Leitoras com Swag

Hey garotas, beliebers ou não beliebers. Só estava faltando você aqui! Nesse blog, eu, Isabelle, faço IMAGINE BELIEBERS/ FANFICS. Desde o começo venho avisar que não terá partes hots nas Fics, em nenhuma. Repito, eu faço 'Imagine Belieber' não Imagine belieber Hot. A opinião da autora - Eu, Isabelle - não será mudada. Ficarei grata se vocês conversarem comigo e todas são bem vindas aqui no blog. Deixem o twitter pra eu poder seguir vocês e mais. Aqui a retardatice e a loucura é comum, então não liguem. Entrem e façam a festa.
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Lembrem-se disso. Boa leitura :)

Com amor, Isabelle.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

One Love 32

JUSTIN.

Eu tinha conhecimento de que ela ficaria furiosa. Podia deliberadamente visualizar as rugas de desaprovação afundarem-se nos cantos de sua boca sem dificuldade. Elencara todos os motivos possíveis pelos quais não deveria voltar à sua vida, e ainda assim, ali eu estava. Observando-a adormecer em meus braços, não me culpei. Faith dormia tranquilamente em meu peito em contraste com as circunstâncias que nos encontrávamos, serena e fascinante. Com cuidado, delineei os traços de seu rosto, não me preocupando com a desculpa que deveria inventar por ainda estar acordado, fixado em seu rosto, caso ela despertasse.
Honestamente, o motivo que gritara tão ardentemente a ponto de submergir minha consciência estava diante de mim. Argumentei comigo mesmo que não podia abandoná-la a própria sorte, tomando-a como minha responsabilidade. No fim, Faith realmente precisava de minha ajuda, então a próxima mentira que contei a mim mesmo foi me limitar a cuidar de sua segurança sem me deixar envolver outra vez, e assim, retornaria imediatamente ao Canadá. Deveria saber, envolver-me à sua presença era um modo de dizer que subestimava o que aquele ser franzino podia fazer comigo.
Em um mundo idealizado utopicamente, viver com meus irmãos e minha mãe era suficiente, não precisava de mais nada. Mas surpreendi-me ao sentir-me incompleto, o pedaço faltante possuía nome e personalidade certa. Sem escrúpulos, podia afirmar que a beijaria no segundo em que seus olhos alcançaram os meus, despertando centelhas adormecida em meu cérebro. Então é assim que nos sentimentos vivos? Pensara. Preocupei-me com sua dor durante todos aqueles meses, a qual durava mais do que o esperado, e ignorei completamente quão fria era a sensação de ser invisível aos seus olhos. Não havia como negar, Faith Angel Evans detinha monopólio de todas as minhas decisões.
Para mim, voltar temporariamente a sua vida não danificaria o cerne do meu ato altruísta, podia ver que ela finalmente estava seguindo em frente, então não me quereria de qualquer forma. Se eu achava que conhecia emoções contrastantes antes, me enganara bem como é feito para induzir criancinhas a acreditar em Papai Noel. Imaginar Faith nos braços de outro homem amarrava minhas tripas uma a uma e as puxava para fora pela minha garganta ao mesmo tempo em que me reconfortava saber que ela ficaria bem. Estar ao lado dela ampliava essa noção, rompendo com uma navalha gasta todas as minhas articulações.
Então, a noite passada aconteceu. Experimentei seu corpo inteiro reagir a mim inebriadamente, tateando às cegas os prazeres exclusivos que nós dois juntos produzíamos, como uma nota musical fora da escala melodiosamente mais intensa e envolvente que todas as outras. O caos se formara, quase a possuí ali mesmo, ansioso para desvendar todos seus cantos ainda desconhecidos por mim. Eu a queria por inteiro. Não podia idealizar nada mais arrebatador do que me afogar em seu cheiro.
Cobicei seus lábios rosados e carnudos entreabertos e prendi a respiração. Todos os planos se realinhavam discricionariamente em minha mente. Decidi que a névoa exalada de seu corpo não me permitiria pensar direito, forcei meu autocontrole ao máximo e pulei para fora da cama cuidadosamente, temendo acordá-la. Vesti a camisa de Caleb que deixara dobrada perto de mim e flagrei as pálpebras ligeiramente trêmulas de Maya. Instantaneamente, meu olhar desceu para seu pescoço moreno indefeso, as veias cheias de sangue abrigavam o veneno existente por trás de sua couraça atraente. Flexionei meus dedos, medindo a força e tempo necessários para privá-la do oxigênio que a mantinha injustamente respirando. Minha visão periférica ainda recebia a imagem de uma Faith desacordada e enrolada aos lençóis a apenas alguns centímetros de mim, tornando mais concretos os berros e tapas que ela me daria se deparasse com aquele verme jazendo em seu sofá. Por algum motivo totalmente incompreensível, Faith se importava com a vida de Maya.
