Leitoras com Swag

Hey garotas, beliebers ou não beliebers. Só estava faltando você aqui! Nesse blog, eu, Isabelle, faço IMAGINE BELIEBERS/ FANFICS. Desde o começo venho avisar que não terá partes hots nas Fics, em nenhuma. Repito, eu faço 'Imagine Belieber' não Imagine belieber Hot. A opinião da autora - Eu, Isabelle - não será mudada. Ficarei grata se vocês conversarem comigo e todas são bem vindas aqui no blog. Deixem o twitter pra eu poder seguir vocês e mais. Aqui a retardatice e a loucura é comum, então não liguem. Entrem e façam a festa.
" O amor não vem de beijos quentes. Nem de amassos apertados. Ele vem das pequenas e carinhosas atitudes."- Deixa Acontecer Naturalmente Facebook.
Lembrem-se disso. Boa leitura :)

Com amor, Isabelle.

domingo, 22 de julho de 2018

One Time - Prólogo

18 meses.

DEZOITO MESES.

D-E-Z-O-I-T-O A-B-E-N-Ç-A-D-OS M-E-S-E-S.

Não parecia justo para mim. Ele simplesmente jogaria todo esse tempo no lixo como se não fosse nada? Já nos preparávamos para a segunda festa de ação de graças, de natal e ano novo juntos. Eu dei meu sangue para que o clima fosse inteiramente familiar, missão esta complicada porque Bryan meio que o odiava. Mas Eleanor quase já não criticava Patricia. Jazmyn e Jaxon estavam mais apegados a mim do que nunca. Todos nós éramos uma família. Claro que não perfeita, a propósito, existe alguma família perfeita? Sei que ainda tínhamos muito a resolver, e só podíamos fazer aquilo juntos.

Chutei a neve acumulada aos meus pés no jardim da faculdade. Minhas meias já estavam úmidas e os pés congelados de ficar dando voltas infinitas no espaço descoberto. No momento, não me importava. Justin não podia terminar comigo agora. Mas o que mais justificaria seu comportamento estranho nas últimas semanas? Ele mal falava comigo, mal tinha tempo de me ver, e quando estávamos juntos, parecia distante. Está certo que minhas aulas serem de período integral não ajudava muito, e diversas vezes ele tinha que trabalhar à noite e viajar, mas nada justificava sua ausência quando estava presente. Provavelmente havia se cansado. É isso. Se cansou. Estava bom demais para ser verdade mesmo. Desde o começo eu soube que ele não era uma pessoa cômoda com as tradições sociais. Almoços aos domingos com a família reunida, preparar festas de aniversários para crianças, frequentar a igreja (o mais inacreditável) e estar preso a uma namorada não era do seu feitio. Enganosamente pensei que ele estava se adequando ao estilo familiar, e até mesmo gostando.

E então ele me disse: “precisamos conversar”. Por mensagem. Ao menos não terminou tudo pelo celular, isso lhe dava pontos no caráter. Não que isso fosse mudar alguma coisa quando as palavras enfim quebrassem meu coração em mil pedacinhos. Era uma péssima semana para tomar essa decisão, aliás. Dali a dois dias completaria dois anos de sua suposta morte. Ele não podia me abandonar de novo na mesma época, seria covardia. Para ajudar um pouco mais, minha agenda estava cheia de pontos vermelhos com os escritos “PROVAS FINAIS”.

O que eu faria? Me mudaria para um apartamento sozinha? Trancaria a faculdade e voltaria para os meus pais com o rabo entre as pernas? Eu não suportaria continuar nessas redondezas sem ele.

“Cheguei”, li em meu celular.

Farpas afiadas rasgaram minhas tripas. Choraminguei olhando para o céu cinza. O clima combinava com a ocasião. Apesar das minhas roupas, o frio parecia atravessar o tecido e gelar minha alma.

Tudo bem. É melhor enfrentar isso de uma vez, Faith. Esfreguei as mãos cobertas de luvas. Você deve se valorizar, mulher. Bati as mãos em minhas bochechas. Soltei o ar e caminhei para a saída. O carro estava parado bem em frente ao portão, à minha espera. Levantei a cabeça e entrei.

— Ei — saudou-me com um fantasma de sorriso.

Ah, a quem eu tentava enganar?! Eu não estava pronta para isso! Deus, eu o amo demais. O modo como deixava seu cabelo curto agora, levemente arrepiado na frente de modo natural, o rosto sempre depilado, os olhos notoriamente brilhantes na luz, sua elegância incontestável nos trajes de inverno. Cogitei implorar que não terminasse comigo, mas seria humilhante demais.

— Oi — respondi um pouco estrangulada.

Isso fez com que realmente me olhasse, provavelmente não queria que eu sujasse seu carro com vômito ou morte.

— Está tudo bem?

Preferi não usar a voz dessa vez, assenti. E ele deixou pra lá. Esse era outro péssimo sinal, Justin sabia quando eu mentia, o que quer dizer que não se importou. Ligou o rádio em sua estação de rock preferida, e quase ri de nervoso. Eu sempre soube que o mundo conspirava contra mim, mas já era demais tocar I Don’t Wanna Miss a Thing – Aerosmith num momento desses. “Eu não quero sentir falta de um sorriso, não quero sentir falta de um beijo, eu apenas quero estar com você”.

O carro foi estacionado em frente à sua casa. Uma vez que seria um jantar de término, imaginei que ele fosse me levar para comer fora, algo como um burrito da esquina, não que se daria ao trabalho de cozinhar. Ignorei a chama de esperança, ele podia ter feito apenas pão com ovo, ou não me ofereceria mais do que um copo d’água.

— Você pode... vir comigo aqui em cima um pouco?

Eu já estava ali, não estava? O acompanhei, imaginando a forma inusitada que preparara de anunciar o término. Talvez tivesse comprado uma passagem só de ida para os Estados Unidos, por que não?

Paramos em frente a um quarto de hóspedes no segundo andar.

— Eu preciso da... sua opinião para uma coisa. Promete pensar com calma? Essa pode ser a última promessa que me faz.

Retesei-me. Passaram-se minutos até que eu me obrigasse a assentir. Para isso, precisei reunir todas as minhas forças, deixando minhas pernas bambas. O segui cambaleante para dentro, o cômodo estava praticamente vazio, apenas um lençol cobria algum objeto grande no fundo. Justin seguiu exatamente até ele, e pareceu pensar muitas vezes antes de puxá-lo. Eu estava nervosa o bastante para conseguir criar hipóteses que justificassem aquilo.

