Leitoras com Swag

Hey garotas, beliebers ou não beliebers. Só estava faltando você aqui! Nesse blog, eu, Isabelle, faço IMAGINE BELIEBERS/ FANFICS. Desde o começo venho avisar que não terá partes hots nas Fics, em nenhuma. Repito, eu faço 'Imagine Belieber' não Imagine belieber Hot. A opinião da autora - Eu, Isabelle - não será mudada. Ficarei grata se vocês conversarem comigo e todas são bem vindas aqui no blog. Deixem o twitter pra eu poder seguir vocês e mais. Aqui a retardatice e a loucura é comum, então não liguem. Entrem e façam a festa.
" O amor não vem de beijos quentes. Nem de amassos apertados. Ele vem das pequenas e carinhosas atitudes."- Deixa Acontecer Naturalmente Facebook.
Lembrem-se disso. Boa leitura :)

Com amor, Isabelle.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

One Love 21

Tínhamos a seguinte cena: Justin rolava no chão tentando tirar uma faca, que outrora estava na pia, do seu ombro; Rafael me segurava no alto pela cintura enquanto eu me debatia e proferia as mais diversas ofensas existentes com os olhos esbugalhados cheios de veias saltadas; Caitlin e Ryan discutiam entre si para determinar qual lado escolher. Tudo isso na minha mente durante um formidável jantar de macarronada preparado por um defunto sem coração.
Tilintavam-se os talheres nos pratos, preenchendo o silêncio escolhido pelas cinco almas perturbadas sentadas numa mesa retangular pequena que fazia com que meu braço se encostasse ao de Rafael. Todos nós estávamos furiosos com o sujeito mais sereno do ambiente, sentado na ponta da mesa, ignorava toda a carga negativa jogada sobre ele.
Preferi encobrir com raiva a dor da rejeição confirmada minutos antes. Parecia lógico que se Justin escolhera, por livre e espontânea vontade, morrer pra mim, não tivesse mais o interesse que pensei ter uma vez. Estava tudo bem na minha cara. “Eu te amei tanto que...” ele mesmo o dissera na sua tentativa de justificar seu desaparecimento. Só um analfabeto não saberia que aquilo era passado. Um passado que parecia ser de uma vida atrás. Mas quanto ao "não ficar por muito tempo", eu não admitiria.
E ainda assim, eu sentia aquela faísquinha no peito por saber que ele existia. Minha melhor chance de continuar com as “ideias no lugar” — se é que ainda restava alguma — era procurar um psiquiatra imediatamente. 
— O que estão planejando fazer amanhã? — Caitlin cortou o silêncio perturbador sem aviso prévio, mal olhando para Justin.
Ryan e Justin se entreolharam, deixando escapar uma olhadela para Rafael como um lembrete do impedimento que ele representava para uma conversa franca. Sinceramente, Rafael tinha minha admiração e respeito, mas aquele era o lugar errado e a hora errada para ele. Caitlin também deveria ter o bom senso de reservar a pergunta para outro momento.
Justin limpou a boca com um guardanapo antes de falar:
— Terminar o que fazíamos hoje. Ryan estava com George — o que significava “seguindo George”, eu espera. Uma vez que se George soubesse da sua existência, penduraria sua cabeça num espeto depois de lhe jogar a responsabilidade pela explosão — Eu e Annelise na sala dos arquivos. Esta última parte foi infrutífera, então acreditamos que teremos que dar uma passadinha na sala de George também.
Minha respiração se acelerou. Ele estava na Companhia hoje? E planejava invadir a sala de George amanhã? Tudo isso sem esperar que uma só pessoa o reconhecesse?
— Vou incluir uma conversa com Maya na agenda agora.
Engoli em seco. Para ambos os lados, aquela não era uma boa coisa. Procurei minha língua para me manifestar.
— Ótimo. De que cor vão querer o caixão de vocês desta vez? — Caitlin debochou.
Deu-se uma pausa. Ryan falou:
— Faith, seu irmão comprou passagens para vir à Minneapolis nesta madrugada. Ele me ligou.
— E como ele tinha seu número? — minha voz subiu uma oitava de surpresa.
— Posso ter passado para Wren quando ele estava aqui...
Era o que me faltava!
