Leitoras com Swag

Hey garotas, beliebers ou não beliebers. Só estava faltando você aqui! Nesse blog, eu, Isabelle, faço IMAGINE BELIEBERS/ FANFICS. Desde o começo venho avisar que não terá partes hots nas Fics, em nenhuma. Repito, eu faço 'Imagine Belieber' não Imagine belieber Hot. A opinião da autora - Eu, Isabelle - não será mudada. Ficarei grata se vocês conversarem comigo e todas são bem vindas aqui no blog. Deixem o twitter pra eu poder seguir vocês e mais. Aqui a retardatice e a loucura é comum, então não liguem. Entrem e façam a festa.
" O amor não vem de beijos quentes. Nem de amassos apertados. Ele vem das pequenas e carinhosas atitudes."- Deixa Acontecer Naturalmente Facebook.
Lembrem-se disso. Boa leitura :)

Com amor, Isabelle.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

One Love 31

Rolei de lado, despertando de um pesadelo inoportuno. Os Peters haviam me amordaçado em sua sala de estar, Wren segurava uma espada estilo Mortal Kombat a postos, aguardando apenas a ordem dos pais para cravá-la em meu peito. Felizmente, fiquei tão perturbada a ponto de ser cuspida imediatamente do subconsciente. O suor pegajoso gotejava em minha testa e colava meus cabelos na nuca. Demorei a decidir o que seria pior: dormir novamente e arriscar voltar ao pesadelo ou levantar-me e encarar os preparativos para o almoço peculiar com os Peters.
— Faith? Tá tudo bem? — a voz enfraquecida de Maya me fez abrir os olhos. Ela me encarava do sofá, envolta na manta com a qual eu lhe cobrira de madrugada.
De repente me ocorreu. Feito uma idiota, tateei a cama, não confiando totalmente em minha visão.
— Justin não está aqui — explicou-me, adivinhando o que eu procurava.
Sentei-me tão rápido que fiquei tonta. Em menos de um segundo vislumbrei milhares de situações caóticas em que ele havia se metido.
— Onde ele está? — grasnei, rouca de sono.
— Saiu para buscar alguma coisa na casa de Caitlin. Me pediu para avisá-la que não chegará perto dos Peters e prometeu que se te encontrasse num estado minimamente pior quando voltasse, extinguiria minha árvore genealógica da terra — apertou os lábios — Por isso preciso garantir que você não está passando mal nem nada — finalizou com ansiedade.
Me joguei de volta aos travesseiros, frustrada. Alcancei meu celular embaixo de um deles e verifiquei as mensagens. Ele dizia ter saído às nove e prometia estar de volta nove e vinte, no máximo. Segundo o relógio, dali cinco minutos. Pisquei os olhos secos, meu corpo não tivera o tempo necessário para recompor as energias, mas me avisava estar desperto demais para me embalar na reconfortante — quando não agitada em pesadelos — inconsciência.
Deixei as mãos caírem no colchão, encarando o teto. Qual era a probabilidade de Deus me levar agora? Tipo, arrebatar mesmo.
— Você gosta mesmo dele, não é? — Maya introduziu o assunto vagarosamente, incerta de que podia expor o que pensava.
Olhei pra ela.
— Ele quem?
Torceu a boca.
— Justin. Dá pra sentir no ar a ligação de vocês quando estão próximos ou simplesmente trocam um olhar, como se fosse algo palpável. Sua expressão se transfigura quando o vê — descreveu, dotando certo tom de descrença — Não é uma coisa que eu já tenha presenciado por aí, então não dá pra não deixar de reparar — justificou-se rapidamente, atenta à alguma mudança em minha expressão.
Então ficava mesmo na cara o quanto eu era doente por ele, bom saber. Me remexi, desconfortável.
— Você conhece o sentimento? — reverti o assunto, não gostando nada da exposição que me encontrava, principalmente em alguém que eu não confiava.
Negou, fazendo um beicinho. Surpreendentemente estendeu sua fala em um desabafo posterior:
— Sempre achei que pudesse me contentar com olhares de cobiça sobre mim. Gosto da sensação de ser desejada e poder experimentar vários produtos — o canto de sua boca se repuxou com malicia ligeiramente — Só que não há nada de tão especial nisso. Em alguns momentos, eu só queria que alguém me olhasse como se pudesse ver minha alma de forma que fosse seu próprio sol — não piscou, imersa em seus pensamentos — e não como um pedaço de carne suculento no açougue — fitou-me — Você tem sorte.
