Leitoras com Swag

Hey garotas, beliebers ou não beliebers. Só estava faltando você aqui! Nesse blog, eu, Isabelle, faço IMAGINE BELIEBERS/ FANFICS. Desde o começo venho avisar que não terá partes hots nas Fics, em nenhuma. Repito, eu faço 'Imagine Belieber' não Imagine belieber Hot. A opinião da autora - Eu, Isabelle - não será mudada. Ficarei grata se vocês conversarem comigo e todas são bem vindas aqui no blog. Deixem o twitter pra eu poder seguir vocês e mais. Aqui a retardatice e a loucura é comum, então não liguem. Entrem e façam a festa.
" O amor não vem de beijos quentes. Nem de amassos apertados. Ele vem das pequenas e carinhosas atitudes."- Deixa Acontecer Naturalmente Facebook.
Lembrem-se disso. Boa leitura :)

Com amor, Isabelle.

sábado, 7 de outubro de 2017

One Love 19

O ser humano é semelhante, mas ao mesmo tempo, totalmente diferente. Todos sentimos fome, sono, medo, raiva, alegria, tristeza; somos mortais, nossa pele é facilmente dilacerada, e até certo ponto, temos uma capacidade regenerativa incrível. É a mesma teoria para todo mundo, apenas o processo de cada um diverge. O tempo para a cicatrização de um corte, a superação de um trauma, a restauração de um espírito perturbado.
Então eu sabia, ninguém, na terra inteira, poderia me ajudar naquele momento, bem como não puderam quando Justin se foi. Ninguém tinha a minha carga emocional, minhas vivências, minha visão sobre o mundo. Portanto, nunca me entenderiam. Pior era constatar que nem eu mesma me entendia.
Esperei de tudo de mim para aquela ocasião. Eu pedi todos os miseráveis dias para que Justin fosse devolvido a mim; implorei até estar sem voz, me mantive ajoelhada até estar sem forças, elenquei razões até estar sem argumentos. E num estalar de dedos, quando eu estava cedendo, meu pedido foi atendido. O fato me pegara desprevenida, a ruptura da minha mais triste realidade desabara sobre minha cabeça um jorro de emoções impossível de distinguir.   
Com medo de lidar com meu interior, preferi confirmar minha constatação, prolongando o momento em que teria de tomar a decisão iminente que me cercava. Toquei seu rosto demoradamente, tateando sua sobrancelha, descendo para o nariz, contornando a boca e prestes a finalizar no queixo. Aquele era o formato certo e singular de Justin, não havia como negar. Eu conhecia seus traços como se fosse cega, enxergando-o apenas com minhas mãos.
Tomei coragem para enfrentar o desconhecido. Armazenar uma nova parte dele em minhas memórias queria dizer uma coisa a mais para me despedir quando o perdesse de novo — nada é eterno. Refiz todo o caminho para chegar até sua cabeça, o cabelo pequeno fez cócegas em minhas palmas quando o explorei.
Assim, me permiti descer pelos seus ombros e desenhar riscas imaginárias em cima de suas tatuagens. Os músculos em seus braços permaneciam definidos, talvez até mesmo um pouco maiores, explicitando o motivo de ter me tirado com tanta facilidade de cima de Annelise — não que eu fosse tão forte assim. Acompanhei suas veias até chegar nas costas das mãos simultaneamente, sentindo em seguida suas unhas curtas. Ele virou as palmas para cima para facilitar meu trabalho, deixando-me descobrir cada calo escondido ali. Quando dei por mim, meus dedos se enlaçavam aos seus. Um arfar singelo escapuliu entre meus lábios. Nada seria capaz de descrever aquela sensação.
Voltei a encarar seus olhos, e surpreendentemente, não quis dizer nada, contemplando meu próprio milagre. Não importava quanto tempo passasse, me sentia extremamente agraciada de poder olhá-lo mais uma vez.
— Posso... te abraçar? — ele disse em dúvida, um tanto quanto incomodado com meu choro silencioso.
Ele realmente estava perguntando?
Assenti freneticamente. No próximo segundo, fui puxada contra seu peito com firmeza, num cerco de proteção e conforto. Minhas mãos se fecharam em torno de sua camiseta. Não iríamos a lugar algum se não fôssemos juntos.