Dei um suspiro irritado, trocando um breve olhar com Justin, e saí da mesa, atrás do meu celular. Aquele era um péssimo momento para meu irmão aparecer. Praguejei contra mim mesma por decidir contar sobre o contrato.
Peguei o aparelho da cama, onde Caitlin havia colocado, e tirei do modo avião. As notificações berraram uma atrás da outra, alternando-se entre ligações e mensagens de Hanna e Caleb.
"Não diga que não tentei, mas era uma missão impossível. Ele está transtornado." Lia-se em uma das mensagens de Hanna.
Disquei primeiro o número dela. A ligação foi atendida no segundo toque.
— Graças a Deus! — ela exclamou.
— Hanna, onde Caleb está?
— Bom... — antes que criasse coragem para dizer, ouvi do outro lado da linha “Última chamada para o voo 1234 de Nova York” — Estamos no aeroporto.
O plural não me passou despercebido.
— Caralho! O que eu te disse, Hanna Marin?! Vocês não podem vir pra cá!
A cabana de Justin e Ryan se transformaria mesmo em uma pensão. Pensei na expressão do meu irmão e da minha amiga quando vissem Justin andando por essa terra. Depois de jogarem sal e água benta, ligariam para um padre. Assim que descobrissem que ele não era um fantasma, o transformariam em um. Ao mesmo tempo, me preocupava com o quão furiosa minha melhor amiga ficaria se eu não lhe contasse que o amor da minha vida ainda vivia. O amor da minha vida que não me queria mais.
— Faith, se coloque no nosso lugar. Ele é seu irmão. Esperava que ficasse parado enquanto a caçula corre risco de morte?! Exatamente como da outra vez?
— Vocês não sabem nada do que está acontecendo! Vamos acabar morrendo todos por essa estupidez!
— Pelo menos vamos morrer juntos. Não vamos ficar esperando para receber notícias de que você morreu!
Joguei minha cabeça para trás, grunhindo.
— Ryan vai resolver tudo amanhã! Eu te disse que seria rápido! Não tem necessidade de virem para cá.
— Ótimo, então quando chegarmos, todos estaremos seguros.
— É meio de semana, Hanna. Ele não tem que trabalhar? E você não tem faculdade?
— Caleb está se aproximando, quer fazer suas reclamações pra ele?
— Por favor.
Ouvi seus murmúrios, e então ele já estava abusando do sarcasmo:
— Nossa, Faith, resolveu atender?
— Caleb, eu não quero vocês dois aqui — sibilei.
— Chegamos bem cedo. Às seis. Não precisa nos buscar no aeroporto. Tenho seu endereço.
— Caleb... — ameacei.
— Nos vemos mais tarde. Estou ansioso.
E desligou.
A teimosia era uma coisa de família, mas ele tinha me superado. Não podia acreditar que ainda por cima traria Hanna para a confusão. Hanna, a bonequinha de porcelana que chorava se quebrasse uma unha. Ela não permaneceria intacta a mais um encontro de assassinos. Eu ainda sentia o peso em cima do meu estômago e a garganta devido a minha reunião desta tarde.
Como se eu já não tivesse problemas demais para lidar. 

Escutei quando Rafael se virou no colchão colocado no chão ao lado da minha cama.
— Como se dorme depois de um dia desses?
Lembro-me de ter me preocupado com isso há um tempo atrás até entender que a resposta era simples: Não se dorme. Ou, em casos mais extremos, embriaga-se o rabo até desmaiar de bêbado.
— Tenho que passar na galeria amanhã. Você também vai?
Tentei pensar em uma noca desculpa para dar à Hazel. Não sabia se ainda aceitaria a história da minha amiga doente. O salário eu já tinha consciência de que seria descontado, mas uma demissão por justa causa não estava nos meus planos.
— Não posso.
— Vai visitar sua amiga no hospital?
— E aparentemente buscar alguns parentes no aeroporto também.
— Qual é o seu problema com seu irmão?
Enrolei a ponta do cobertor. Depois o afastei de mim com os pés. Estava ficando sufocada.
— Ele não queria que eu viesse para cá, e eu... não o quero metido nos meus problemas.
— Entendo.
A curiosidade de Rafael transitava a minha volta, eu sabia que haveria mais perguntas.