Desde a noite em que levei Maya ao pub em Minneapolis, notei certa facilidade sua em expor sua vida em determinadas situações. Não imaginava, entretanto, que sua parte sentimental fosse tão profunda a ponto de provocar anseio por sentimentos maduros num relacionamento sério. No compartimento limitado do meu cérebro, a gaveta de Maya não permitia palavras como “compromissada”.
— Sorte?
— Conseguiu isso. E não com qualquer pessoa, conseguiu com a mais improvável delas.
Franzi o cenho, cogitando a ideia de que estivesse bêbada para dizer tais coisas.
— Talvez você não tenha entendido muito bem. As coisas não são... exatamente assim — perguntei-me se ela podia ouvir meu tom tristonho tanto quanto eu. Justin podia ser definido como meu próprio sol, mas eu certamente não ousaria superestimar minha consideração para ele.
Ela estalou a língua, revirando os olhos.
— Puro drama corriqueiro. Mas ouça o que eu digo: vocês são muito mais do que amigos coloridos.
Cruzei os braços.
— E quem disse que há cor em nossa amizade?
Ela achou graça, mal se esforçando para conter um sorriso.
— Ah, Faith, sou muito boa em ler pessoas. Você voltou toda eufórica depois que trocou de roupa ontem. E como se isso já não bastasse, ele também estava com uma roupa diferente. Acrescente o toque do leve aroma de cloro em seus cabelos e não fica muito difícil entender o que aconteceu.
Fechei a cara, impedindo o rubor de tomar conta das minhas bochechas.
— Se quer saber, eu só entrei na piscina porquê...
Levantou a mão, me detendo.
— Não precisa me explicar nada, mas também não pode negar coisas que já sei.
Virei o rosto, indignada com sua capacidade de me interpretar. E eu que achava estar evoluindo nessa história de ser um livro aberto! Fiquei mais irritada comigo mesma.
— Pense o que quiser — finalizei carrancuda, sem querer dar o braço a torcer.
Ouvi Maya se mexer no sofá.
— Nunca entendi muito bem essas coisas de filme — sua voz se alterara levemente, para não dizer que adquirira um tom de revolta. Devido a minha surpresa, ganhou minha atenção outra vez, mas não olhava para mim — Está na cara que os dois se gostam, só que insistem em ficar separados por culpa do orgulho ou sabe-se lá o motivo. Para mim sempre foi meio irritante. Pensei que isso não fosse reproduzido na vida real.
Ultrajada com seu julgamento superficial sobre mim, estava prestes a lhe explicar novamente que Justin não era bem assim quando ela decidiu continuar, alheia a tempestade que eu formava:
— Prometi a mim mesma que me agarraria a primeira oportunidade que aparecesse de uma faísca sequer de amor — vincos afundaram sua testa e o queixo — mas nunca apareceu.
Rebati sem me atentar a detalhes importantes que me fariam perceber a falta de propriedade para elucidar com tanta certeza, disposta a contrariá-la no que quer que dissesse:
— Família é o amor primordial, é o vínculo mais importante que podemos criar na terra. Não é como se precisasse de mais alguém — uma parte bem pequena de mim me acusou de hipocrisia. Havia acabado de me acertar com os meus depois de afastá-los por causa de um terceiro, não merecia um convite para palestrar sobre o assunto, por exemplo.
