido sairmos daqui, mais rápido poderemos reencontrá-lo. Então, por favor, podemos entrar em harmonia agora?
Olhei para trás na esperança de ver Justin portando um sorriso empolgado pelo sucesso obtido e encontrei desesperança na ausência da luz. O quanto de dor aquelas paredes haviam presenciado? Era energia negativa demais para um lugar só. Será que no fim as promessas sussurradas eram mantidas?
Respirei fundo, tentando absorver a serenidade que emanava do sorriso inseguro de Ryan.
— E se não houver uma porta?
Seu sorriso se alargou de empolgação e voltamos a nossa caminhada.
— Tem uma porta, eu já vi. Vamos sair direto na garagem — ele com certeza estava feliz com a ideia.
— E qual o plano em seguida? Quer dizer, você tem um plano, certo?
Ele riu, mas para mim não era nada animador. Encontramos a saída antes que eu roesse todas as unhas e tivesse torcicolo.
— Ok, esteja pronta.
Separei os pés e cerrei os punhos.
Ryan estreitou os olhos.
— Você acha que pode lutar com balas? Se encoste à parede, menina.
Obedeci, seu argumento tinha pertinência. Ryan atirou na fechadura da madeira desgastada, coisa que considerei desnecessária, o material estava tão podre que provavelmente cederia com o mínimo dos contatos. Em seguida, chutou a porta que se abriu com facilidade. Ele se encostou ao meu lado, se escondendo do que poderia estar nos esperando. 
O único som que ouvimos vinha do lugar que havíamos escapado, e minha cabeça girou com náuseas ao imaginar como Justin estava se saindo. 
Por favor.
Ryan espiou pela porta, então me pegou pelo braço outra vez, disparando entre quatro carros alinhados.
— Entra! — gritou assim que alcançamos uma caminhonete preta.
Me soltei dele, dando a volta no veículo.
— E o Justin?
— Vamos esperar lá fora.
Abri a porta e saltei no banco de couro, me fechando ali enquanto Ryan procurava alguma coisa na roda — provavelmente as chaves.
Dei um pulo de susto quando soaram disparos repentinos, fazendo com que eu me encolhesse no banco e protegesse meu rosto, até que percebesse que as balas não atravessavam a lataria ou o vidro. Com um alívio maior do que poderia explicar em uma vida toda, percebi que a caminhonete era blindada.
Ryan ainda não entrara e se abaixava junto ao capô para devolver os ataques. Os tiros que emitia eram mais silenciosos que meu estômago. Antes que eu pudesse entrar em pânico com a possibilidade de que fosse baleado, ele arreganhou a porta, se enfiando para dentro encolhido por não ter conseguido se livrar de todos os caras. Eu não sabia quantos eram e não estava com coragem de olhar. No mesmo instante que ele girou a chave na ignição estava acelerando. 
Não raciocinei rápido o suficiente para perceber que nos direcionávamos para o portão da garagem ainda fechado, evitando um surto desnecessário por Ryan ter apertado o botão de um controle preso no quebra-sol. A caminhonete passou espremida entre a abertura alcançada, nos lançando para muitos seguranças sobressaltados com nossa saída improvisada. Cada um deles se voltou para nossa direção, atirando na lataria imperfurável. Quanto a esta última parte eu não estava totalmente confiante, então abracei minhas pernas com um gemido. Tivera demasiadas experiências quase morte para um dia só.
Ryan uivou, soltando uma gargalhada. Estava definido, ele sofria de alguma doença mental.
—   Se segure, Faith!
Firmei o abraço em meu próprio corpo e tive impressão de que atropelávamos uma sequência de cones colocada no meio do gramado. Seria melhor pra mim se eu continuasse imaginando que fossem cones.
— A gente não vai conseguir sair daqui — murmurei com a voz abafada.
— Não seja pessimista, mulher! Me dê algum credito.
Demos algumas voltas nauseantes dentro da propriedade com a trilha sonora do “ploft” a cada centímetro andado, consequentemente diminuindo as balas incansáveis a tentar nos atingir. O vidro frontal e as janelas estavam rachando, e eu já estava vendo a hora que o material cederia para Jesus vir me buscar. Ryan chegou a abrir a janela e colocar o braço para fora, atirando de volta.
— Ai merda.
A caminhonete sacolejou instável, até que parasse.
— Acertaram o pneu — resmungou — Não saia em hipótese alguma daqui de dentro.
Feita a recomendação, abriu sua porta, ensaiando a saída diversas vezes enquanto participava da troca de tiros. Ele mergulhou no chão e eu apertei a trava no painel, me encolhendo no banco. Utilizando a porta como escudo, sua expressão não estava mais tão leve, um traço disfarçado de irritação começava a aparecer em seu rosto.
— Mas que inferno gente, morram logo!
Em outra situação, eu poderia rir disso. E um a um, eles foram sucumbindo.
Só soube que havia acabado quando Ryan colocou uma mão no final das costas, demonstrando cansaço. Mesmo assim, quis fazer graça, levando a ponta da arma à boca, assoprando como se fosse um duelo texano, e suspirou.