E ali, enfim, me senti viva, ouvindo sua respiração e os batimentos cardíacos em um ritmo constante. Nunca um som fora mais bonito do que aquele, uma canção preparada especialmente para mim. Cada segundo de plena angústia que passei escorria por minha bochecha e encharcava a sua roupa, transferindo-se para o mundo exterior e me deixando livre. Uma liberdade doce quase impossível de ser conquistada. Aquela era uma chance em sete bilhões.
Ele acariciou meu cabelo, me deixando chorar, deitando sua cabeça na minha, reforçando a outra parte dele que eu apreendi, uma nova colônia masculina. Por mim, ficaríamos ali para sempre, eternizando aquele reencontro em que as palavras não eram bem-vindas, tão simples para conseguir carregar a emoção pulsando no carro. Minhas perguntas pareciam insignificantes agora, escolhi digerir e apreciar o fato de que Justin estava vivo. Deixei o calor de seu corpo derreter a predominância do gelo em meu mim, do jeito que só ele podia fazer. Assim, descansei em seus braços.

Justin me deu o tempo que eu precisava, parecia suscetível a tudo o que eu quisesse, a minha disposição. Num estalo consciente, entretanto, pensei em Caitlin sozinha com Maya e toda a sua irritação por minha irresponsabilidade. Eu não queria ter de dizer aquilo, mas quanto mais rápido resolvesse aquele problema, mais rápido poderia ficar com ele sozinha.
— Caitlin deve estar surtando — quebrei o silêncio.
— Ela está bem atrás da gente.
— O quê? — arregalei os olhos. Eu me endireitaria para olhar para trás, só que estava muito bem ali.
— Nos seguiu praticamente o tempo todo. Sua expressão não está das melhores.
Quase não prestei atenção ao que dizia, extasiada pela beleza da sua voz.
— Hm... Maya deve estar lhe deixando louca. Será que também ainda não levou Rafael?
Imaginar os três presos num carro daria muito trabalho para minha mente ocupada, contudo, eu fazia uma ideia de que não deveria ser nada agradável.
— Não sei ao certo. Vamos para os bancos da frente?
Vamos. A conjugação no plural, naquele plural, envolvendo como sujeitos eu e ele, parecia uma coisa perdida para mim apenas umas duas horas atrás. Eu não podia ser condenada por ficar emocionada.
Justin me soltou devagar, parecia estar lidando com uma bomba-relógio, qualquer movimento brusco iniciaria a contagem da explosão. Fez bem. Tive dificuldade em desenroscar meus dedos de sua camiseta, e quando saí do carro, praticamente corri para o banco da frente, me sentando primeiro que ele.
O silêncio que se instalou outra vez não me incomodava, dentro da minha cabeça se repetia algum som celestial — com trombetas e arpas — se adequando a visão divina ao meu lado. Por outro lado, Justin parecia um pouco desconfortável, e ligou o rádio novamente. Só aí percebi que o havia desligado antes.
Toda a sua mandíbula parecia tensa durante o percurso, embora ele batucasse no volante, um gesto que atribuí como calculado para que transparecesse tranquilidade — o que não funcionava. Provavelmente, ser foco fixo do meu olhar contribuía para seu nervosismo. Estava aí uma coisa que eu não podia lhe ajudar. Ugh. Os clichês estão terrivelmente certos. Olhar para ele era como ver fogos de artifício das mais diversas cores e formatos explodindo no céu azul.
O carro parou rápido demais. Aquela bolha construída apenas para dois estava ameaçada por um alfinete inconveniente em formato de cabana. Eu já conseguia vê-la pela visão periférica. Não tivemos tempo de mais nada, ouvindo os gritos de Caitlin ecoarem lá fora.
— Cadê ela?! — o som da porta de seu carro se fechando com um estrondo seguiu sua voz.
Justin fechou os olhos por um segundo e os músculos em seu rosto se enrijeceram gradualmente. Só saí depois que ele o fez, contornando o veículo para ficar ao seu lado em prontidão.