Sua tese, contudo, permaneceu intacta:
— Eu sei. E só comecei a procurar fora quando cansei de olhar por onde não havia nada — me olhou, os olhos castanhos tão intensos me fizeram cair do cavalo antes mesmo de abrir a boca — Veja, meus pais não passavam de dois bêbados drogados estúpidos que praticamente maldiziam a minha existência. Deixavam claro todos os dias que fui um erro e fruto de aborto malsucedido. Apenas meu pai não desprezava minha existência em alguns períodos terríveis. E vai por mim, eu preferia estar morta em todos eles. Acabei entendendo que aquilo não era demonstração de seu afeto por mim — um arrepio congelante passou por minha espinha, sentindo sua amargura se arrastar para mim e apertar minha garganta. Por outro lado, Maya endurecia seu queixo, longe de se deixar influenciar por lágrimas — Já chorei o suficiente por isso, e nunca escutei a voz covarde da minha cabeça implorando por suicídio. Sou teimosa demais para desistir de qualquer coisa, e repeti a mim mesma que venceria na vida. Fugi de Wisconsin e me instalei em Minneapolis da forma que podia. Pelo menos meus genitores inúteis serviram para me dar um rosto bonito que tornasse o trabalho fácil. Eu estava no lugar certo e na hora certa, então conheci George. Fiz um bom trabalho e ele me ofereceu uma jornada fixa. No fim, adquiri sua confiança bem quando estava precisando de uma assistente, e eis-me aqui. Consegui ter a vida confortável que sempre quis — tive impressão de que sorriria triunfante. Não aconteceu — Só não consegui que alguém tivesse algum afeto genuíno por mim. E agora também estraguei todo o restante. — Deu-se uma pausa enquanto ela mesma apreendia suas palavras. Inquietação permeou sua face até que resolvesse não se importar — Foi uma vida interessante, pelo menos. Fico satisfeita por ser a Companhia ou Justin a colocar um fim nela. Eu tentei, pelo menos. Não sou uma perdedora.
Percebi que eu me encolhia, abalada com sua história. Concluí que Maya era uma das pessoas que conseguiam vencer o mundo. Lutaria até não restar mais alternativas e partiria com a consciência limpa. Não se deixava abater totalmente com o cerco se fechando a sua volta. Acabei sentindo mais empatia por ela do que planejava e mordia língua para não lhe pedir um abraço.
— Só estou te contando tudo isso porque preciso que alguém saiba disso tudo, pra valer a pena, pra que o mundo tenha conhecimento de que não fui uma fracassada absoluta — deu de ombros transparecendo indiferença.
Eu não queria sentir pena dela, muito menos me sentir culpada por ter me aproximado daquela criatura apenas para tirar proveito de sua situação, mas não podia evitar de me reconhecer responsável. Mesmo sem estabelecer comigo mesma, eu já estava me comprometendo em fazer o que fosse para mantê-la segura. Se não fossem as circunstâncias em que nos encontramos, ela seria uma pessoa, no mínimo, interessante para se manter uma amizade.
Resolvi que já era hora de me levantar e encarar o meu dia, porém, não saí da cama antes de fazer o sinal da cruz. Depois de estar um pouco apresentável, longe da minha bagunça matinal, procurei saber sobre nossos hóspedes, guardando toda a confusão de Maya para digerir depois — precisava de um enigma de cada vez —. Ao que parece, todos estavam com o mesmo problema de nervosismo e se concentravam estranhamente na sala de estar, a qual se tornara quase irreconhecível em comparação com a noite anterior. Tudo já estava perfeitamente em seu lugar e limpo, coisa que me desconcertou um pouco devido a estes últimos meses. Não parecia mais natural que a bagunça evaporasse sem que eu me dispusesse a limpá-la.
Inicialmente, não falamos sobre os eventos que se sucederiam poucas horas dali, nos restringindo à cordialidade social esperada numa reunião de pessoas enquanto comíamos biscoitinhos doce. Bryan me passou os cumprimentos de Willian — meu antigo segurança — que lamentava estar viajando em sua folga e assim não podia me ver. No fundo, eu sabia que ele estava grato por essa coincidência de datas, isso se não viajara exatamente por causa da festa. Seria mais do que compreensível, fiz jus a meu status de mimadinha que sempre faz o que quer. Mas ele apenas me pegou numa época ruim, minha prioridade era Justin, e eu faria qualquer coisa para estar ao lado dele.
Percebi que o momento de descontração havia acabado quando Bryan se levantou do sofá e parou impotente no meio da sala, colocando as mãos no bolso, instantaneamente provocando o silêncio de todos no cômodo. Ele já sabia que isso aconteceria, claro, então esperou apenas mais cinco segundos para que o silêncio se acomodasse em nossos ouvidos e recepcionassem atentamente sua voz.
— Conversei com Eleanor e decidimos fazer um brunch, tanto por conta da hora quanto pela variedade no cardápio — informou — Liguei para Clark logo ao acordar e ele pareceu entusiasmado com o convite — embora se esforçasse para permanecer impassível, vi bem quando seu queixo travou de pura raiva. Hipocrisia tinha certa quota para ser aceitável. Olhou o relógio no pulso — Temos uma hora até que cheguem para decidirmos perfeitamente como tudo ocorrerá. Eleanor já pensou num cardápio. Você pode apresentá-lo, querida?