Quis cobrir o rosto quando ele saiu da frente para que eu me aproximasse. Em contrapartida, dei dois passos em direção ao meu fim e automaticamente reconheci um cavalete. Esqueci-me um pouco do meu dilema quando visualizei a pintura que este sustentava, nada melhor para distrair um amante de arte do que a própria arte. Era isso que ele queria? Me amaciar antes do matadouro?

— Hm, de quem é essa pintura? — meu primeiro instinto foi procurar uma assinatura, localizada no canto inferior esquerdo — Você... você quem fez? — surpreendi-me.

— Sim.

Acompanhei os detalhes muito bem feitos da técnica de pintura a óleo sobre tela para identificar o desenho. A cama colossal de lençol azul abrigava um corpo adormecido. Com os cabelos ondulados jogados para trás, era possível visualizar os traços do rosto relaxado.

— Sou... eu? — balbuciei.

— Sim.

Fitei-o impressionada. Perfeccionista como só ele sabia ser, sua pintura parecia um retrato estupendo.

— Justin... desde quando você pinta? Quanto tempo gastou pra fazer isso?

Esse seria o término mais bonito da história. Ele de fato se esforçara para me deixar o mais confortável possível. Se perdera seu tempo precioso aprimorando suas habilidades com um pincel, ainda devia me considerar com carinho. Hanna me contara que várias de suas amigas mantinham uma amizade com os ex namorados, mesmo que ela não entendesse como isso era possível. Talvez eu pudesse me conformar em ser sua amiga.

Toquei na tela receosa de que ainda estivesse molhada. A ponta do meu dedo indicador permanecia seca, então delineei as formas transpostas com tanto cuidado ali, visualizando um Justin sentado em um banco com a postura impecável — como sempre —, concentrado em aplicar um pouco mais de força ali e delicadeza aqui.

Eu nunca poderia ser apenas amiga desse homem.

— Não chega nem perto do quanto pretendo dedicar a você.

— Hein? — voltei-me a ele, sobressaltada.

Justin passou a língua sobre os lábios, e agora eu via o quanto ele estava nervoso, a respiração tão pesada quanto a minha. Confirmei o veredicto assim que tomou minhas mãos — já livre de luvas — nas suas, geladas o bastante para que eu me preocupasse em aquecê-las.

— Quero que todo o meu tempo seja seu, Faith. Quero estar atado a você de todas as formas possíveis. Quero que nós sejamos um só, de forma que seus traços sejam visíveis em mim. Quero respirar o seu ar. Quero que seu rosto seja o primeiro e o último que vejo no dia. Quero firmar sob o Céu e a terra que você me tem por inteiro, que eu te pertenço. Eu quero... — a essa altura, eu parecia sentir o bombear frenético do seu coração na ponta dos dedos — te dar meu sobrenome. — Com os olhos cravados em mim, Justin se abaixou, entendi então que ele se ajoelhava e perplexa o vi estender uma caixinha de veludo aberta para mim — Por isso, eu te pergunto, Faith. Você aceita se casar comigo?