Caitlin marchava até nós dois com o cabelo esvoaçando furioso no vento leve do início da noite. Entretanto, seus olhos transtornados direcionavam-se apenas à Justin.
— RYAN! — bradou, fechando as mãos. Se ele saísse naquele momento levaria um soco, se não saísse, seria esquartejado. Conseguíamos ver seu Porshe preto alugado estacionado igualmente em frente à cabana.
Atrás de Caitlin, a porta traseira do seu carro se abriu, e de lá saiu, ninguém mais, ninguém menos, que Rafael.
— Faith? — me chamou aflito.
O rosto tão bem composto de Justin se distorceu inteiro para representar incredulidade.
— Caitlin? — ele indagou, sem precisar exatamente deixar explícito que exigia explicações.
Ela apenas lhe jogou um olhar de desprezo e gritou de novo:
— RYAN!
De repente, Rafael brotou na minha frente, pegando minha mão com ansiedade, a respiração desregulada.
— Meu Deus, você está bem?!
Por um instante o olhei para concordar com a cabeça, depois me certifiquei de que Justin ainda não havia desaparecido. Ele ainda encarava Caitlin, cada vez mais irritado.
— Por favor, me explica o que está acontecendo? — Rafael me pediu.
— R Y A N!!!
Ryan saiu da cabana, o rosto exasperado, com raiva quando olhava para Justin e uma culpa camuflada ao fitar nós duas. Ele não se surpreendeu por ver Rafael.
— Você vai me explicar isso agora ou vou precisar socar alguém primeiro? — ela apontou para Justin, quase dando pulinhos no chão de tanta raiva.
Ryan cruzou os braços, transferindo toda a acusação para Justin.
— Você quer explicar ou vai deixar que eu me ferre mesmo?!
— Primeiro eu quero saber o que esse cara está fazendo aqui — Justin requisitou, o tom mais controlado do que de qualquer um ali, porém, mais firme e autoritário.
Rafael lhe olhou de cima a baixo, arqueando uma sobrancelha. Como se precisássemos de mais tensão no ar.
Caitlin bufou.
— Típico! Você está devendo mais do que o demônio à Deus e se acha no direito de exigir coisas! — ela bateu as mãos nas pernas. O som produzido dizia que suas coxas ficariam avermelhadas.
Com uma calma humanamente impossível, ele passou o macacão, que ainda vestia da cintura para baixo, pelas pernas, fechando o zíper e dobrando meticulosamente. Sinal de que não diria nada enquanto não tivesse sua própria resposta. Pensei que Caitlin explodiria sua cabeça só com o olhar.
— Quando Caitlin voltou, Maya havia fugido da árvore, então ela não quis deixar Rafael sozinho e o trouxe para cá. Fui consultado sobre isso. Pensei que não haveria problema — Ryan deu uma de intermediador, esclarecendo para Justin por mais que também estivesse bravo com ele. Ele conhecia Justin há muito mais tempo que nós duas, devia saber que o amigo não cederia. Mas recebeu um olhar feio de Caitlin por isso.
Vai continuar ao lado dele? Ela o desafiava, acuando Ryan.
— Viramos uma pensão agora? Ótimo — Justin comentou ríspido, mais carrancudo do que quando lhe foi recusada a resposta.
Alheia a todo aquele circo, eu quase sorria por poder apreciar quão maravilhoso Justin ficava em calça Jeans.
— Vai se foder, mas antes comece a falar, seu imundo — Caitlin avançou — Faith, venha para cá.
Fiquei confusa até perceber que aquele era um tribunal. Caitlin estava de frente com Justin, atrás de uma linha imaginária, como juíza e promotora; Ryan estava no meio dos dois como testemunha; Justin como o réu; Rafael fazia parte do júri; e para mim, só sobrava o papel da vítima, eu não podia ficar ao seu lado para parecer com uma advogada de defesa. Justin teria que montar toda a sua defesa.
Faculdade de Direito nunca foi uma opção para mim, eu não faria parte de um júri simulado agora.
Plantei meus pés no chão, plenamente capaz para decidir por mim mesma.  
— Espere aí... Eu te conheço... — Rafael começou a falar, apertando os olhos para analisar Justin melhor — Você é o cara das péssimas ideias! — lembrou-se. O clareamento da expressão pela lembrança logo deu espaço para uma irritação que franzia sua testa — Estava fazendo de propósito então?!