— Você gosta mesmo dele, não é?
Não estávamos mais falando de Caleb. Eu apertei bem a linha da boca.
— Não aguenta ficar longe dele — Rafael continuava suavemente — Desde que te conheci, percebi em seus olhos uma tempestade, e quando você olha pra ele... tudo se acalma, o restante do mundo sai completamente do foco. O deixamos na sala há dez minutos e você não para quieta — seu tom disfarçadamente humorado não foi capaz de impedir a sensação de estar sendo enforcada outra vez.
Minhas veias ainda estavam geladas de medo que Justin desaparecesse, outro corpo se colocava em cima do meu, deixando-o pesado, não conseguia eliminar a dúvida total de que de que aquilo fosse um sonho maluco. E mesmo quando eu parecia quase convencida de que ele existia, me entristecia saber que não éramos a mesma coisa. Só Deus sabe o quanto eu queria beijar cada milimetro do corpo dele e senti-lo reagir sob meu toque.
— Sei que não é da minha conta, mas já passei por isso. Pensei que poderia te dar umas dicas de um sobrevivente — ele esperou um pouco para que eu protestasse, mas não o fiz — Eu praticamente idolatrava minha ex namorada, Amalia. Movia Céus e terra por ela. Mas como é de se esperar, quando um dá valor o suficiente pelos dois, o outro se acomoda e reina na relação. Amalia me fazia de gato e sapato, e eu estava satisfeito em ser por ela. Por vezes, tive que trocar de parceiras no tango porque ela cismava com as coitadas. E ironicamente, fui eu que perdoei muitas traições vindas da sua parte — pigarreou, tornando firme outra vez sua voz agora envergonhada de admitir tal submissão — Só percebi quanto aquilo me desgastava quando Lupita me perguntou, seriamente, se eu não podia processar Amalia por escravidão, porque já havia sido abolida há décadas — ele riu — Completou dizendo que tinha que me levar a um padre para Deus quebrar toda feitiçaria que estava em mim. Ela não estava brincando, usava um rabo de cavalo que sempre pensou ser adequado para assuntos sérios. Em uma das mãos segurava a Constituição do México e a Bíblia Sagrada. Depois disso, terminei com Amalia e mudei a minha vida. Nos meses seguintes, me mudei para cá e nunca me senti tão bem comigo mesmo. Aproveitei ao máximo minha liberdade, me curei, e já estou pronto para outra — suspirou, visivelmente aliviado — Eu só queria te dizer que existem outras pessoas no mundo dispostas a te fazer feliz, ele é apenas um em bilhões. Mas ninguém pode te amar mais do que você mesma. Se você tivesse ideia da pessoa fascinante que é... Talvez percebesse que merece muito mais do que estão dispostos a te oferecer.  
Apreendi suas palavras devagar, e foi uma luta para prestar a atenção devida nelas. Refleti sobre o assunto paralelamente com a vontade de sair do quarto para ir atrás de Justin, naufragando a raiva que eu sentia dele. Rafael estava certo, obsessão não era saudável. Mas essa não era uma situação ordinária para ser analisada a luz cotidiana superficial dos sentimentos.
— Obrigada, Rafael — murmurei.
Imaginei que ele fosse me contar sobre sua conversa com Justin na cozinha. Mas seja lá qual fosse sua motivação, apenas me desejou boa noite, acrescentando certa positividade ao dizer “Amanhã será um dia melhor”.
Escutei sua respiração por um bom tempo até que parecesse profunda o bastante para supor que dormia. Seu cheiro inundava o quarto, de forma que acabei me acostumando com ele. Rafael tinha um aroma de produto capilar masculino, seus cachos pretos recebiam um cuidado especial para serem sempre brilhosos, e aparentemente, macios — e cheirosos. Apesar de sua presença agradável, eu estava ansiosa para escapar.
Andei na ponta dos pés e precisei empurrar um pouco a porta entreaberta para conseguir passar pelo vão. A cabana estava inteiramente escura, só se ouvia grilos e seja lá o que mais gritasse na floresta à nossa volta. Se eu estivesse com o luxo de pensar em outras coisas, provavelmente estaria apavorada com a possibilidade de recebermos visitantes não racionais indesejados.