— Agora você já pode descer do carro, precisamos sair daqui.
Ele olhava seu trabalho feito enquanto falava, orgulhoso de si mesmo. Leonardo da Vince admirando Mona Lisa.
Escolhi engatinhar até o banco do motorista para sair pela porta dianteira e me colocar imediatamente ao lado de Ryan. Não estava em condições de ficar um segundo sequer sozinha.
Não abaixei meu olhar enquanto corríamos pelo gramado, não querendo ver os corpos espalhados feito ratos após uma dedetização. Quando estávamos próximos ao portão, ele se abaixou, apalpando o bolso de um de seus pinos. Repentinamente, o portão de ferro com linhas retas se abriu, através das frestas eu podia ver a rua vazia. A mansão era isolada das outras casas, no fundo de uma rua sem saída. Mas eu não duvidava que os vizinhos distantes tivessem ouvido todo o estrago causado. Me perguntei se já estavam acostumados a isso e como seria possível.
Quase me joguei na calçada, louca para estar fora daquele pesadelo. Entretanto, fui inibida de colocar ao menos um pé para fora, olhando para a casa dos horrores, pensando seriamente na possibilidade de voltar. Parte minha ainda estava lá dentro.
Ryan agarrou meu braço outra vez, me puxando para fora apressadamente, nos distanciando daquele cenário. Ele se adiantou à minha reclamação:
— São ordens do Justin, precisamos sair para avisá-lo, e assim ele vem também — me lembrou, pegando seu aparelho celular do bolso.
Dadas às circunstancias que nos encontrávamos eu não me culparia se não me atentasse aos detalhes, mas meus olhos captaram muito bem certa inquietação em Ryan depois que enviou a mensagem. Ele olhou para frente, voltando a andar. Imaginei que usasse uma tapa como aqueles colocados em cavalos para que não se distraiam no caminho.
— Ryan, a gente pode esperar ele por aqui — puxei meu braço de volta, não me importando em me estagnar no meio da rua.
Ele não olhou pra mim, me guinchando outra vez. Como uma criança birrenta, usei meus pés de freio, me recusando a ficar um centímetro a mais longe de Justin.
— Ryan!
— Faith, você se lembra de que estou com dor de cabeça? Colabore comigo, preciso de um médico.
— Claro que sim, Justin também, e talvez eu, mas vamos juntos. Então espera.
Ele respirou fundo, me encarando.
— Sei que você tem sua própria consciência e blá blá, mas a gente precisa sair daqui agora. Justin vai nos alcançar, não queira descumprir o combinado agora.
Pensando ser o suficiente para me convencer, tentou me arrastar outra vez. Cruzei os braços.
— Não foi esse o combinado. Você disse que o esperaríamos aqui fora. O que aconteceu? A mensagem não chegou? Ele já havia mandado alguma outra?
Talvez eu estivesse paranoica após dias loucos como esses e estava fazendo uma cena ridícula para alguém que havia acabado de me conhecer. Mas tinha alguma peça que não encaixava, e ele precisaria ser paciente para mostrar que era apenas paranoia minha.
— Vamos esperar aqui fora. Longe da casa. A qualquer momento alguém pode sair atrás da gente. Já pensou qual vai ser a minha desculpa para dizer ao Justin que você tomou um tiro e morreu no meio da rua? Não estou disposto a enfrentar isso. Então, nós continuamos andando.
Não encontrei argumentos para rebatê-lo, então me deixei ser arrastada, não conseguindo evitar de virar a cabeça para trás muitas vezes, esperando que Justin aparecesse. Minhas mãos soavam, o intestino grosso começava a fazer um nó sozinho. Todos os meus órgãos estavam de desacordo com aquela decisão, até mesmo meu cérebro, que mal me dava o comando para levantar os pés.
Um metro e meio depois não havíamos alcançado as outras casas, Justin não estava a vista e eu tinha sensação de que meu corpo estava em greve.
— Não podemos continuar — avisei, me atentando à minha respiração.
— Faith, eu já disse que...
— Eu estou com falta de ar, meu corpo está formigando...
Ele parou, me olhando com um vinco enorme na testa.
— Não me diga que está tendo um ataque de pânico agora.
— Não tenho ataque de pânico, mas nós temos que esperá-lo aqui. Ryan, não vou dar um passo a mais.
Seus ombros relaxaram e ele examinou a distância que estávamos, então se abaixou na direção dos meus olhos.
— Tudo bem, respira fundo, está tudo bem, todos vamos ficar bem.
— Não acredito em você. Justin já deveria estar aqui. Eu sabia que ele não conseguiria lidar com tantos, a gente tem que...
— Respirar. A gente tem que respirar.
Eu estava me esquecendo de como se respirava. Ryan viu isso, então me conduziu para que me sentasse na calçada.
— Não vou. Nós temos que voltar.
— Não podemos Faith.
As pulgas saltando em minha orelha me morderam.
— Por que não?! Ele não pode fazer isso sozinho! — o controle começou a se esvair entre meus dedos — Se você não quiser, eu volto sozinha! Não vou deixar que...