Cara das ideias?
Justin captou meu olhar confuso e passou a mão no rosto com cansaço.
— Esse é um assunto particular, você pode... — ele pensou um pouco nas opções, mal-humorado ao perceber que não lhe restavam muitas — Entrar? — apontou para a cabana, olhando Rafael com o mais parecido com educação que ele podia.
Rafael deu um riso de escárnio.
— Você me sacaneia e espera que eu te faça um favor? Quem é você, afinal?
Vi a mão de Justin se fechar em punho e se abrir duas vezes, eu sabia o que aconteceria na terceira, precisava intervir. Olhei diretamente para Rafael.
— Por favor, Rafael, você pode entrar? Eu prometo que te explicarei tudo logo em seguida.
Ele resistiu, ainda direcionando o olhar agressivo a Justin. Apertei sua mão que ainda segurava a minha, chamando atenção para minha expressão persuasiva. Ele respirou fundo com desgosto.
— Me chama se precisar, ok?
Dei um sorriso mínimo de gratidão, atenta ao sorriso irônico no rosto de Justin.
Todos ficamos imóveis naquele ar carregado até que Rafael estivesse dentro da cabana, após dar uma última olhada para nós quatro.
— Não esqueça de incluir na sua explicação patética o que Rafael estava falando —  Caitlin acrescentou, cruzando os braços. A reação dela, para quem acabava de descobrir que o amigo estava vivo, confirmava minha dissertação sobre a singularidade das pessoas.
Justin olhou para o céu. O azul se tornava cada vez mais escuro, e se olhássemos direito, já seria possível ver o brilho de algumas estrelas corajosas, embora o expediente do sol não houvesse se encerrado por completo. A luz da varanda da cabana estava acesa, o que auxiliava na iluminação. Porém, não seria suficiente, de onde estávamos, quando a noite resolvesse dominar de vez o ambiente. Talvez ele estivesse pensando justamente nisso, ou apenas prolongando o que falaria.  
Água fervente começou a borbulhar em meu estômago, e precisei de um tempo para entender o motivo. Eu queria permanecer naquele estado, não tinha intenção de permitir que verdades se colocassem entre nós. Precisava aproveitar o fato de que ele existia em meu mundo novamente, sem complicações que pudessem se erguer como barreiras a partir do que ele dissesse. Justin contaria o porquê de ter nos abandonado, sem fazer contato nenhum por meses, nos deixando pensar que estava morto. Havia a possibilidade de não ser culpa sua, como se tivesse sido coagido. Mas era uma dentre milhares de alternativas medonhas ameaçando estragar meu sonho tão cedo.
O ar saiu devagar da boca de Justin e ele olhou para cada um de nós antes de começar. Prendi a respiração.
— Vocês sabiam que era uma alternativa — falou ele, se fixando em Ryan e Caitlin.
— Não. Não nessas circunstâncias. Foi um devaneio despretensioso. Nunca imaginamos que o concretizaria. Acreditamos que nos avisaria caso pensasse seriamente que essa era uma alternativa. Éramos uma equipe — Caitlin despejou toda a sua mágoa, negando qualquer participação aparente — A não ser que um de nós sabia — ela olhou atentamente para Ryan.
Ele levantou as mãos.
— Ele não sabia até a madrugada de terça feira — Justin entrou em sua defesa — Ou seja, passou apenas um dia e meio sabendo antes de vocês...
— Você sabe o que, diabos, acontece em um dia e meio?! Você tem noção de como essa alma estava ontem à noite?! — Caitlin apontou para mim, ela estava um passo à frente da histeria — Eu não acredito que você a deixou passar por tudo aquilo e ficou calado! Você tem noção de como foi esse dia pra ela? Ryan, você a aconselhou durante a madrugada! Como teve coragem de continuar mentindo?!
— Ryan não havia concordado com isso, desde que descobriu ele queria... — a voz de Justin ficou mais fraca.
— Isso não quer dizer que ele falaria! Vocês são farinha do mesmo saco! Me diz, Justin, foi contra a sua vontade? Te sequestraram? Te impediram de falar conosco antes?