Provavelmente resultado da força de ódio que eu lhe lançava, a assistente pessoal de George não conseguiu prosseguir com seu papel de bela adormecida, direcionando seu olhar de animal em extinção para mim. Caminhei tranquilamente para perto dela e agachei à sua frente de modo que sentisse sua respiração bater em meu rosto devido à proximidade. Se houvesse respiração, já que ela paralisou todos os membros do corpo em alerta.
— Bom dia, Maya — estiquei o canto dos lábios — Está achando agradável o ar dessa manhã?
Sabiamente, a criatura desprezível escolheu não mover a boca. Se sua voz detestável fosse a primeira coisa que eu tivesse que ouvir no dia, cortaria sua garganta com o canivete em meu bolso.
— É importante que me ouça com atenção. Veja, preciso passar na casa de Caitlin agora, consequentemente, terei que deixar Faith sozinha nesse quarto com você. Não planejo demorar mais do que vinte minutos, ainda assim, receio que esteja disposta a fazer alguma estupidez — olhei teatralmente para Faith na cama atrás de mim e pisquei para Maya — Portanto, devo avisá-la que se encontrá-la com um fio de cabelo fora do lugar... — franzi um pouco a testa e balancei a cabeça. Depois, esvaziei meu rosto de qualquer expressão — te juro que varrerei qualquer resquício seu da face da terra. Com isso, incluo também seus ascendentes, descendentes, colaterais e afins. Atente-se para o fato de que não esperarei explicações suas, qualquer sinal de perturbação que eu encontrar nela serão de sua responsabilidade — finalizei com uma voz cortante — Estamos entendidos?
Lentamente seu rosto se retraiu, mas não muito mais do que um centímetro, presa aos olhos de um predador. Pensei que teria que repetir tudo outra vez já que ela demorou para ultrapassar o estado de pânico e assentir quase imperceptivelmente. Desde que conheci Maya, soube que ela faria qualquer coisa para sobreviver, e nesse caso, sua sobrevivência dependia do estado de Faith. Não tive dúvidas de que ela não levantaria um dedo para sua colega de quarto, ambos sabíamos que eu não fazia promessas vazias e a caçaria até o inferno se encontrasse um arranhão na pele macia onde eu me perdia. Ademais, nós éramos — exclusivamente por culpa de Faith — seus aliados agora, ela não teria para onde correr.
Dei dois tapinhas firmes em sua bochecha e me levantei, sorrindo agradecido a ela.
— Ah, por favor, se Faith acordar, diga que não chegarei perto dos Peters.
O vento bateu fresco e livre em meu rosto conforme eu me inclinava sobre a moto e aumentava a velocidade, debochando do maior número de leis de transito que eu podia contar. A máquina abaixo de mim era silenciosa, respeitando o barulho suficientemente alto dos meus pensamentos. A luta interna se resumia a uma tentativa árdua de deixar aquela mulher de fora da minha cabeça por dois segundos que fosse. Contraditoriamente, quanto mais longe eu ia da sua casa, mais rígidos ficavam meus músculos, recusando sua ausência fisicamente dolorosa. Geralmente, eu não me incomodava com a dor, mas Faith também fez o favor de mudar isso para mim, tornando insuportável qualquer perturbação relacionada a ela.
Por fim, desisti de tirá-la dali e deixei meus neurônios livres para ver aonde aquilo me levaria. Acabei entrando em uma bifurcação da minha mente, apresentando as opções que outrora gritavam para mim. A verdade era que minha vontade tão pouco importava, então procurei friamente deixá-la de fora para avaliar a situação. O agravante apareceu bem expresso no espelho retrovisor e, com um palavrão baixo, virei de uma vez para a rua sem saída à direita, freando a moto brutalmente de forma que os pneus deslizassem e estacionasse em sentido vertical no meio da via.
Descansei a mão esquerda no cós da calça onde guardava a FN Browning HP MKIII cutucando minha cintura enquanto observava a Suzuki GSX-R1000 obrigatoriamente se deter a um metro de mim. Annelise exibiu seus cabelos louros, tirando o capacete lentamente demais para dar o efeito que ela queria, em seguida, passou a mão distraidamente por seus fios para organizá-los para trás e a esquerda. Suspirei de impaciência até que um sorriso divertido brincasse na ponta de seus lábios assim que os olhos azuis pararam em mim.
— Saudade de nossas competições, huh?
O sol brilhou atrás dela, ironicamente contornando suas formas como se fosse um ente divino.
— Presumo que saiba não estar me surpreendendo com sua presença aqui, certo?
Ela ergueu os ombros distraidamente.