quarta-feira, 18 de julho de 2018

One Love 40

Grande ideia, Faith Evans. Meu arsenal de ideias geniais crescia a cada dia. Eu deveria ter uma premiação exclusivamente sobre elas.
— Você acha que deveríamos ter pensado numa entrada? O que poderíamos colocar? E a sobremesa? Ah, meu Deus, eu não sei muito sobre aquele esquema de talheres. Justin, você teve aulas de etiqueta, não? Podia me ajudar um segundo com isso, querido? — Patrícia corria de um lado para o outro, preocupada em preparar um jantar a altura dos Evans, insistia que minha ajuda não era necessária. O nervosismo para agradar um pouco acima do normal me dava a dica de que deveria mesmo ter pesquisado sobre mim na internet.
Justin me olhou de soslaio, implorando que eu fizesse alguma coisa para tranquiliza-la.
— Não se preocupe com isso, Pattie. Eles não vão se limitar a esse tipo de coisa — menti — O que fizer estará ótimo.
Meus pais eram peritos nesse tipo de julgamento. Na ocasião, os critérios estariam mais elevados do que nunca. Mas, de fato, não havia muito a fazer para que eles aprovassem, até o mais fino dos jantares preparado por Patricia não seria capaz de influenciar em sua opinião.
Parecera mesmo propício anunciar que eu moraria no Canadá, e que já estava até vendo uma boa faculdade por ali — depois que desliguei a ligação fiz uma pesquisa rápida para responder o questionário que seguiria — e já havia encontrado um ligar para morar... na casa da mãe do Justin. Acabei passando o endereço depois de praticamente ouvir Eleanor entrar em trabalho de parto e o circo estava formado. Eles queriam constatar de perto toda a situação para dar o parecer final, já que me recusei veementemente a voltar. Como se já não fosse suficientemente inquietante o fato de reunir a família do seu namorado com a sua.
— Eu sabia que deveríamos ter contratado cozinheiros profissionais, mas a ideia de uma coisa mais familiar e íntima me pareceu bem atraente.
— Patricia, a comida da família Mallette e Dale vence qualquer restaurante, você sabe disso! Essa lagosta é de dar água na boca! — Bruce entrou em defesa deles mesmos.
— Obrigada pelo voto de confiança! — Diane gritou da cozinha.
— Poutine parece espetacular — contribuí, verdadeiramente fascinada com a combinação de batata frita, queijo e molho de carne.
— Eu contei sobre sua veneração por batata. Uma vez que esse é um dos pratos mais tradicionais do país, você será uma ótima canadense — Justin disse, me abraçando de lado.
Sorri, sentindo aquela ansiedade em nível agradável revirar minha barriga, quando esperamos com prazer o que o futuro nos reserva. Eu estava empolgada com a ideia de me tornar uma canadense com Justin.
— Se você quer sobremesa, podia fazer Nanaimo Bar, e eu posso fazer Bloody Caesar como entrada — Bruce continuou, vendo Patricia colocando os pratos na mesa, aparentemente inatingível às nossas tentativas de tranquiliza-la.
— Nanaimo Bar é uma sobremesa de três camadas de bolacha waffer, creme de baunilha e cobertura de chocolate — Justin me explicou — Já Bloody Caeser é um drink de vodka, suco de tomate, molho tabasco e molho Worcestershire. Experimentei praticamente de tudo isso quando cheguei aqui. O drink é de fato interessante.
— Mas será que tudo isso tem harmonia? Não estou certa disso... — Pattie refletiu. Eu me lembrava de Justin ter contado sobre sua paixão por cozinhar, aliás, até estava meio que construindo um restaurante para ela em Boston — que ele destruía sempre que ficava nervoso. Imaginei se ele lhe daria um no Canadá.
— Mesmo que não combinasse, eles não teriam como julgar, é um país diferente, culinária diferente — Justin argumentou.
Pattie pensou um pouco sobre isso e levantou um ombro, aceitando.
— Tudo bem, mas eu realmente preciso da sua ajuda para organizar a mesa, Justin. Faith, você pode se certificar de que Jazmyn e Jaxon estão tomando banho? Depois pode ajudá-los a se vestir, eu deixei que escolhessem suas próprias roupas apenas para não fazerem um escândalo naquele momento. Em seguida, pode tomar banho também, nós damos conta das coisas aqui.
Justin dramatizou um olhar cansado para mim. Dei um tapinha em sua cabeça e segui para a escada, sentindo a aflição despontar em meu estômago outrora alvo de empolgação. Eu ainda não havia pensado no que dizer sobre Jazmyn e Jaxon estarem aqui, no caso, Maxon e Yasmin, pior seria se eles me chamassem de mãe, e/ou Caleb de tio e Eleanor e Bryan de avós. Tudo isso em conjunto com substantivo pai dirigido a Justin me deixaria em problemas maiores. O que era bem provável de acontecer. Na verdade, foi a primeira coisa que Jazmyn mencionou depois que a convenci a colocar o vestido rosa de renda que compramos no dia anterior.
— Caleb deve estar muito feliz porque agora é nosso tio, né? Ele já sabe ou você vai fazer surpresa?
Desviei os olhos.
— Hm, aposto na surpresa.
Eles fariam um show na frente das crianças? Eu deveria tê-los preparado antes? Talvez sim, mas qual é a maneira mais adequada de se dizer ao telefone “então, quando vocês chegarem verão duas crianças, as que sumiram do orfanato, me chamando de mãe e Justin de pai, mas não é bem assim”?
Pensei e repensei enquanto fazia um penteado em Jazzy, seu cabelo louro e fino acariciava meus dedos, emitindo certo conforto. Acabei optando por enviar uma mensagem não tão esclarecedora.
“Caleb, por favor, peça que não enfartem quando chegarem e se depararem com uma novidade. Eu vou explicar tudo depois, prometo”
A resposta foi instantânea:
“Meu Deus, Angel, o que você fez agora???”
Baixei o celular na penteadeira com um suspiro. Eu queria viver apenas um dia sem estar à beira da morte.