Minha voz sumiu. Não por falha em minhas cordas vocais ou problema no meu cérebro. Um som crescente se sobressaiu a ela, alto o bastante para ferir meus tímpanos, me deixando com aquele apito agudo e interminável no ouvido. Meu corpo se contraía, um mecanismo de defesa automático que me fez esconder o rosto da nova ameaça. Não sabia dizer se Ryan também agia involuntariamente, mas ele se posicionou atrás de mim, me cobrindo.
Quando consegui me livrar do susto, abri os olhos, procurando qual era o problema, identificando a grande fumaça preta e densa subindo ao céu. Não foi preciso muito para entender que vinha do terreno em que se encontrava a mansão, agora escondida por aquele fantasma que riu na minha cara.
Não consigo me lembrar da ordem dos fatos e dos detalhes. Não consigo ao menos descrever o sentimento intenso e trêmulo que tomou conta de mim e me lançou para frente, multiplicando minhas forças de forma que eu conseguisse me livrar dos braços de Ryan e corresse em direção ao caos que abrigava o homem que eu amava. Obriguei meus músculos rígidos a prosseguir, tendo a sensação de que derrubava um pedaço meu a cada passo.
No fim, não fui muito longe, impedida por seu amigo que prometera me manter segura. Esperneei e um lamento agonizante cortou o dia. Não parei de tentar e Ryan não afrouxou os braços a minha volta. Talvez tenha dito alguma coisa, talvez tenha sido ele mesmo a dar um chute em meu estômago capaz de me deixar sem força alguma e me derrubar no chão, arquejando por ar, a explosão parecia ter se alastrado para dentro de mim. E eu não era capaz de lidar com ela. Tinha certeza de que não conseguiria. Não sozinha.
Estava tudo errado, eu conseguia ver a luz embaçada prometendo estar emitindo ondas de calor intenso, mas tudo o que eu sentia era o frio que congelava meu âmago. A única certeza que eu tinha era de que precisávamos tirar Justin de lá.
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domingo, 9 de abril de 2017

One Life 48

Um baque surdo aos meus pés me fez abrir os olhos com relutância e encontrei meu carrasco imóvel ali. Com seu rosto contra o chão, eu podia ver seu cabelo se ensopando do líquido vermelho denso. 
O grito se formou em minha garganta.
— Tudo bem, tudo bem, está tudo bem. Ei, olha pra mim.
As mãos firmes de Justin seguraram meu rosto assim que identifiquei sua voz.
— Justin — arquejei, dividida entre o alívio que relaxou parte dos meus ombros e a angústia apertando minha faringe.
Ele limpou meu rosto, se atentando à minha mão e franzindo a testa.
— Eu vou te tirar daqui.
Justin mexeu em algum ponto nas costas da cadeira e as algemas se abriram. Eu observei o homem jazendo à minha frente, entendendo que ele havia tomado um tiro.
— Eu não... ouvi... — o que pensando bem, não seria surpreendente.
— Silenciador de arma, é bem útil — explicou, terminando de libertar meus braços e canelas.
Segurando minha mão esquerda, me ajudou a levantar, tomando, com cuidado, em seguida a direita para que examinasse.
— De um à dez, qual seu nível de dor? — perguntou, pegando um lenço dentro de seu paletó.
Dei um passo para o lado, me livrando do corpo do carrasco. Embora ele tivesse toda a intenção de me machucar, não conseguia ignorar a perturbação por saber que estava morto.
— Faith, ele mereceu isso.
Não cabia a mim julgar quando e se alguém merecia morrer, mas achei mais fácil concordar.
— Não está quebrada, logo estará tudo bem — me tranquilizou, envolvendo minha mão com o lenço branco — O que foi? — questionou o fantasma de humor em minha expressão.
— Você tem um... lenço no paletó.
Ele deu um sorrisinho, complementando com uma piscadela.
— Faz parte do meu charme.
Um charme que eu jurava não ter mais oportunidade de ver.
— Você não deveria ter vindo.
Justin semicerrou os olhos.
— Você não deveria ter vindo. Faith, o que estava pensando? Achei que já havíamos concordado que suas ideias são péssimas — ele lutou para usar um tom mais delicado, motivado por alguma coisa em meu rosto — Você está bem? Preciso ter certeza para que prossigamos.
Eu não estava, e não ficaria durante algum tempo. Mas abafei o sentimento para poder surtar mais tarde, já fora de perigo. Não foi tão difícil, comicamente, estar ao lado de Justin me dava a sensação de segurança. 
— Ele não te machucou mais? Se eu pudesse, o deixaria vivo até que te pedisse desculpas e... — um transtorno começou a se apossar de seus olhos.
Me adiantei.
— Está tudo bem.
Ele respirou fundo.
— Ryan vai me dar o sinal para que possamos sair, e então o faremos pela porta da frente. Para isso, preciso que não transpareça alívio ou algo assim. Tudo bem?
Concordei, me abraçando com nervosismo. Meu plano todo fracassara. Bryan não havia feito nada e eu não era forte o bastante para suportar aquele fardo sozinha. Não podia ficar mais nenhum segundo ali, e de nada adiantaria se meus pais não estavam localizáveis. Não queria morrer por nada.