Bryan podia ser alvo de muitas das minhas críticas, mas eu nunca questionaria sua competência, independentemente de concordar com suas decisões, notava-se excelência nos métodos. Sendo bem-sucedido ou não, traçava os mínimos detalhes com precisão, o que geralmente lhe garantia a vitória. Então sim, para ele era importante que conhecêssemos até mesmo o que seria servido, precisava ter o controle de cada acontecimento.
Depois da exposição de Eleanor, portanto, partimos para a disposição estratégia de cada um no cômodo. A mesa do jantar fora jogada para o canto da parede de modo que tivéssemos o centro livre; as cadeiras foram retiradas. Ryan devia se manter o tempo todo próximo a mim, Caitlin e Maya próximas à Eleanor, Bryan afirmara que ele e Caleb guardariam as costas um do outro caso fosse necessário. Como medida preventiva, tomara a liberdade de contratar dois guarda-costas que se infiltrariam disfarçadamente como amigos de Maya. Desta forma, os Peters seriam induzidos ao erro imaginando que ambos estariam ali por ordem da Companhia, devido a conversa que Clark tivera na noite anterior com Caitlin e Maya. Quando o assunto se voltasse ao que interessava, quatro seguranças se direcionariam para as duas únicas saídas do cômodo, dois em cada uma. Num geral, a orientação se resumia em não nos aproximarmos muito deles e tentar mantê-los fisicamente separados.
Com o plano todo transposto para o mundo material, pode-se sentir a tensão palpável caminhar entre todos nós. Nos entreolhamos por segundos longos até que Bryan se fixasse em Hanna empoleirada ao meu lado.
— Senhorita Marin, não deixaremos de avisá-la sobre o ocorrido. Talvez eles cheguem com minutos de antecedência, então o adequado seria que nos deixasse ao menos meia hora antes. 
Hanna demonstrou seu dissentimento antes mesmo de abrir a boca.
— Com todo o respeito, senhor Evans, acredito que meu lugar é aqui. Posso ajudá-los também.
A sobrancelha do meu pai se levantou ligeiramente. Até mesmo Caleb baixou os olhos para não ferir os sentimentos da minha amiga. Todos pensávamos o mesmo. A responsabilidade de argumentar recaiu sobre mim. Segurei sua mão carinhosamente, chamando sua atenção.
— Hanna, acho melhor que você realmente vá para casa, ficaremos mais tranquilos com você lá. Não precisa passar por isso. Com você aqui apenas nos preocuparíamos com a segurança de mais alguém.
Ela fechou a cara para mim, talvez me direcionando o olhar mais feio que já havia feito desde que nos conhecemos.
— Você gosta quando é deixada para fora, Faith? Então não faça o mesmo comigo — e passando os olhos em cada um dos Evans pronunciou as palavras com firmeza — Vocês são minha família também, não podem me pedir para ficar longe num momento desses — finalizou encarando Caleb. Certamente ele era mais maleável a sua persuasão, tinha alguns problemas em lidar com sensibilidade do sexo feminino.
Meus pais não se pronunciaram mais sobre o assunto, deixando a responsabilidade inteira nas minhas mãos com um simples aviso corporal que eu bem entendia. Quis expirar desanimada, Hanna não costumava ser tão teimosa, mas compensava isso em algumas das vezes, e eu tinha certeza que essa era uma delas.
Eleanor partiu para a cozinha a fim de verificar o andamento dos alimentos com Flê, a qual burlava sua folga para ficar com os filhos devido à minha presença na casa. Depois de preparado o brunch, ela voltaria para Nicole e Jean sem conhecer a verdadeira intenção deste. Fiquei aliviada por isso, por mais que soubesse a bronca que levaríamos quando descobrisse o transtorno passado em sua segunda casa. Hanna caminhou para o lado contrário da sala claramente para me evitar e Caleb a seguiu lealmente numa harmonia um pouco surpreendente. Assim que Bryan sumiu de vista, me aproximei de Caitlin e Ryan.
— Isso também serve para vocês. Eu não quero que comprem toda essa confusão. Se algum de vocês se machucar... — estremeci.
Caitlin tocou meu ombro abusando de um meio sorriso quase grosseiro nas bochechas rosadas. Ela tinha o rosto de uma boneca delicada. E espirito de Pocahontas.