Jaxon insistiu que devia se aprontar sozinho, mas aceitou minha sugestão de roupas, pelo menos. Fiz com que me prometessem brincar sem se sujar ou desarrumar. “Ok, Jax, vídeo game é uma boa ideia. Sim, Jazzy, pode ficar deitada jogando no tablet”, e fui cuidar de mim mesma.
Demorei mais do que o planejado, divagando no banho, e só saí da banheira quando me estressei com a imagem constante em minha mente de Eleanor me arrastando vigorosamente pelos cabelos de volta aos Estados Unidos.
Coloquei um vestido amarelo que parecia dizer “estou feliz, não se preocupem”, e amarrei meu cabelo no alto, num rabo de cavalo, para mão ter a chance de arrancar os fios de puro nervosismo. Então, por precaução, imprimi o programa da Faculdade de Medicina da Universidade de Toronto, sem esquecer de acrescentar que descobriram a insulina e as células-tronco; passei alguma coisa de maquiagem para agradar a Eleanor e olhei a hora. Pelos meus cálculos, eles não demorariam mais do que meia hora agora.
Já colocava a mão na maçaneta para sair do quarto quando a porta se abriu a minha frente, quase acertando meu nariz.
Justin estava aborrecido.
— É o apocalipse e não me avisaram?
Dei uma risadinha enquanto ele me olhava de cima a baixo.
— Se não é, é uma coisa bem parecida. Não está nervoso? — senti-me idiota no momento em que perguntei, sempre pensei que nada era capaz de intimidá-lo.
— Hm... — estendeu a mão para mim, me fazendo dar um rodopio lento — Fico nervoso te vendo vestida desse jeito — puxou-me para perto colocando a mão na minha cintura — Tem certeza de que uma pessoa como você quer ficar comigo? — seus olhos reforçavam o ar cômico, mas eu já o conhecia o suficiente para saber que ali tinha um fundo de verdade.
Tomei seu rosto magnífico em minhas mãos, nada surpresa que eu ainda perdesse o fôlego estando tão perto dele.
— Uma pessoa como eu quer exatamente ficar com uma pessoa como você.
Ele não sorriu, entretanto, se inclinou um pouco mais para me beijar ternamente. Depois, olhou fixamente em meus olhos.
— De verdade, Faith, está certa disso?
Encostei nossos lábios uma vez mais antes de responder.
— Você pode refazer essa pergunta quantas vezes quiser, a resposta sempre será a mesma. Eu sei o que eu quero, Justin, e tem seu nome e sobrenome.
Ele apertou os lábios, talvez contendo um sorriso.
— Se está prestes a criar uma guerra na sua família pra isso, acho que acredito em você — finalmente esboçou um meio sorriso — Eu te prometo que morro antes de permitir que a Companhia Bieber ou qualquer um tome posse de você. Te manterei segura — disse solenemente.
O abracei sem querer parecer ingrata por minha ausência de agradecimento. Para mim, cogitar sua morte não era motivo de contentamento. Muito menos agora.
Decidi esperá-lo tomar banho vegetando na cama. Depois da menção daquela palavra infeliz, afastar-me dele me deixaria dolorosamente inquieta. Ouvir o chuveiro em funcionamento era um lembrete agradável de que ele estava são e salvo a alguns passos de mim. Não fazia muito tempo que eu o tinha de volta, então não me julguei neurótica. Aproveitei a oportunidade para estudar o programa da faculdade mais uma vez antes que a porta do banheiro se abrisse, inundando o quarto com um aroma complexo de sabonete, produto capilar e perfume masculino. Levantei o papel que lia para ter uma visão sua da posição que eu estava e o contemplei abotoando a manga de sua camisa.
Em nome da minha própria sanidade, soltei o ar pela boca e voltei ao meu programa.
— O que achou? Estou devidamente adequado para um jantar com meus sogros? — perguntou num tom engraçado.
Disfarcei a satisfação de ter que examiná-lo mais minuciosamente, e aprovei no mesmo instante a camisa social azul clara em conjunto com o blazer grafite e a calça bege. Aprovar, na verdade, parecia uma palavra muito amena para alguém que perdeu a respiração.
Levantei o dedão em sinal de joia, sem encontrar palavras descentes em minha cabeça. Ele riu, sempre um profissional em interpretar minhas emoções. Depois, me estendeu a mão, uma ajuda muito bem vinda no momento. Inspirei seu perfume forte e passei as mãos na frente da sua camisa como se estivesse desamassando.
— Ficar ao seu lado é uma grande responsabilidade — eu disse — Já pensou em investir na carreira de modelo?
Justin levantou meu queixo para que eu o olhasse nos olhos, balançando a cabeça levemente com uma risadinha.
— Você ainda não se vê direito.
Fui conduzida ao closet, onde tinha um grande espelho do teto ao chão. Abraçando minha cintura de lado, Justin nos posicionou em frente a ele e por segundos tudo o que fizemos foi reparar no casal refletido que nos encarava de volta. Sem dúvida alguma, o homem tinha uma presença marcante, olhos confiantes num misto de quem sabe o que quer e o que tem e segredos bem guardados, desafiando a qualquer um que se atravesse a tirá-los dele; e, por mais incrível que pareça, a mulher deslumbrada parecia combinar com ele, talvez estivesse amedrontada, mas escondia isso atrás de uma fachada sólida e decidida similar a dele. Uma bolha segura os envolvia, e seria protegida com garras e dentes pelos dois. A curva da mão forte masculina se encaixava perfeitamente no quadril dela, como se naturalmente se pertencessem.  
Olhei para o rosto de Justin engasgada com o momento marcante. Ele sorriu de lado, acariciando minha bochecha e limpando a gotícula de emoção que transbordara ali.
— Eu sei — disse ele e beijou minha testa.
Desci mais otimista do que antes, provavelmente porque Justin segurava minha mão agora. Por minutos inteiros, pensei que nada poderia dar errado enquanto ele estivesse ao meu lado. A mesa já estava pronta, em expectativa sobre a refeição que receberia. Pattie, Diane e Bruce apareceram logo depois em trajes muito elegantes.