— Já sei como resolver isso, não será preciso fugir para a Califórnia. Só me deixa te tirar daqui — pediu Justin.
Eu não queria lhe dizer o quanto estava ansiosa para sair e demonstrar minha fraqueza potencial, então abaixei a cabeça, quase não notando quando olhou seu celular.
— É agora.
Me desloquei às pressas, contendo minhas pernas para que não corresse de uma vez. Com um pedido de licença, Justin segurou meu braço. Apesar disso e de ter conhecimento de que não me machucaria, não pude evitar o calafrio que me percorreu, como se precisasse de um lembrete do que vivenciara há poucos minutos.
Ele colocou o dedo no leitor ao fim das escadas, mas do doutro lado havia algo diferente da ansiada liberdade. Um moicano vivo ladeado dos homens de preto apontando canos longos em nossa direção. Um sorriso presunçoso se esticava na boca de Guilherme.
— Sinto o prazer em te informar que você ficou burro. Não posso acreditar que contava com a funcionalidade desse plano estúpido.
Imediatamente Justin me puxou para trás do seu corpo, me obrigando a descer um degrau. Ouvi o grito silencioso de um neurônio guerreiro em meu cérebro me culpando pelo que se sucederia. Eu não estava apenas cometendo suicídio, levaria Justin comigo para o buraco.
— O que você quer, Guilherme? Não tem mais o que fazer? Brad vai ficar muito contente em saber de suas interferências diretas em contratos alheios — disse Justin pausadamente, direcionando toda a culpa para aquele traste. Eu admirava sua capacidade de não se apavorar – Você tem sorte de eu não ter estourado sua cara ainda.
Guilherme respondeu com um sinal na cabeça e os homens ao seu lado avançaram em nossa direção.
— Na parede, Bieber – um deles mandou, a voz incisiva.
Justin bufou, se recusando. Eles firmaram as armas nas mãos, mostrando que não estavam blefando. Aquilo não o intimidava, mas me fazia tremer da cabeça aos pés. Eu nunca tivera uma arma apontada na minha direção, dava para sentir a morte nos rondando, se o dedo deles escorregasse...
Virando a cabeça ligeiramente, os olhos de Justin alcançaram os meus para passar a mensagem alarmantemente tranquila. Mesmo que eu soubesse ser insano, parte do um corpo confiava em sua promessa visual de que tudo estava sob controle. Dando um sorrisinho provocante, soltou minha mão e se colocou contra a parede, as palmas abertas ao lado da cabeça.
— Qualquer gracinha e isso vai terminar pior pra você — o homem barbudo avisou, entregando sua arma para seu gêmeo de modo que pudesse revistar o corpo de Justin.
O mais carrancudo manteve a mira, se aproximando para inibir qualquer movimento.
— Só quero entender qual autoridade vocês têm para me submeter a isso. George não gosta que constranjam sua família — disse Justin ardilosamente.
— O fato é que você está ficando obsoleto e interceptamos Ryan obstruindo as câmeras. Assim que eu soube onde Faith Evans estava, previ que você faria alguma burrada. Essa garota te faz perder o centro. Espera só Brad descobrir o que você fez e o que planejava. Martinez era um dos preferidos dele — Guilherme quase cantarolava, tão feliz como se houvesse descoberto a cura para o câncer. Mas curar pessoas não combinava com seu estilo.
— Eu fiz um favor, ninguém aguentava aquele homem bêbado — Justin debochou.
— Realmente — ele riu — Nem acredito que vou me livrar de vocês dois em um dia só. Sem contar o Ryan que às vezes consegue ser um pé no saco.
O sorriso no rosto de Justin vacilou.
— Pena de traição não é tão indolor, você sabe. Nesse quesito seu amigo Christian se deu bem. E eu vou ter o prazer de ver seu julgamento de perto.
Identifiquei em Guilherme a amargura em meio sua empolgação. Eu podia estar errada, mas suspeitava que fosse motivado por vingança. Justin me dissera ter feito alguns inimigos, do mesmo modo, não deixava de ser intrigante o fato de ter provocado tamanho ódio em um “colega de trabalho” para merecer isso. 
Fiquei atenta ao rosto de Justin com a menção de Christian, mas ele me surpreendeu:
— Não seria um show completo da realeza sem o bobo da corte.
Conforme armas de todos os tipos e tamanhos eram tiradas da revista e colocadas nas mãos de Guilherme, seus olhos escuros astutos se voltaram para mim. Imaginei que sentiria um medo violento ao ser alvo de sua atenção, contudo, ter envolvido Hanna apenas deixava um buraco negro de raiva dele. Elevei meu queixo como desafio.
— Posso te fazer desfrutar de um espetáculo como prévia. Você aceita ser minha assistente, querida?
Mordi a língua, detendo minha vontade de mandá-lo para o inferno. Eu não estava em vantagem para tanta ousadia. Justin travou o maxilar.