Não havia preparado uma desculpa para sair do quarto — nem pensei que precisava de uma — quando notei as costas nuas de Justin no meio da sala. Ele se postava em frente a lareira, agora acesa, com as mãos nos bolsos de uma bermuda cinza surrada. Quando virou a cabeça ligeiramente para mim, imaginei que tivesse ouvido meu coração estupidamente acelerado.
— Teve pesadelo? — ele perguntou, analisando meu rosto.
Meus olhos estavam úmidos outra vez, mas eu corava só de pensar em explicar. Me aproximei devagar dele.
— Como ela é? — minha voz não passou de um sussurro.
Ele pensou um pouco para responder.
— Patricia?
Fiz que sim com a cabeça, me detendo uns três passos atrás dele. As chamas na lareira destacavam sua musculatura ridiculamente perfeita. Minhas pupilas derreteram por ver as curvas delineadas em suas costas. Pensei que meu coração explodiria.
Ele deu um sorrisinho de lado e, na verdade, meus ovários explodiram.
— Incrivelmente estupenda. Tem olhos azuis gigantes e calorosos. Eu queria encontrá-la nem que fosse para jogar algumas verdades em sua cara, mas, me explicou que foram os Biebers que a afastaram. George ameaçou cortar minha garganta caso ela se aproximasse. A despejaram de volta no Canadá, e desde então, tem vivido lá. Me contou sobre alguns falhos resgates que tentou fazer e em como ela voltava para casa e planejava os próximos pacientemente. Depois que me tornei um homem, ela viu que a escolha era minha, e estaria pronta para lutar comigo quando eu voltasse para casa.
Partilhamos um olhar comovido. Eu não havia me esquecido do seu medo de rejeição quando falava sobre a mãe, a sombra de pavor — sentimento que raramente o perturbava — espreitando seu rosto. Aquilo era uma vitória para nós dois.
— Bruce e Diane são igualmente amáveis. O pai biológico de Patricia faleceu de um ataque no coração quando ela ainda era uma criança e ele já estava divorciado de Diane. Apesar de tudo, eles são uma família e tanto — notei o brilho crescendo em seus olhos de mel — Diane tem mais um filho, chamado Chris. Eles almoçam juntos aos domingos e são muito acolhedores.
Mal podia acreditar que ele havia conseguido conhecê-los. E pensar que me martirizei por achar que eu havia feito com que perdesse essa oportunidade. Eu estava tão feliz que podia chorar.
— Não queriam que eu voltasse para cá, mas respeitaram minha decisão. Nunca me senti tanto como um ser humano nos dias em que passei lá. Mas eu tinha negócios a resolver.
Concordei, pensando em Maxon e Yasmin. Ou Jaxon e Jazmyn. Ainda era difícil compreender que eram as mesmas pessoas.
— Eles vieram tranquilamente comigo, sabia? — seus pensamentos foram para o mesmo lugar que os meus — Felizes por saber que eu os havia “adotado”, embora tenham achado estranho sairmos no meio da noite, e se chateado por não poderem se despedir dos amigos. Prometi que os levaria para uma visita em breve. E eles... perguntaram de você.
O sentimento de culpa se arrastou para mim lentamente. Eu os havia abandonado. Paradoxalmente, o fiz justamente por estar a procura deles mesmos.
— Eu... também prometi que te veriam em breve.
Secretamente, me senti satisfeita. Em parte, porque os veria novamente, e em outra, porque ele não se livraria tão fácil de mim. No Canadá ou não, eu me certificaria de visitá-los com frequência.
Então lembrei que, no momento, Patricia era quem cuidava deles, e me perguntei se Justin se mudaria mesmo para lá depois de resolver meu contrato. O bom senso me dizia para mandá-lo embora imediatamente. Ele estava com sua família — tecnicamente — completa, com tudo o que sempre quisera, não precisava correr um risco por minha causa, mesmo que estivesse em dívida comigo. Só que eu não conseguia. Parecia injusto que fosse obrigada a mandá-lo embora para longe de mim. Outra maldita vez.
— Sinto falta deles — me limitei a confessar.
Ele assentiu e pegou o atiçador para cutucar a lareira sem necessidade. Era engraçado o contraste de um homem que demonstrava não estar com frio se aquecendo na beira do fogo.