— O cheiro está ótimo, parabéns — elogiei, esperando que a ruga na testa de Pattie desaparecesse. Ela alisava seu vestido azul, que combinava com os olhos, freneticamente.
— Espero que o gosto também esteja — respondeu, checando a organização de pratos, talheres e copos mais uma vez — Eles já devem estar chegando. Pedi para aas crianças descerem, mas sabem como eles são, acho que vocês terão que trazê-los no colo.
Nós rimos e Justin já me puxou para cumprirmos a missão designada. Não chegamos a subir as escadas, Jazmyn e Jaxon desciam em disparada pelos degraus, como se disputassem.
— Cuidado, vocês vão cair! — repreendi.
Foi o mesmo que nada, não diminuíram a velocidade até estarem nos últimos degraus, quando se lançaram em nossa direção. Justin não teve dificuldades em segurar Jaxon no ar, mas eu cambaleei para trás quando peguei Jazzy por baixo dos braços e por um milagre não caímos no chão.
Os dois soltaram gargalhadas da pequena travessura enquanto eu tentava me recompor, resistindo a vontade de coçar as axilas com o repentino excesso de transpiração.
— Meu Deus, o que vocês tomaram?
Justin, ao invés de me ajudar na bronca, riu com eles. Claro, não foi ele quem quase foi esmagado por vinte e cinco quilos com grandes riscos de não ser apoio suficiente para proteger a criança.
— Acho que você tem que levar ela na academia com você — Jazzy debochou de mim, ainda pendurada no meu pescoço.
Deixei o queixo cair de modo teatral.
— Tudo bem, duvidem da minha força física, mas tenho uma habilidade inquestionável de... fazer cócegas!
Com um gritinho alarmado, Jazzy pulou de volta ao chão, correndo para trás do corpo de Justin em busca de proteção. Para não ficar de fora da brincadeira, Justin uniu-se à irmã e demos algumas voltas em torno da barreira humana que só nos observava entre risos. Dei uma meia volta inesperada e apanhei Jaxon no colo, atacando sua barriga com minha boca, eu mal o tocara e ele já se contorcia. Jazzy saltou nas costas do seu protetor e tentou incentivá-lo a galopar para longe.
Foram precisas três tentativas de nos chamar para darmo-nos conta de que não estávamos mais sozinhos. A uma distância segura, os anfitriões da casa, a família Evans e Hanna (o que ela estava fazendo ali?!) nos observavam, todos com sorrisos forçados que mal disfarçavam a apreensão — com exceção de Bruce, que parecia se divertir com a cena, e meus pais, que não se deram o trabalho de fingir um sorriso.
Aproveitando o silêncio abrupto, Pattie tomou a palavra:
— Eu vi que eles chegavam pela câmera e abri — anunciou, remexendo as mãos unidas.
Colocamos as crianças no chão, e trocando um olhar sobressaltado, Justin e eu ajeitamos nossas roupas.
— Evans, é sempre um prazer revê-los — ele já havia assumido sua postura diplomata, deu um passo à frente com a mão estendida e um sorriso impecável gentil.
Por um momento, fiquei com medo de que ninguém o respondesse, mas Caleb, captando meu olhar de súplica, seguiu a cordialidade exigida. Bryan seguiu seu exemplo de mau gosto, Eleanor e Hanna permitiram que beijasse suas mãos, e então eu virei o centro das atenções. Minha mãe se apressou em me tomar em seus braços com uma força surpreendente.
— Você adquiriu o costume de querer me matar do coração, não é? É um castigo por anos da minha ausência? — sussurrou choramingando.
Demorei para reagir, eu estava esperando xingos e tapas, não abraços.
— Não é nada disso — neguei, sentindo uma pontada de emoção aparecer de súbito no fim da garganta. Naquele momento, eles não pareciam apenas ditadores prestes a interferir nos meus planos, mas de fato a minha família, sinônimo de cuidado e proteção.
Caleb foi o próximo a me apertar contra si.
— É impressão minha ou estou vendo Maxon e Yasmin atrás de você? — perguntou-me baixo.
Eleanor e Bryan não se lembravam deles, se haviam se visto uma vez era muito. Um benefício muito propício.
Dei uma risadinha nervosa.
— Vou explicar.
— De qualquer forma, fico feliz que esteja bem, maninha.
Caleb mal me soltava e o próprio Bryan Evans estava me abraçando. Embora tenhamos nos abraçado na minha festa de aniversário, ainda fiquei perplexa. Daquela vez, sofrera uma grande carga de emoção para justificar o gesto, a última coisa que eu esperava depois da minha segunda fuga em menos de um ano era que me abraçasse.
— Nós vamos conversar, Faith. Ficamos preocupados.
— Desculpe — relutei a deixá-lo me soltar, seu abraço desajeitado me fazia sentir mais segura do que se estivesse no bunker da Casa Branca.
Quando nos soltamos, Hanna me esmagou contra ela.
— O que você está fazendo aqui, louca? — perguntei em meio minha felicidade. Hanna era imparcial em toda essa guerra, e significava um ponto de apoio muito importante para mim.
— Você acha que eu perderia o jantar do século? Está muito enganada. Sabe que eu adoro um drama.
— Pensei que era pra me apoiar — repreendi, brincando.
— Ah, isso também.
Percebi o silêncio estranho outra vez e logo identifiquei o problema, Caleb se agachava junto as crianças para abraçá-los, em um claro sinal de reconhecimento e saudade.
— E esses... quem são? Os rostos me são familiares... — Eleanor disse, aparentemente apenas educada.
Houve uma troca de olhares nervosa pelo cômodo até que a pessoa menos provável resolvesse responder:
— Ué, a gente é neto de vocês — Jaxon anunciou orgulhoso.
— A Faith e o Justin adotaram a gente — Jazzy confirmou.
Eleanor teve um acesso de tosse e eu desejei me esconder no quarto para fugir dos quatro pares de olhos alarmados em mim. Percebi certo tom de vermelho subir pelo pescoço de Bryan.
Agora não.
“Depois explico”, movi os lábios sem emitir som.
Meu pai ajeitou a gravata, e surpreendentemente, agachou-se sobre os calcanhares para estender a mão aos pequenos.
— Bem vindos à família.
Algo de errado não estava certo com aqueles dois.