— Não, mas...
— Você vai ter que se esforçar muito pra conseguir um pingo da minha misericórdia. Caso contrário, vai preferir ter continuado morto. Por que não permaneceu assim, aliás?
— Caitlin — Ryan lhe repreendeu, alcançando seu braço. 
Ela se soltou dele com ímpeto, se afastando.
— Ele tem que ouvir. Se acha no pleno direito de machucar as pessoas, mas não quer que o favor seja retribuído?!
Caitlin estava completamente descontrolada. Cogitar que tivesse um ataque cardíaco não era exagero meu.
— Eu sei, Cait, você pode, pelo menos, me ouvir?
Parecendo prever que estava prestes a ir ao hospital, ela se limitou a sorrir com zombaria e gesticular exageradamente com as mãos para que ele prosseguisse. Seus pés a levaram de um lado para o outro em um curto trajeto, como um animal selvagem estudando o melhor momento de avançar em sua presa.
— Eu precisava me livrar deles, não aguentava mais aquela carga familiar, queria construir eu mesmo um futuro pra mim — ele me olhou de soslaio, um sorrisinho triste no rosto ao relembrar o plano que fizera para alcançar sua plena realização na terra — Queria procurar minha mãe e meus irmãos, e descobrir o contratante de Faith. Precisava fazer isso fora do radar. E sensatamente eu queria vocês três comigo. Foi um plano de última hora.
Ele se perdeu em seus pensamentos, lutando contra si mesmo para contar o ápice de sua decisão. Seria tão ruim assim? Annelise estava certa e ele havia me deixado por que se cansara de mim? Essa foi sua forma de se livrar de uma garota problemática e rica de Boston? Eu me lembro de Guilherme dizer sobre os Evans serem uma piada para Justin e Annelise.
Repentinamente, seus olhos pararam em mim.
— Foi por você — um arrepio de temor desceu por minha espinha. Não havia volta agora — Naquele último dia, te vi com uma arma na mão apontando para Guilherme, ele disse uma coisa que fez todo o sentido. Eu já havia pensado naquilo outras vezes, mas ouvir de outra pessoa foi diferente. Estava claro que desde que entrei na sua vida eu só destruí você. Queimei seu quarto, menti pra você, ameacei sua família, e no fim, estava mudando quem você era. Você ficaria melhor sem mim, teria uma vida mais normal, longe dessa onda de assassinatos e toda a sujeira que tem no meu mundo. Por mais que eu recomeçasse, eu não podia simplesmente nascer de novo. Uma vez alguém me disse que amar alguém é negar a sua própria felicidade para que o outro seja feliz. E o que eu mais queria, era a sua felicidade. Te amei tanto que não suportava a ideia de te destruir com minha presença egoísta. Pensei que com a minha morte aparente eu te libertaria.
Justin não era uma pessoa que gostava de se abrir, e muito menos com mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Eu tinha noção de como aquela exposição estava sendo difícil pra ele. Cada palavra foi empurrada para fora de sua boca, ele nos devia uma explicação. E agora esperava as consequências disso. Consequências desconhecidas por todos os presentes ali. Era informação demais para ser apreendida e digerida tão facilmente.
Tudo aquilo se resumia a mim?
Eu não conseguia respirar.
— Mas como você... ? — perguntei rouca, quase inaudível — Quer dizer, a gente viu o fogo.
Ele quase sorriu, numa tentativa de encontrar uma expressão para lhe dar segurança.
— Consegui sair antes. Pulei do telhado para a rua de trás e disparei o dispositivo. Esperei ali até que vocês fossem embora em segurança.
Ele esperou. No fim, eu não estava totalmente louca ao sentir sua presença por perto, procurando-o na minha busca frenética. Ele me ouvira gritar por seu nome seguidas vezes, e provavelmente viu a agonia distorcer meu rosto a cada milésimo que se passava. E mesmo assim, não fez nada.