— Sente da sua família também?
Entendi porque evitara meus olhos. Como um reflexo, me fechei instantaneamente, contendo uma careta.
— Ainda está furiosa com eles?
— Quem não estaria?
— Você sabe que a vida é inconstante, certo? Tem certeza que já disse tudo o que queria a eles? Se eles se fossem amanhã, ficaria com a consciência limpa?
Fechei a cara pra sua expressão de monge no 21º retiro, a raiva vindo a tona. Eu não aceitaria moralismo vindo dele.
— E você? Está com a consciência limpa?
Justin meneou a cabeça, largando o atiçador.
— Depois que eu cumprir este trabalho, talvez fique.
Trabalho? É isso que significo agora de novo? E quanto a mim?! Eu queria gritar. Mas se aprendi uma coisa com Flê, foi a não mendigar atenção de ninguém.
— Jesus morreu numa cruz por você, na maior demonstração de amor que o mundo já viu. Você vai implorar por afeto de alguém? Não enquanto eu viver, Faith Evans! — isso me fazia sentir muito melhor quando eu era excluída de algum grupinho inútil da escola. Quem precisava da amizade deles quando se tinha a de um Rei?
Com pesar, percebi que dei as costas a Esse Homem por pensar que Ele de alguma forma era responsável por uma morte que não havia acontecido.
Burra, burra, burra.
Não soube onde esconder a cara. De qualquer forma, não há como se esconder de Deus. Bem que o Senhor podia ter me contado onde esse otário estava. 
— O que acha de ir dar uma descansada agora? — Justin me puxou de volta a terra.
Cruzei os braços.
— Você acha que eu deveria?
— Eu sei que não tem dormido bem, por isso penso que seria melhor. Mas se não quiser, ninguém vai te forçar.
Ele andou pela sala, prendi a respiração quando passou ao meu lado, seu calor emanando de uma forma impossível para mim, me envolvendo. O observei se sentar no sofá e sugerir despreocupadamente:
— Ou poderia se sentar comigo e conversarmos. Ou outra coisa que queira fazer — acrescentou rápido, pigarreando de desconforto depois. Eu já soltava as asas da imaginação em quais "outras coisas" podíamos fazer — Não estou te dando opções porque acho que tenho controle sobre você... É só que... — se calou.
Era ótimo que não soubéssemos mais lidar um com o outro. Ignorei o fato perturbador e inseri um novo assunto:
— Fez alguma nova tatuagem?
Ele percebeu o que eu estava fazendo antes de mim mesma. Queria saber os detalhes desse tempo em que esteve fora. Eu sabia que não ficaria os quase seis meses apenas no Canadá, e para estar vivo e bem saudável na minha frente — até demais —, precisara de dinheiro. A Companhia tinha ficado com seus bens, então, a menos que possuísse uma conta secreta para guardar dinheiro, precisara prestar serviço.
Recostou-se, o olhar reservado feito um criminoso em interrogatório.
— Possivelmente.
Que tipo de resposta era aquela?
Mexi no meu cabelo, tentando parecer distraída e indiferente.
— E fez um novo corte de cabelo — observei.
Ele assentiu.
— Passei a zero. Não podia andar por aí como sempre.
Quase disse que ele ficava fascinante de qualquer jeito. Mordi minha língua.
— Você está pensando seriamente em falar com Maya amanhã?
Justin esfregou o queixo, endurecendo o olhar. Sua habilidade de odiar pessoas de uma hora para a outra permanecia intacta, percebi.
— Podemos ter concepções diferentes sobre “falar”, mas, basicamente, sim.
— É perigoso, ela pode contar para George sobre você.
Ele deu um sorriso sombrio.
— Depois de me encontrar, ela não vai ser capaz de falar mais coisa alguma.
Um arrepio desceu por minha espinha. Depois de toda confusão causada, eu não devia sentir compaixão dela, devia? Em todo caso, a culpa era minha por ela estar enrascada. Eu a envolvi para descobrir o paradeiro de Jazmyn e Jaxon. Mesmo que suas escolhas a transformassem em um ser humano egoísta, eu não me via muito diferente dela agora.