Pattie não me deixou ajudar a servir o jantar quando terminamos de tomar o drink de Bruce.
— Estava muito bom — Caleb foi elogioso, dando seguimento ao trabalho de proporcionar um clima o menos hostil possível, bem provável que apenas em respeito às crianças. De qualquer forma, eu ficaria em dívida eterna com ele, sabíamos disso.
— Também aprovei, parabéns, senhor Dale. Talvez pudesse me passar a receita. Precisamos de algo assim em Boston — Hanna completou.
Bruce abriu seu sorriso grande e fácil. Parecia impossível para mim que alguém não gostasse dele.
— Fico agradecido. Meu pai me ensinou os toques certos, se nos visitarem mais vezes podem fazer estágio comigo na cozinha.
Bryan meneou a cabeça.
— Vocês têm uma bela casa — soltei a respiração que prendi quando percebi que ele estava prestes a dizer alguma coisa.
— Justin comprou. Incrível, não é? — Diane disse, toda contente.
Bryan olhou incisivamente para mim e depois para Justin — que eu fiz sentar ao meu lado para não corrermos riscos demais. Eu sabia que meu pai estava pensando de onde viera todo aquele dinheiro. De assassinatos? Ele arrumara outro emprego depois da farsa de sua morte?
— Podemos mostrá-la após o jantar — Pattie sugeriu.
— Eu posso mostrar!!! A gente pode começar da piscina? — Jazzy se empolgou.
— Eu também quero! — Jaxon interviu.
E todos sorrimos diante da leveza natural que eles acresciam a conversa. Talvez sua presença fosse a única coisa que impedisse um ataque direto dos Evans.
— E onde estão seus outros amigos, Faith? Aliás, como está aquela senhorita dos cabelos longos? Não me lembro o nome dela.
A cor fugiu instantaneamente do meu rosto, assim como qualquer espécie de resposta que eu pudesse pensar em dar. Não havia pensado na possibilidade lógica de fazerem essa pergunta. Eu nunca me acostumaria com a sensação de perder uma pessoa. É difícil entender que alguém possa simplesmente parar de existir de um dia para o outro. Maya mal tivera sua chance de recomeçar a vida e já perdera. E pior, ela contava comigo para ajudá-la.
— Ryan e Caitlin estão arrumando seu novo apartamento. Também decidiram morar no Canadá, aqui nesse bairro mesmo. Maya está no hospital — Justin respondeu por mim, colocando a mão em cima da minha embaixo da mesa.
— Quem é Maya? — Pattie perguntou — O que aconteceu a ela?
— Uma amiga que veio conosco para cá. Não se sentiu muito bem durante a viagem, mas vai ficar bem.
Bloqueei a crise de choro que ameaçava tomar conta de mim, contando os segundos enquanto respirava. Não pense nisso agora, Faith. Não pense. Só posso lidar com uma coisa de cada vez. Perdi alguns assuntos da pauta durante meu processo, e embora tenha sobrevivido sem derramar lágrima alguma, era possível dizer que eles notaram meu estado de espírito perturbado. Agradeci mentalmente por relevarem isso.   
O jantar seguiu sem muitos outros acidentes. A comida estava maravilhosa, o que realmente colaborou para amenizar um pouco a tensão. Mas como filha de Bryan e Eleanor eu podia ver que permaneceram o tempo todo desconfiados, julgando até a mínima palavra que saísse da boca de nossos anfitriões. Eles não sabiam do jogo social camuflado em todos os gestos, então não pensavam muito no que diriam. Justin já era mais cauteloso, extremamente polido e reservado. Hanna só observava e me incentivava com sorrisos confiantes. De qualquer modo, eles estavam tão perto de aceitar minha decisão como quando chegaram. Não era boa comida e uma grande casa que os convenceria de que morar aqui era minha melhor alternativa.
Jazzy e Jaxon foram bons guias, talvez rápidos demais, de modo que apressávamos o passo para acompanhá-los, contudo, apresentaram todos os cômodos. Apenas Diane e Bruce não participaram da excursão a fim de arrumarem a cozinha, mas Pattie dava conta do recado de fazer um comentário ou outro quando as crianças permitiam segundos de silêncio. Encarregada de apresentar os atributos do país, Patricia descreveu vagamente a boa vizinhança, o governo estável, a segurança pública adequada, tudo como uma patriota exemplar, descartando qualquer argumento negativo dos Evans baseado no país. Justin também completava quando achava necessário. Andei o tempo todo com o ombro a centímetros do dele, sem permitir que nos encostássemos para não aborrecer um pouco mais minha família.
A situação só ficou um pouco mais desconfortável quando Jazzy se apressou para a porta do meu quarto e disse em alta voz:
— Esse é o quarto dos nossos pais!
Dessa vez, quem engasgou fui eu. Justin permaneceu calmo para esclarecer aos olhares assassinos:
— Na verdade, Jazzy, só Faith ficará aqui. Lembra que conversamos sobre eu morar em outra casa?
Ela fez beicinho.
— Ainda não acho justo.
A expressão de Bryan desanuviou um pouco.
— Ah, então não planeja morar por aqui? — perguntou em seu tom inocente, o que queria dizer que a resposta correta era imprescindível.
— Não. Já comprei uma casa aqui perto. Se quiser, podem me fazer uma visita depois.
— Hm. Te incomoda se eu perguntar o motivo? — como se ele se importasse com isso. Apertei as unhas nas palmas das mãos, mas continuei olhando naturalmente para os meus pés.
— De modo algum. Devido ao meu emprego não vou parar em casa e queria um lugar mais próximo da empresa — respondeu sem hesitar, parecia ter se preparado para ouvir essa pergunta.
— Compreendo. Com o que está trabalhando atualmente?
Qual era a possibilidade de eu ter adquirido gastrite nervosa essa noite?
— Sou diretor financeiro da Cavanagh Imobiliária.
Ele devia mesmo ter mencionado o nome real de seus empregadores? Meus pais fariam uma pesquisa completa, não havia dúvidas.
— É surpreendente darem um cargo alto assim para um estrangeiro jovem que acabou de chegar ao país — disse Bryan, evitando usar a palavra “Mentiroso”.
— Tudo se resume aos contatos que você tem — Justin sorriu elegantemente. Aquela era uma verdade que Bryan não discordava, ainda mais diante daquela expressão de quem tem influência e sabe disso.
Assim que entramos em meu quarto, Eleanor recebeu a bola do inquérito.
— É realmente muito bonito. Parece que tiveram que planejá-lo durante algum tempo — ela, na verdade, queria dizer “há quanto tempo planejaram isso nas nossas costas?”
Justin novamente tinha resposta, abanando a mão com descaso.
— Não exatamente, só precisamos de bons profissionais.
Minha mãe esticou os lábios, superficialmente exibindo um sorriso, verdadeiramente cansada das respostas prontas de Justin. Ele não era alguém propenso a ser pego pelas palavras.
Terminamos o tour na sala de visitas, e os guias mirins receberam elogios por seu trabalho.
— Muito obrigado pela gentileza, meninos. Achamos uma visita fascinante — Bryan expressou o sorriso mais verdadeiro que dera nas últimas horas.
— Sim, foi extremamente agradável.
— Agora vocês podem descansar um pouco. O que acham? Vão jogar alguma coisa enquanto conversamos — Pattie sugeriu, afagando a cabeça loura das crianças sorridentes. Eles fecharam a cara na mesma hora.
— Mas de novo, vó Pattie? A gente quer ficar mais um pouquinho — Jazzy bateu o pé.
Pattie se abaixou e sussurrou alguma coisa no ouvido dela. Independentemente do que fosse, funcionou. Os olhos de Jazzy se iluminaram e ela pegou a mão do irmão imediatamente.
— Sim! A gente já volta! — nos informou antes de virar as costas e sair guinchando um Jaxon aborrecido para fora do cômodo.