— Imagine só, ainda vou concluir um contrato de grande valor moral e monetário. Tenho certeza que vou ganhar uma promoção. E acho que Martinez pensava em ser mais condolente com o serviço.
Cruzei os braços para demonstrar força. Minha careta de dor com a pressão feita em minha mão me desmoralizou.
Com certo receio, o segurança se agachava para revistar as pernas de Justin como se pudesse levar um coice. Eu não duvidava. Se possuíamos algum plano, aquela era a hora de executá-lo.
Absorvi várias coisas ao mesmo tempo. Numa resposta imediata impressionante, vi Ryan surgir por trás de Guilherme e lhe dar um empurrão  — que derrubou todos aqueles instrumentos mortais no chão —, colocando ambos para dentro. A mira que estava em Justin se desviou para ele, não de forma rápida o suficiente, Ryan teve margem para atirar primeiro, e aquele borrão de terno se arqueou em minha direção, empurrado pela gravidade. Desviei-me a tempo para não virar um pino de boliche e observei a reação lenta e surpresa daquele que se ocupava de Justin. Antes que ele pudesse se levantar, a planta do pé de seu revistado atingia o meio de seu peito. Ouvi outro estouro, só para identificar que Ryan atirara no leito da porta após fechá-la, nos isolando da agitação que começava lá fora.
Guilherme milagrosamente se equilibrou e avançou sobre Ryan. E num instante, aquilo se tornara um campo de batalha. Recuei para não ser atingida, dividindo minha atenção entra as duas lutas, fechando a mão em punho, fisicamente preparada para ajudar o lado que mais precisasse — uma ilusão que não fui capaz de deter. Mesmo que eu soubesse o que fazer, não seria possível. Eram quatro assassinos treinados se enfrentando, seus movimentos se tornavam praticamente imperceptíveis aos meus olhos. Em questão de segundos, todos estavam desarmados, os objetos fatais espalhados pelos degraus. Se eu pudesse manuseá-los, aquela seria minha chance de ser útil.
Abaixei-me para pegar um canivete caído próximo ao meu pé, e assim que o alcancei, Guilherme bateu a cabeça de Ryan contra a parede, desabando-o no chão de uma forma nada natural. Uma mão invisível apertou minha garganta. Ryan estava morto?
Não tive tempo de tentar entender a cena, seu agressor se voltava para mim.
— Faith, corre! — Justin bradou entre os socos que empenhava, preso em sua própria luta pela sobrevivência.
Meu cérebro captou a mensagem e enviou o comando para minhas pernas que desafiavam a ciência, moles demais para manter um ser humano em pé. Sem pensar se daria conta do serviço, disparei, sentindo que a qualquer momento seria puxada pelo cabelo, e se caísse não conseguiria me colocar em pé outra vez.
Dificultando meu trabalho, o homem baleado por Ryan estava caído ao final das escadas, me obrigando a pular. Meus músculos vacilaram assim que meus pés entraram em contato com o piso plano e eu quase desmontei ali mesmo.
— Não tem pra onde ir, Faith Evans.
Ignorei o aviso, submergindo a lógica pelo desespero que quase me afogou quando cheguei a extremidade do cômodo, do lado contrário do armário horripilante. Com as costas paralelas à parede, me virei para ele, apontando o canivete em sua direção.
— Eu juro que se você se aproximar de mim eu arranco sua orelha — ameacei, usando como combustível toda a minha fúria para ser convincente.
Ele de um sorriso de aprovação pela minha bravura, se detendo onde estava. Desconfiei que fosse mesmo efeito da minha ameaça já que ele girava uma arma nos dedos — provavelmente resgatada do chão.
— Sabe o que me impressiona em vocês dois? Teimam em insistir em uma coisa que vai contra a ordem natural — deu um passo para frente.
— Do que você está falando, idiota? — me arrastei pela parede, aumentando nossa distância.
— Você sabe do que é. Faith, aceita que vocês só fazem mal um para o outro, vão acabar se destruindo. Na verdade, acho que acabaram de fazer isso — outro passo.
— Você vai acabar se destruindo se não se afastar de mim.
— E o mais estranho, mesmo depois de descobrir tudo, você ainda está caidinha por ele. Como pode gostar de alguém condenado ao inferno?
— Você não sabe nada sobre ele — rebati entre dentes.
Ele achou engraçada minha reação.
— É realmente intrigante observar vocês dois, mas não tanto assim. Portanto, abaixa esse brinquedinho, você não quer se machucar agora.
Ao contrário de usar sua arma para me coagir, ele a guardou no cós calça, voltando a investir seus passos em minha direção. Guilherme queria me humilhar, provando que não precisava de ajuda para me render. Eu não acreditava no meu potencial tanto assim, mas não me subestimaria, meu gênio não me deixaria cair sem lutar.
Respirei fundo algumas vezes, me concentrando em seus movimentos. Então tive uma ideia. Ninguém acordara um jogo limpo. Estando ele perto o suficiente, utilizei as duas mãos para empenhar com brutalidade o canivete em direção do seu ombro. Como o previsto, suas mãos agarraram meu pulso antes que o atingisse. Mas enquanto se preocupava em deter esse golpe, lhe dei uma joelhada com toda a força inexistente em minhas pernas.