— Acho que se eu pudesse conversar melhor com ela, a convenceria a mudar de ideia. Ela só está preocupada com a própria vida, não está pensando direito.
Sim, senhora e senhores, eu estava defendendo Maya Milles, e aquilo me deixava um gosto amargo na boca.
— Faith, conversas não resolvem essas coisas — meu nome soou melodioso de seus lábios.
Me dei um beliscão mental.
— Conversas resolvem muitas coisas.
Se ele percebeu a alfinetada, ignorou.
— Mas não questões como essa.
— O problema é meu — bati o pé — Não pode me tirar da jogada. Você chegou agora, não vai simplesmente tirar meus assuntos da minha mão — me irritei.
— O que está pedindo? Quer ir comigo fazer uma pequena visita à ela?
— Não estou te pedindo nada — o corrigi — Estou dizendo que eu vou fazer uma visita à Maya, e, se você quiser vir junto, ok, mas vai me deixar monopolizar o desenrolar da situação.
Supus que ele fosse ficar irritado ou coisa parecida, porém, eu vi um traço de humor passar por seu rosto.
— Mais alguma exigência, senhora?
Sim, defina, estritamente, seu tipo de relação atual com Annelise!
— Quero ir junto atrás do contrato. Não vou ficar aqui como uma Rapunzel com mais cabelo do que cérebro.
— Certo. E o que faremos com seu amigo? Vai deixá-lo sozinho? — um músculo saltou em seu maxilar.
— Não. Vamos deixá-lo na galeria, depois vamos conversar com Maya, e só assim, ir atrás do contrato. Caleb e Hanna podem ficar rodando pela cidade por um tempo. E, ah, sou eu quem vai entrar na sala de George — completei firme, muito mais corajosa do que me sentia.
— Quer andar no arco íris com doendes atrás de um pote de ouro também?
Fingi um sorriso.
— Minha vida, minhas regras.
Ele assentiu vagamente sem me olhar nos olhos.
— Conversamos com Ryan amanhã.
Mesmo depois de todo esse tempo, eu ainda sabia reconhecer quando Justin descreditava sua própria palavra. Mas se ele pensava que esta não seria a forma do dia proceder amanhã, estava enganado. Fingi não ouvir a voz que me dizia que isto, coincidentemente, também me beneficiaria em não deixá-lo sozinho com Annelise.
— Posso te perguntar uma coisa? — murmurou ele, dissolvendo lentamente o assunto tenso.
Troquei o peso de perna, percebendo que eu estava, no fundo, exausta. Na noite passada, havia tirado no máximo um cochilo, e gastara mais energia hoje do que me permitia a quota da semana.
— Diga.
Justin relaxou o corpo no sofá, abandonando a postura ereta que assumia minutos atrás, talvez na intenção de instaurar a informalidade entre nós dois. Do mesmo jeito, meus nervos se debatiam.
— Ainda quer fazer medicina?
Quase suspirei de alivio pela pergunta feita, e então, parei para pensar. Meu futuro se encontrava estagnado no momento. Eu não tinha tempo para minhas ambições, ocupada demais em me livrar da minha culpa. E agora, talvez eu pudesse voltar a planejar. Se sobrevivesse até o mês que vem.
— Hmmm... Se eu for fazer uma faculdade, acho que sim.
— Se não for, planeja continuar trabalhando na galeria?
Lutei contra meu impulso de me sentar. Justin tinha uma onda radioativa que gerava falência em todos os meus órgãos vitais.
Dei de ombros.
— Até gosto de lá. — Gostar era exagero, admito. Mas, sinceramente, do que eu gostava ultimamente? — E você? Planeja voltar a trabalhar para o seu avô? — me senti no direito de perguntar, já que ele o fazia.
— Não se eu puder evitar. De qualquer forma, acho que ele me mata antes.
Justin ficou parcialmente distante, as mãos se fechando em punho.
Não sei se por vislumbrar certa vulnerabilidade nele — o que me comovia mais do que tudo —, ou por ser vencida pelo cansaço, me direcionei a passos incertos para o sofá, me sentando a duas pessoas dele. Não adiantou nada, a radioatividade foi capaz de me alcançar dali.
Justin me olhou pelo rabo de olho, dando o fantasma de um sorriso devido a minha pequena brecha.  

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