— Sintam-se à vontade — Pattie apontou os sofás, visto que permanecíamos em pé.
Importunamente, dividi um com Caleb e Hanna, Justin foi parar sozinho em uma poltrona. Uni as mãos no colo, apreensiva enquanto o ambiente se ajustava para a liberdade que a ausência das crianças nos dava. Entretanto, não pensei que meu pai partiria diretamente ao ponto.
— E então, Justin Bieber, quais são suas intenções com a minha filha dessa vez? Ainda não compreendi qual é o nível de relacionamento de vocês.
Pensei que eu cairia dura no chão. Não deveria ter duvidado que eles abordassem uma inquisição direta com a família de Justin presente. Hanna tomou minhas mãos geladas nas suas, apertando um pouco para me tranquilizar.
Justin, sentado numa postura exemplar, não vacilou para responder. Olhou diretamente nos olhos do meu pai, de maneira respeitosa, e falou:
— Quero protegê-la, senhor. Ser tudo o que ela precisar. Faith Evans é minha prioridade.
As bochechas da minha mãe tremeram, ela se controlava para não abrir um sorriso. Eu não me dei ao trabalho de fazer o mesmo e Hanna me abraçou de lado, emitindo um “aw” baixo o bastante para que só nós duas ouvíssemos. Por outro lado, meu pai não alterou sua fachada exigente.
— E o que me garante que vai honrar sua palavra e não machucá-la de novo? — apertou um pouco os olhos.
— Agora me comprometo em frente à sua família e a minha, senhor Evans. Sei que não tem motivos para confiar em mim, mas, por hora, é o que tenho a oferecer. Sei, também, que não sou digno de amar alguém como ela, contudo, trabalharei todos os dias — e agora olhava diretamente para mim — para me tornar merecedor de tamanha atenção.
O sangue em minhas veias tornou-se caramelo puro enquanto meu coração se derretia. Eu só queria agarrá-lo naquele instante e garantir que nunca mais nos separássemos. Eu sou sua, Justin Bieber, gritei em meu silêncio.
Bryan pigarreou, quebrando nosso transe.
— E vocês não se incomodam em ter nossa filha em sua casa? Por algum motivo Faith insiste que quer ficar aqui, contudo....
— É um prazer recebê-la aqui, senhor Evans — Pattie se pronunciou — As crianças a adoram.
Ele assentiu, coçando o queixo, pensando consigo mesmo.
— Mandaremos um valor para contribuir com as despesas. Se precisarem de mais, passem o excedente para Faith e ela nos encaminha. Já agradeço pela hospitalidade.
Sim, aparentemente Bryan Evans estava me entregando de bandeja para uma família que acabara de conhecer. Mas apenas aparentemente mesmo. As coisas não seriam tão fáceis assim.
— Senhor Evans, dinheiro realmente não é necessário — Justin contestou.
— Isso não está em discussão — disse meu pai, a curva que sua boca fazia era apenas para manter as aparências de uma conversa civilizada — E sobre as crianças... — deixou a pergunta no ar, uma coisa bem atípica dele.
Justin nem piscou enquanto sua família e eu nos remexíamos inquietos em nossos lugares.
— São meus irmãos. Filhos do meu pai com uma falecida esposa — a imagem de Erin sem cor aos meus pés ilustrou meus pensamentos e tive arrepios violentos — Descobri sua existência e os busquei no orfanato. Como já os visitei com Faith, imaginaram que nós dois os adotávamos — explicou tranquilamente.
— Mas o orfanato os anunciou como desaparecidos — Caleb contestou.
— Sim. A Companhia Bieber os mantinha ali, e eu não vou permitir que eles cresçam no mesmo meio que cresci.
Logicamente, ninguém questionou essa linha de raciocínio.
— Certo, mas não acham melhor que eles saibam a verdade? Que você é apenas irmão dele e Faith é uma... amiga? — Eleanor argumentou.
Reprimi a vontade de levantar e acusá-la de hipócrita. Eles eram os reis em esconder a verdade dos filhos. Não que eu já os tenha considerado como meus filhos... Eu só.... Bom....
— Vamos conversar com eles em breve — garantiu.
Bryan e Eleanor se olharam ao passo que eu e Justin também o fizemos. Vamos? Em breve?
— Vocês se importariam se conversássemos com Faith por um momento a sós?
Provavelmente devido a autoridade natural na voz de Bryan, a sala se esvaziou em questão de segundos. Todos me jogaram olhares solidários antes de sair. Justin me deu uma piscadela. Como ele podia ser tão confiante?!
— E então, Faith. Pode nos contar o que está acontecendo?
Olhei minhas mãos retorcidas enquanto explicava o necessário. Caleb já adiantara alguma coisa, eu só precisava repetir a informação. Não era ideal ficar tão perto dos Biebers, e sim, era seguro no Canadá. Todos ficaríamos bem. Olha essa faculdade de medicina que maravilha! Experimentar novos ares pode me fazer muito bem, deixar o passado para trás...  
— Você quer morar na casa dos familiares do passado.
Revirei os olhos para Eleanor, disfarçando o fato de não poder contestar seu argumento.
— Precisamos de um recomeço, mãe — olhei a minha volta, apreendendo o que eu diria — E aqui parece ser um bom lugar para isso.
— Filha... — Bryan se inclinou para frente, abusando das rugas de preocupação em sua testa — Você tem certeza de que ele não é um criminoso? Que não tem relação com assassinatos? E não estava envolvido com nosso contrato?
— Pai, Justin é uma ótima pessoa, eu sei disso. Ele é completamente diferente daqueles seus parentes loucos — eu deveria me preocupar por não ter me sentido culpada? Na realidade não havia mesmo mentido. Não neguei nada, só acrescentei verdades.
Eles não pareceram totalmente convencidos. Evitei transparecer meu nervosismo frequente. Bryan mandaria investigar toda a vida de Justin. Eu esperava que a Companhia fosse de fato boa em esconder esse tipo de informação.
— Você está certa disso? Quer dizer, nós acabamos de te ter de volta em casa. Podemos dar um jeito juntos, não precisa se exilar aqui. Não é justo.
Aproximei-me deles, me ajoelhei em sua frente e tomei a mão dos dois nas minhas.
— Vejam isso como algo ordinário na vida dos pais, seus filhos geralmente saem de casa para estudar fora. É isso que estou fazendo, e vou ficar bem.
Eleanor franziu os lábios, dando uma olhadela para a porta fechada.
— E pode mesmo confiar nele? Com o seu coração?
Eu e Justin passamos por várias coisas, até as mais inimagináveis, em questão de meses. Houve confiança demais, falta desta, mentiras, manipulações, brigas, e mesmo assim, fazíamos questão de estarmos juntos. Nossos erros eram superados pela nossa necessidade um do outro. Em algum lugar do universo, foi determinado que Faith Evans só existia com Justin Bieber, e vice-versa. E se acabasse depois? Bom, eu saberia ter aproveitado desse amor devastador até onde pude.
— Sim.
Meus pais não ficaram felizes, muito menos Caleb, mas não pareciam muito a fim de brincar de cabo de guerra com Justin. Recebi promessas – e as fiz também – de visitas, ligações e atualizações frequentes. Morar em outro país não me faria esquecer que eu tinha uma família a horas de distância. Depois de ter partido para Minneapolis sem nem ao menos avisá-los, creio que se sentiam no lucro que dessa vez eu ao menos demonstrasse o quanto a opinião deles era importante.
No fim, as coisas não pareciam ir tão mal assim. Eles até aceitaram passar a noite em dois dos quartos de hóspedes para viajarem de volta a Boston apenas no dia seguinte, já com data marcada de outra visita. Jazmyn desceu as escadas escondida atrás de Jaxon, e este entregou um pequeno cartão de convite para o aniversário de Jazzy. No endereçamento lia-se “para vovó e vovô”, ao passo que o de Caleb constava “tio Caleb”.