Semelhante ao ocorrido com Justin, ele arfou e se arqueou. Contudo, não me soltou.
Improvisei, sabendo do abatimento de suas forças impulsionei minhas mãos para baixo, voltando ao plano inicial. Guilherme me empurrou contra a parede, me desnorteando, e se aproveitando de minha guarda baixa, desferiu um tapa pesado em meu rosto, espalhando uma dor crescente em minha bochecha. O impacto me jogou no chão, mas não foi capaz de afrouxar meus dedos em torno do canivete. Por isso, ele pisou em minha mão. 
Ótimo, eu teria que amputar as duas agora. 
Resisti por mais algum tempo até que o latejar se tornasse insuportável, me obrigando a ceder. Enquanto ele se preocupava em chutar o instrumento, empurrei meu pé contra o joelho que o apoiava no chão, consequentemente, ele se desequilibrou e vi todo aquele amontado de músculos cair em minha direção.
Tentei rolar para o lado, mas suas mãos se apoiaram aos dois lados do meu corpo, igualmente o fez com os joelhos quando estes atingiram o chão.
— Você só está se envergonhando, pare com isso — aconselhou. A voz se assemelhava a um gemido de dor.
— Não é o que parece — retruquei, me debatendo no chão como um peixe fora d’água.
Ele agarrou meus pulsos outra vez, cruzando meus braços acima da minha cabeça.
— Tony, não é para matá-lo, você sabe que haverá um julgamento — disse ele num tom mais alto. Nós podíamos ouvir a disputa na escada, drasticamente para mim, não dava para prever quem vencia — E ele precisa ver uma coisinha antes — acrescentou, me dando uma piscadela.
Projetei minhas costas para frente, não me dando por vencida no intuito de derrubá-lo de cima de mim.
— Eu vou arrancar sua cabeça, Guilherme!
Ele riu da minha ameaça inútil. Ambos sabíamos da minha impossibilidade física e mental de concretizá-la.
E então alguma coisa mudou lá em cima, pelos gemidos e continuidade de golpes, dava para notar que alguém perdia.
— Vamos fazer nossas apostas? Tony não sabe se controlar muito bem, ele também cresceu na Companhia, foi resgatado da rua. Sua raiva nunca acaba então não é sempre que mata com intenção.
Eu passava a entender melhor aquela história de crescer sem ser compreendido. Até onde eu sabia, fora o mesmo que acontecera com Justin. Eles se voltavam contra o mundo porque o mundo se voltara contra eles primeiro. Isso era aterrorizante, me imaginar crescendo sem amor era aterrorizante. Por um segundo consegui pensar nos irmãos de Justin. Eu estava roubando suas chances de receberem o mínimo da vida? Se tudo acabasse mal...
Um arrepio desceu por minha espinha quando minha mente pintou o cenário trágico. E eu não sabia se era um truque mental, mas o ruído de um tombo combinado com um protesto vindo do fundo da garganta de Justin ecoou, reforçando a imagem. Guilherme me deu um olhar significativo de: “eu te avisei”.
— É isso o que acontece com garotinhos mimados — aquela não era a voz que eu esperava ouvir.
— Tony — Guilherme repreendeu, franzindo a testa na direção da escada.
Se ele estava preocupado, não era bom sinal. Engasguei com o pânico, forçando meus braços para baixo freneticamente.
Não foi mais rápido que o estouro cortando o ar, se adiantando ao meu grito por seu nome, um plano ridículo para ajudá-lo de alguma forma.
Meu coração falhou.
O ser desprezível em cima de mim xingou em alto e bom tom, parecendo sentir a oportunidade escapulir entre seus dedos. Usei seu momento de distração para jogar todo meu peso para a direita. Ele tombou de lado, e com dificuldades de respirar, me ergui, me preparando para correr ao encontro do meu coração, a alguns metros de distância. 
Não cheguei a dar um passo e sua mão agarrou meu pé, me derrubando outra vez, espalhando todo o meu desespero no chão e me forçando a me apoiar nas palmas das mãos que protestaram de dor.
— Vamos ver juntos — disse ele, se levantando — Mulher, foco — resmungou, me erguendo pelo braço. Sua voz estava distante, cada órgão do meu corpo se sentia na liberdade de terminar o expediente mais cedo.
Sofri um ataque de lapso de memória e quando voltei a mim, Guilherme estava me soltando. Até cogitei ser compaixão da parte dele com o que encontraríamos ali no fim da escada, mas escutei o palavrão alto que expeliu enquanto cambaleava para trás. Numa visão mais atenta, vi Justin empurrando o corpo de Tony que jazia em cima dele, portando uma arma em sua outra mão. Naquele momento consegui respirar.
— Suba Faith! — me instruiu com pressa.
Liguei meu raciocínio outra vez e pulei os degraus, me lançando para frente. Contive o impulso de abraçá-lo quando ele passou correndo ao meu lado, totalmente focado em Guilherme com olhos homicidas. Eles se encontraram em um impasse, ambos apontando um cano longo e preto para a testa de seu adversário. Notei que a blusa branca de Guilherme passava a se tornar vermelha no braço esquerdo, o mesmo que outrora usara para me arrastar.