— Você sabe que não somos pessoas influenciáveis, Faith. A possibilidade de sairmos daqui é tanta quanto a de nos machucarmos. Está nos subestimando.
Apelei para Ryan, entornando meus dedos nos seus levemente. Deveria saber que para esses assuntos, meu poder de persuasão não funcionava com ele. Seus olhos se reviravam nas órbitas diante da minha preocupação, fazendo descaso.
— Até parece que não me conhece. Como eu poderia ficar fora da diversão?
Junte esse misto de “não” e ganhe uma Faith insatisfeita e enfezada. Para agravar meu humor, os cinco minutos de Justin já haviam passado há quase meia hora. A aversão que participasse daquele brunch e o receio de que parecesse possessiva me impediram de mandar uma mensagem. Entretanto, aquele combo fez o favor de me desinibir. Não pensei direito e, no estado em que estava, comecei a digitar brutamente “Morreu?”. Travei no mesmo instante ao perceber o que havia escrito, sentindo o desconfortável arrepio congelar minha alma, dando brecha ao medo pungente de se aproximar de mim. Apaguei tudo de uma vez e recomecei.
“Onde você está, palerma?”
Tive que esperar por um minuto eterno até receber a resposta.
“Em seu quarto.”
Claro, eu não esperava que ele entrasse pela porta da frente e se apresentasse aos meus pais profetizando um milagre semelhante ao de Lázaro, certo? Bom, pelo menos podia ter me avisado quando chegou.
Vi-me tropeçando em meus pés para encontrá-lo, pronunciando apressadamente alguma coisa como “já volto”. Acabei esquecendo Maya para trás e me permiti desfrutar da confiança que tinha no meu casal inusitado para ficar de olho nela. Irrompi pela porta de modo que quase caísse de cara no chão uma vez dentro do quarto, naquela abstinência doentia e asfixiante.
Meus músculos rígidos relaxaram assim que vi suas costas largas cobertas por uma blusa preta lisa combinando com o boné de beisebol em sua cabeça. Tive vontade de encurtar a distância e abraçá-lo pelas costas, me fundindo com seu cheiro. Por outro lado, apenas tranquei a porta atrás de mim e apreciei um pouco de dejà vú, devido à sua posição na sacada, do dia em que nos beijamos pela primeira vez. De fato, eu levei um baita susto quando o encontrei em meus aposentos depois da festa de Clarissa; mais tarde descobri que era um susto bom. Dessa vez, o abalo me agitava por vê-lo tão exposto visivelmente na minha sacada para quem passasse na frente da minha casa.
— O que está fazendo? — engasguei.
Ele se voltou para mim sucessivamente quase trombando em meu corpo. Eu planejava puxá-lo de volta para a segurança que as quatro paredes lhe davam, e acabei arriscando minha sanidade. Dei pelo menos três passos para trás, duvidando que o fato de estar de óculos escuro nos olhos era mesmo tão benéfico quanto meu cérebro superficialmente pensou.
— Bom dia — murmurou.
Tirou o acessório ao mesmo tempo que desviava de mim, andando pelo quarto de modo que ficássemos de costas um para o outro. Foi automático, me movi inteiramente para ter visão privilegiada dele, mas não precisava disso para distinguir certa estranheza o envolvendo.
— Onde estava? — insisti, visto que não obtive resposta para minha primeira pergunta.
Observei-o se ocupar de qualquer coisa que o isentasse de olhar para mim depois de ser breve em dizer que estivera na casa de Caitlin e deixara Maya responsável por passar o recado. Arrumou meticulosamente minha cama já arrumada, deixando o lençol extremamente liso e os travesseiros metricamente posicionados no centro. Pegou a manta que Maya havia usado e a levou de volta ao closet. Resolvi interromper por aí, fechando sua passagem de volta ao quarto com a mão estendida na frente do seu peito. Para quem ameaçara minha colega de quarto para que eu ficasse segura, ele parecia bem indiferente à minha presença.
— E então? — incentivei, não deixando de notar que ainda não me olhava nos olhos. Talvez eu tivesse lhe feito alguma coisa, pensei, mas nada me vinha a mente. Na verdade, se fossemos contar, quem devia alguma coisa aqui era ele.
— E então o quê?