— Pode trazer sua namorada também — ela disse, apontando o queixo para Hanna, que entrou em combustão imediata. Eu e Caleb seguramos o riso.
Eleanor abriu um sorriso comovido, contrariando o olhar repreensivo que eu pensei que receberia, enlaçou o braço no de seu esposo e assentiu com vigor.
— Será uma honra comparecer ao seu aniversário, querida — aquilo era brilho em seus olhos?
E de repente, estava tarde o bastante para cada um se recolher ao seu aposento. Justin garantiu que dava conta de colocar as crianças para dormir enquanto eu acomodava minha família. Não fiquei surpresa quando Hanna se infiltrou em meu quarto, anunciando que dormiria ali comigo.
— A não ser que... você sabe... o posto esteja ocupado — cochichou.
Seu tom de voz conseguiu me deixar sem graça, mas respondi que Justin dormiria em sua própria casa. Minha careta de desaprovação foi interpretada de outra forma por ela e acabou levando tapas merecidos.
— O que foi? Vai me dizer que não o queria aqui com você? — escondeu-se de mim atrás dos meus ursinhos — Fala sério, Faith, você está caidinha na dele como antes. Está completamente legível em suas sobrancelhas.
— Sobrancelhas?
— Achei que olhos ficaria muito clichê, mas não muda de assunto!
Saltei da cama e me olhei no espelho desnecessariamente para desfazer o rabo de cavalo.
— O que quer que eu diga?
— Que você está de quatro para Justin Bieber.
— Hanna Marin!!!
Ela gargalhou, desviando-se de uma escova que atirei em sua direção.
— Você o ama, não é? Apesar de tudo. Ai, Faith, não sei se essa é uma boa ideia. Caleb tem certeza que não é. A qualquer momento ele vai entrar nesse quarto para te convencer a ir embora.
Bufei, me jogando em seu colo. Sensitiva como era, de pronto passou a acariciar meus cabelos.
— Não há o que fazer, Hanna. Vou ficar. Eu o amo. Aquele desgraçado de olhos cor de mel pegou meu coração e engoliu. Sabe como é difícil tirar alguma coisa do estômago de alguém sem que fique deplorável?
Hanna mordeu a boca, contendo o riso. Suspirou.
— Sei.
Sentei-me ereta.
— O que foi?
— O que foi o quê?
— Qual foi a desse suspiro? “Sei”? Você por um acaso está apaixonada, Hanna?
Ela semicerrou os olhos, ultrajada com a minha suposição.
— Não!
— E por que estaria ofendida com uma pergunta simples como essa?
— Quem disse que estou ofendida?!
— Quem é, Han?
— Você não...
— Quem é, Han?
— Como pode pensar que...
— QUEM É, HANNA?!
Com um grito exasperado, jogou-se entre meus ursos e cobriu a cabeça com um travesseiro.
— Hanna, quem...
Ouvi seu murmúrio abafado pelo tecido.
— O quê?
Vencida, tirou o travesseiro da frente e disse para o teto.
— Seu irmão!
Experimentamos um momento de estranheza. Reorganizei as ideias e abri a boca:
— Por que não falamos sobre coisas mais importantes? Como o fato de ser mãe de crianças de dez anos aos vinte e dois? — adiantou-se, um pouco histérica.
— Mais importante do que... — sua mão cobriu minha boca.
— Eu sei o que está pensando. Não planejei isso. Não gosto disso. Já me julguei por isso. Já tentei tirar da minha cabeça com filmes, baladas, outros caras, compras, séries e comidas. A última coisa que eu queria era estragar duas amizades essenciais na minha vida. Mas... o mundo não é justo! Pronto. Já podemos mudar de assunto? — respirou, recuperando o fôlego.
Ela não resistiu quando removi sua mão da minha boca, talvez temendo que eu a quebrasse.
— Você tem certeza? E contou a ele?
Sua expressão se distorceu em agonia.
— Na verdade... Eu... Ele... Nós... A gente... Teve um... Aconteceu que... — estalei os dedos em frente ao seu rosto, esperando que desengatasse. Ela cobriu os olhos — Nos beijamos! Uma vez. Ontem, na verdade. E não foi planejado — confessou.
Fiquei muda. Ela tirou a mão dos olhos e colocou as mãos defensivamente no pescoço.
— Vai me matar? — não me mexi — Você tem que dizer alguma coisa! — implorou.
— Hanna, se está planejando brincar com meu irmão como...
— Juro que não é isso, Faith. Eu entendo seu receio. Sei que não sou um exemplo de pessoa nesses casos, mas eu só... não pude evitar. Me perdoa.
Expirei. Hanna não ficava muito tempo com um homem, logo se cansava deles, repentinamente. Caleb não era assim e já sofrera o bastante com Cassie.
— Vocês falaram sobre isso?
— Não exatamente. As coisas só... seguem. Acho que não vai demorar para que conversemos, mas... Se quiser, eu digo a ele que foi apenas um beijo, e me afasto completamente! Te juro, Faith. Nunca mais falo com ele.  A não ser quando a educação exigir... Nos seus eventos — quase choramingou.
Quem queria choramingar era eu. Ouvimos batidas na porta.
— Faith? Já estou indo — Justin avisou pelo vão da porta.
Sem precisar pensar, coloquei-me para fora do quarto a fim de acompanhá-lo até a porta, deixando uma Hanna aflita para trás.
— E então? — questionou meu silêncio quando estávamos no meio da escada.
— Aconteceu uma catástrofe.
Ele me esperou completar sozinha.
— Caleb... Hanna... Caleb e Hanna... Argh, não posso dizer isso em voz alta! — parei de andar, concentrando-me unicamente em obrigar as palavras a saírem — Se beijaram, Justin, se beijaram!  — cruzei os braços, recomeçando o caminho.
— Hmmm... e suponho que a ideia não te agrade?
— Não me agradar é uma maneira amena de dizer.
— Percebo. Por um momento pensei que seu pai acabara de decretar que te arrastaria de volta a Boston.
Neguei, lembrando-me que ainda não havia lhe contado o que ocorrera na sala.
— Na verdade, eles não foram tão difíceis assim. Perguntaram se eu estava certa da minha decisão. Por algum motivo, as pessoas insistem em me perguntar isso — o acotovelei.
— E eu já estava me preparando para voltar a Boston com você — olhei pra ele — Já te disse que não quero estar em nenhum lugar que você não esteja.
Segurei sua mão em meu rosto, sentindo a falha básica em meus batimentos cardíacos quando adentrávamos essa esfera.
— Eu achei muito bonito o que disse a Bryan.
— Apenas a verdade — pegou minha mão, abriu meus dedos e acariciou minha palma voltada para cima — Você me tem aqui, Faith. Para fazer o que quiser de mim.
Abusei demais do meu autocontrole por uma noite só, então simplesmente segui meu instinto feliz e contente de beijá-lo.
— Sentimento é uma coisa engraçada, não? Aparece nos locais e nos momentos mais inusitados.
Peguei sua indireta direta e fechei a cara.
— Está falando de Caleb e Hanna?
— Veja bem — abraçou minha cintura, deixando-me na área de risco extrema de sua proximidade. Ele sabia usar os danos que causava em minhas faculdades mentais —, nós somos o casal mais improvável da terra. Caleb e Hanna não podem ser piores que nós dois juntos, certo? — sorriu, talvez para reforçar sua persuasão perfeita ou em sinal de alguém que já sabe ter ganho a rodada.
Sacada de mestre a dele. Nos chamar de casal e mostrar aquele sorriso era golpe baixo.
— Um casalzão improvável da porra — e de repente nada mais importava.
Trocamos um sorriso, felizes demais para uma história turbulenta como a nossa. Sorriso de quem tem dias incontáveis pela frente para mudar todo um curso de guerra que insiste em ficar no caminho. Sorriso de quem está pronto para superar mais uma empresa culturalmente sanguinária. Sorriso de quem não tem medo de criar duas crianças em conjunto. Sorriso de quem tem uma certeza absoluta: de que o amor é, e sempre será, sua estação preferida.