Contrariando minha obsessão de não tirar os olhos deles, me voltei para Ryan. Sua testa escorria um suor pegajoso avermelhado pelo corte do lado direito, mas aquilo não podia significar que estava morto. Não podia. Justin não perderia mais um de seus amigos.
Coloquei a mão em seu pulso e me concentrei para sentir os batimentos. Após algumas tentativas, pude identificar com alívio seu coração.
— Ryan? — sussurrei, colocando a mão em seu ombro.
— O que acha de jogarmos limpo, Justin? É um longo período de disputas para acabar assim. Você solta ao mesmo tempo em que eu e podemos fazer isso como nos velhos tempos. Se lembra?
— Ryan? — chamei outra vez, desenrolando o lenço da minha mão para limpar o sangue em sua testa.
— Como posso esquecer? Você perdia todos.
— E você só perdia para Annelise, certo?
O nome feminino pronunciado com tanta devoção por Guilherme naquele contexto me chamou atenção em um instante. 
Foco, Faith, foco.
— Ryan, acorda — insisti, me sentindo idiota. Não era assim que se acordava alguém de uma síncope.
— Certo. Você ainda não superou.
— E ela ficaria estupefata se soubesse que você já. Aliás, o que ela acharia desse seu caso com uma filhinha de papai? Vocês não costumavam rir juntos das elites? Particularmente, acho que dos Evans.
Ignore Faith, ignore.
— Ryan — meu tom me pareceu irritado. Eu estava me deixando afetar.
— Bom, as pessoas seguem em frente, o que não parece ser seu caso. Não sei o que você ainda faz aqui. Deveria tentar a sorte outra vez, tendo em vista que não estou mais por perto.
— Abaixa essa droga e vamos nos enfrentar como homens! — todo traço bom humorado sumiu da voz de Guilherme.
— Sabe, eu não tenho culpa dela ter me escolhido ao invés de você.
Que história era aquela?!
— Ryan, se você não acordar eu vou ter um ataque totalmente inapropriado para o momento e ser baleada.
E mais essa. Estava responsabilizando um desacordado por meus atos.
Guilherme riu com ironia.
— Mudei de ideia, vai ser igualmente satisfatório te matar primeiro e ver seu olhar de desespero antes ao saber que deixará sua querida desamparada, a mercê de um desequilibrado. E eu te prometo Bieber, ela vai sofrer muito antes de se esgueirar para o purgatório.
— Tudo bem, me convenceu.
Eles jogaram seus armamentos no chão e se chocaram um contra o outro em outra disputa corporal nutrida de puro ódio.
— Ryan! – num movimento impensado belisquei seu braço, já era o auge da angústia.
Sua cabeça e olhos não estavam inchando, e não havia sinal de hematoma visível, a não ser o corte na testa. Aparentemente, não poderia ser caracterizado traumatismo craniano. Mas apenas um exame poderia confirmar então eu não podia mexer nele. E isso por si só já era uma merda. Acrescentando ao fato de não termos como ligar para ambulância e algo me dizia que os grandões lá fora não se importariam em deixá-lo morrer.
Justin e Guilherme já levavam sua briga para além do meu campo de visão e minha cabeça latejou.
Tão inútil tão inútil.
Cravei minhas unhas no rosto com um grunhido.
Um lembrete inconveniente do esparadrapo que eu vira no peitoral de Justin na noite anterior ampliou meu mar de desespero, ele ainda não havia retirado os pontos. Eu tinha certeza que os estourara outra vez.
Não sei por quanto tempo me deixei estar naquela impotência angustiante para concluir que não havia como ajudar Ryan naquele momento.
Como se tivesse sido iluminada por uma grande ideia, me levantei, portando um propósito nobre e um utensílio que parecia estranho e deslocado em minhas mãos doloridas. Eu não fazia a menor ideia de como aquilo funcionava, mas esperava que uma inspiração divina me ajudasse quando desci as escadas depressa.
Guilherme estava encurralado na parede, levando golpes de todos os lados. Me preparei para quando o jogo virasse, levantando minhas mãos trêmulas que faziam o metal frio ficar instável sobre as gotículas de suor. Usei a esquerda para firmar o pulso da direita para que parasse de tremer tanto. Eu precisava ser precisa. Orei para que houvesse exceções nos mandamentos, já me condenando caso aquilo desse certo. A lei estava ao meu lado, era legítima defesa de terceiro, eu tinha que entender isso.
Inspirei mais vezes do que expirei. Eu não queria fazer aquilo.
Mas precisava.
Talvez não precisasse.
Deus, por favor, que não precise.
No exato momento, Justin deu um soco no rosto de Guilherme que o fez cair no chão, cuspindo sangue. Seu rosto todo desfigurado me deu arrepios. Justin chutou seu estômago uma vez e eu estremeci. Assim, me localizou por sua visão periférica. Sua testa se vincou.