Abaixei a cabeça e a deitei um pouco para o lado no intuito de receber finalmente a atenção de sua íris castanha. No passado lhe dei seu tempo, respeitei seu espaço e os resultados não haviam sido muito bons. Se ele tivesse algum problema comigo, seria melhor dizer de uma vez. Entretanto, ao impulso de levantar seu queixo eu não cederia.
Caso demorasse um pouco mais para tomar a coragem, minha afirmação se perderia por aí. Porém, ele pareceu inspirar e só depois me fitou diretamente, acrescentando um sorriso torto e pequeno repentino.
— Tudo bem?
Apertei os olhos, podia enxergar aquela armadura reconhecível que erguia quando bloqueava seu interior, filtrando toda a informação passada a terceiros. Fui direta.
— O que você está escondendo agora? — de repente me lembrei das palavras exatas que Maya utilizara para passar “seu recado”. Ele prometera não chegar perto dos Peters, o que ainda lhe dava um leque de possibilidades para me passar a perna — Fez alguma coisa?
Espalmei as mãos no batente da porta dos dois lados, representando que não sairíamos dali enquanto não falasse. Fisicamente eu não conseguiria impedi-lo caso decidisse passar por cima de mim, literalmente falando. Mas eu preferia acreditar no pouco de respeito que tinha por mim.
Levantou a mão solenemente.
— Não fiz coisa alguma, eu prometo.
Encontrei outra brecha.
— Encontrou alguém para fazer?
Ele achou graça, contudo, conteve o riso.
— Não, Faith. Não confia em mim? — o tom despreocupado quase me enganou. Identifiquei certa importância na pergunta.
— Você confia em mim? — retorqui.
O humor vacilou de novo.
— Com minha própria vida — disse como se fosse uma questão muito fácil de ser respondida, uma daquelas verdades que aprendemos desde muito cedo. Existem diversas etnias, línguas, costumes, culturas; sempre foi assim e provavelmente sempre será.
— Então pode me contar o que andou fazendo quando acordou? Que horas voltou para cá? Por que não me avisou? — temi estar expondo a obsessão que tanto quis evitar, mas eu tinha meus motivos. A culpa não era minha se ele resolvia fazer coisas de meu interesse nas minhas costas se eu piscasse um olho.
Justin camuflou o nervosismo balançando a cabeça em reprovação, franziu o cenho, tentando me convencer do meu exagero. Por outro lado, notei o maxilar levemente travado.
— Isso é mesmo necessário? Temos muito a fazer antes que os Peters cheguem.
Elevei minha cabeça e estiquei as costas para ficar bem a altura dele, canalizando toda a minha determinação no olhar. A desconfiança cresceu, enumerei milhares de possibilidades nada animadoras envolvendo ele e sua mente imensuravelmente criativa.
— Justin Drew Bieber, me diga o que é. Agora. — Pude perceber minha respiração perder um pouco do ritmo, se ele não falasse de uma vez acabaria agravando todas as hipóteses em minha imaginação fértil.
Travamos a batalha do olhar, medindo a determinação do outro a se manter fiel a seu ponto. E por mais que seus olhos derretessem minha alma, me mantive firme, alimentando as chamas da minha curiosidade quanto mais ele resistisse. Quando Justin finalmente desviou o rosto peguei certa coletânea de emoções gritantes em seus traços, entretanto, fui incapaz de identificar alguma delas.
Parte de mim acreditava que ele não queria me machucar, e tendo em vista o que passamos noite passada, entendi que poderia estar relutante em me dizer que não havia significado o tanto esperado. Poderia estar relutante em me dizer que havia confundido as coisas dentro de si e me beijar não traduzia o carinho nutrido por mim. Ou que a atração física lhe fizera me querer por instantes únicos e depois acabara.
Pensei em tantas coisas que quase desisti de querer saber e me refugiei lá embaixo como a garotinha medrosa e insegura que era, embora insistisse em provar o contrário.
— Não queria te dizer isso agora. Vai ser um dia meio complicado, é importante que esteja atenta a estes eventos.
Não reagi, com medo demais parar ousar me pronunciar. Infortunadamente ou não isso o instigou. Então pude notar perplexa um pequeno acúmulo de sangue espreitar seu rosto, dirigindo-se para as bochechas. Justin certamente não estava com raiva, o único estado emocional que o fazia corar, consequentemente, o motivo dessa novidade me deixou com as mãos suando. Talvez fosse ainda pior do que eu pensava.

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