— Fiquei um tempo em Boston, fazendo minha própria investigação, atrás do seu contratante. Mas sempre que achava ter descoberto alguma coisa, dava de cara na parede. Passou-se o tempo e vi que não te perturbavam mais. Cogitei a ideia da Companhia em si ter forjado o contrato. Não seria surpresa para mim se aquele fosse um jogo do meu tio para tentar me provar alguma coisa. Confiei em Ryan para a sua segurança e dei seguimento nas outras questões. Descobri o paradeiro da minha mãe e fui encontrá-la...
— Na Califórnia? — interrompi.
Confusão distorceu seu rosto.
— No Canadá.
Todos nos viramos para olhar Ryan.
— Elas fizeram perguntas, eu te disse que tive que inventar alguma coisa — admitiu em voz baixa.
Outra mentira. Justin não nos deu tempo de reagir.
— Voltei para Boston para ver como vocês estavam e descobri que haviam se mudado para Minneapolis. Vim atrás e me certifiquei de que apenas queriam recomeçar a vida daqui. Depois me aprofundei nas pesquisas sobre meus irmãos, e descobri que estavam o tempo todo em Boston — ele me olhou significativamente — Maxon e Yasmin.
Levei a mão à boca, como se pudesse conter o impacto. Eu havia cogitado a ideia, descartei-a, cogitei outra vez. Vê-la se tornar concreta era uma coisa bem diferente. Maxon e Yasmin eram umas das crianças mais adoráveis que eu havia conhecido, não mereciam ser fruto de uma história tão conturbada como essa. Mas para Justin, ele não podia ter ganhado irmãos melhores do que os dois. Nós os adorávamos.
— George os mantinha guardados por um membro da Companhia lá dentro do orfanato. Mas, consegui pegá-los e os deixei no Canadá com Patricia. Eu não ficaria com eles até ter a história do seu contrato encerrada por completo. Então quando cheguei outra vez em Minneapolis, você estava amiga demais da assistente de George, e havia feito uma visita à Companhia. Tive que conversar com Ryan para saber o que estava acontecendo. Passamos a madrugada toda nos atualizando. Foi quando Annelise te fez uma visita, e minha melhor ideia foi trazê-la para o nosso lado, para descobrirmos de vez quem é o sujeito estúpido o bastante para mexer com você. Pedi para Ryan trazer você à nossa cabana e decidi ficar em outro lugar...
— Nossa?
— Ryan e eu a construímos quando morávamos aqui.
A balança da mentira de Ryan cada vez se enchia mais.
— Estávamos atrás do contrato hoje quando Ryan descobriu onde vocês estavam indo. Eu e Annelise estávamos mais perto, e não arriscaria te deixar em perigo por algum tempo maior. Eu devia ter adivinhado que você não sairia de livre e espontânea vontade com Annelise e um cara suspeito. Por isso resolvi me mostrar a você, para que se tranquilizasse e saíssemos dali. E agora, aqui estamos nós.
— E sobre o que Rafael estava falando? — Caitlin incentivou, impassível.
Justin molhou a boca e olhou para o chão como se fosse receber conforto maior ali do que encarando nós três.
Tinha como ficar pior?
— Eu... O encontrei em um restaurante. Já sabia quem ele era e que parecia ter algum interesse na Faith. Me apresentei como amigo dela, e resolvi dar alguns conselhos, porque queria que ela seguisse em frente. Não estava contando com o fato de que tivesse mesmo mudado tanto. Não o sacaneei de propósito.
Ninguém se mexeu. Não ousamos respirar mais alto do que o suficiente. Dava pra sentir no ar a mudança que tudo aquilo teria em nossas vidas, e nossa receptividade, ou não receptividade, a ela também. A bifurcação se abriria invisível embaixo de nossos narizes.
Caitlin foi a primeira a tomar a decisão, se deslocando para perto dele, lhe encarando firmemente.
— Você sabia que eu já estava lidando com a perda de um irmão, e não teve consideração comigo — ela começou a contar nos dedos — Quanto à Faith, o trabalho que a Companhia te deu foi matá-la, certo? Parabéns, você conseguiu — dois — Ryan já está acostumado a ser seu pano de chão. Bom trabalho, Justin Bieber — disse ela friamente, virando-lhe as costas.
Observamos sua saída dramática para a cabana até que Ryan decidisse ir atrás dela, nos deixando sozinhos com aquele montante de nós para desatar. 

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