Num riso frouxo e irônico, Guilherme murmurou:
— Cara... Você é mesmo uma péssima influência.
Justin voltou sua atenção pra ele, se abaixando perto de seu rosto.
— E sabe o que mais? Não quero jogar limpo, só quero que você morra. Mandarei abraços para Annelise — então o pegou pelo colarinho e tirou sua carta da manga. Ou da calça.
Desviei o rosto quando aconteceu, e dessa vez, ele não estava com silenciador.
Seus passos arrastados vinham na minha direção quando o olhei novamente, evitando ver o que deixava para trás. Naquele momento entendi aquele ditado sobre vingança. Não estava aliviada por Guilherme acabar daquela forma. Com a chance certa, ele poderia ter encontrado alguém por quem valesse a pena mudar e se redimir antes de partir dessa terra.
Então ainda estava rígida quando Justin parou a uma distancia segura de mim.
— Faith, o que acha de abaixar isso? — sugeriu, olhando com cautela para minha mão.
Naquele momento, não tive controle sobre meu corpo tenso, esquecendo qual movimento seria necessário para relaxar meus dedos tão dificilmente posicionados.
Justin direcionou os olhos aos meus, devagar segurando em volta dos meus dedos. Só assim, consegui soltar aquela droga e meu corpo parcialmente descansou.
Um misto de emoções tomou conta de mim, e não me importando em premeditar aquilo, me joguei em seus braços, descansando o rosto em seu pescoço. Hesitante, Justin envolveu suas mãos em minha cintura, retribuindo meu abraço. Me afastei o suficiente para que pudesse olhá-lo, fazendo um exame rápido.
— Not a scratch on this pretty boy (Nem um arranhão nesse garoto bonito)* – me tranquilizou com um sorrisinho presunçoso.
Não era inteiramente verdade, eu podia ver um corte pequeno no canto de sua boca e eu sabia que ele não passava blush, então as maçãs de seu rosto estavam com hematomas. Mas dei uma risadinha, desfrutando o fato de ainda estarmos vivos, de podermos ao menos ter aquele tempo juntos para nos abraçar e ver seu sorriso desatinado antes que achassem uma forma de abrir aquela porta e nos jogar aos lobos.
Mesmo que não estivesse totalmente bem, para mim ele continuava impecável, com traços exclusivamente fascinantes para um ser humano. As palavras fugiram da minha boca, e não me importei com aquilo, talvez fosse minha última oportunidade:
— Eu te amo, Justin.
Secretamente apreciei o modo como soavam, como se fosse uma das maiores certezas que eu possuía, embora fosse errado. Mas ali, isolados de todo o restante do mundo, aquela era nossa verdade, paralelamente correta, irracionalmente bonita.
O choque atravessou sua expressão, deixando-o sem fala. Era compreensível, eu praticamente o desenganara no dia anterior e não sabia dizer se em circunstancias diferentes admitiria aquilo, nem mesmo para mim. É o que dizem, você não dá valor ao que possuí até perde-lo, ou no meu caso, até quase perde-lo e ao estar prestes a perde-lo.
Eu era abençoada por ter aquele pedaço de tempo e o ensejo derradeiro de poder concretizar meu sentimento. Então não dei espaço para que pensasse, pressionando minha boca contra a sua, talvez forte demais para ser considerado um beijo, influenciada pelo desejo de fundirmos nossa alma.
Ele saiu do estado de paralisia, pressionando meu quadril contra o seu e usando uma das mãos para entrelaçar os dedos em meu cabelo, transformando meu gesto no que deveria ser, se enlaçando em mim, ganhando vida sob meus lábios. Então os segundos se eternizaram, daquela forma que só ele conseguia fazer. Meu corpo ganhou vida novamente, e não entendi como consegui viver sem aquela sensação antes.
Seu beijo tinha um gosto diferente naquele dia, uma urgência real escondida por todo o afeto que trocávamos em nossa angústia de termos aqueles momentos roubados. Sei que senti cada parte de sua pele mesmo que coberta por alguns tecidos de roupa, absorvendo sua existência, profundamente implorando para que não acabasse. Em certo ponto, beijei seu rosto; seus olhos, sua testa, a ponta de seu nariz, suas bochechas, e logo seu pescoço. Permitindo que fizesse o mesmo em seguida.
Ele não sabia, mas aquela já era sua forma de me dizer que havia uma probabilidade muito grande de tudo terminar mal. E por incrível que pareça, eu não lamentava, não naqueles minutos, eu tinha tudo o que poderia querer ali, bem em meus braços.
— Meu Deus... Eu estava morrendo lá em cima e vocês super se importando com isso aqui embaixo.
A voz de Ryan quebrou nossa privacidade, trazendo um novo tipo de alegria. Ele não estava morto.
Ainda.
— Vocês podem reservar isso para mais tarde, agora precisamos sair daqui, eles estão serrando a porta — contou com tedio, aborrecido com o fato com a mesma intensidade que eu me chateava com moscas me rodeando.
Se eu achava que Justin não se perturbava, acabava de ser criado um novo nível de tranquilidade.