— Não aguentei de saudades.
— Quer saber se já eliminamos o contratante para George se ver livre em fazer o que quiser com Faith?
Annelise forjou repugnância em suas sobrancelhas.
— O quê?! Já se esqueceu do profissionalismo de seu avô para acusar-nos dessa maneira?
Descartei sua atuação com um gesto da mão.
— Você sabe que não sou tão ingênuo assim. Então, o que quer? Esfregar sua afronta no meu nariz? Socializar antes da guerra? Espera que eu te ofereça uísque?
Ela desceu de sua moto reluzindo em seus trajes de couro preto, a blusa sem mangas apertada sobre os seios deixava a vista um zíper convidativo para ser puxado até o meio do umbigo. Deslizou como uma cobra para perto de mim, deixando a mão pousar em minha coxa. Um brilho sugestivo em seus olhos demorou-se pelo meu corpo até chegar em meu rosto.  
— Ah, Justin, quer mesmo falar de negócios agora? — dedilhou seus dedos por minha perna, perigosamente subindo.
Detive sua mão com um safanão e concentrei todo o olhar violento ao seu rosto.
— Sabe mesmo o que eu quero? Arrancar esse sorrisinho indolente do seu rosto com uma tesoura e espetar seus olhos arrogantes com agulhas finas.
O som de seu riso infantil preencheu o ar a nossa volta e ela se inclinou um pouco mais para perto de mim, passando a ponta das unhas grandes e vermelhas em minha bochecha audaciosamente.
— Tenho outras sugestões mais agradáveis para você, J.
Agarrei seu pulso quando ela desenhava o contorno da minha boca, puxando-a para perto de mim, a centímetros do meu rosto. Ela sorriu vitoriosamente enquanto encarava o objeto de seu desejo.
— A sugestão mais agradável para mim no momento seria você ser atingida por um canhão — falei baixo e firme, depois empurrei-a com ímpeto para longe.
Abusando de seu equilíbrio sobrenatural apoiou-se em suas botas pretas cambaleando apenas uma vez e revirou os olhos ainda bem-humorada.
— Vai contar para Faith que eu ainda faço seu coração bater mais forte? — o tom desprezível que usou para pronunciar o nome dela me fez ranger os dentes.
 — Como uma pessoa tão amargurada você deveria reconhecer os efeitos provocados pelo ódio, não? — ameacei arrancar com a moto antes de ouvir sua última proposta.
— Podemos dar um jeito em sua moral na Companhia, J. Última chance.
Parei para pensar. O motivo não devia ser o mesmo que ela imaginava. Tive que lembrar a mim mesmo porque deveria deixá-la viva mais algumas horas. Foi preciso muito para pisar no acelerador e abandoná-la intacta atrás de mim. Alguns olhares rápidos no retrovisor foram suficientes para concluir que me deixaria em paz por hora.
Mesmo sabendo que aquele era o resultado mais óbvio, me enfureci ao encarar a constatação de frente. Os Peters eram o menor dos problemas que Faith tinha, também não era novidade que a culpa só podia ser minha. Talvez se eu não tivesse voltado para Minnesota a Companhia não lhe perturbaria após constatar que ela não tinha envolvimento. Agora George sabia que eu estava vivo e protegendo-a e ela nunca deixaria de ser um alvo.
Não, se eu não tivesse voltado ele encontraria outra forma de colocar as mãos enrugadas nela, nunca a tiraria da sua lista de suspeitos. A causa de todo aquele tormento foi minha tentativa patética de resolver seu contrato ano passado. Amontoei um desastre sobre outro como consequência. Desferi um soco no guidão da moto em movimento e a direção vacilou. Logo restabeleci o controle e dirigi apressadamente para a casa de Caitlin.
No estado em que estava, me senti tentado a abrir a porta no chute ao invés de usar a chave, e lamentei que George houvesse confiscado meu restaurante para Patricia — no qual eu descarregava toda essa ira pulsante de dentro de mim — quando decidi estupidamente que morrer era uma saída inteligente.
Fechei as mãos em punho e paralisei no meio da sala. Cerrei os olhos e escutei minha respiração entrando pelo meu nariz e saindo pela boca num apelo por autodomínio que eu praticava bastante ultimamente. O sentimento de desprezo que sentia por mim mesmo não ajudou. Formular quando e como contaria a Faith também não. Convenientemente, eu conseguia visualizar uma única saída. Uma que seria a mesma coisa que assinar o atestado de óbito da pessoa que eu mais amava na vida.
Minha conversa despreocupada com Patricia permeou minhas lembranças.
— Você sabia o que Jeremy fazia quando escolheu se envolver com ele? — perguntara, incapaz de reprimir a curiosidade mórbida.
— Não — ela dissera, unindo as mãos no colo e ajeitando-se no sofá, movimentando o corpo como uma tentativa de distrair-me do lampejo que passara em seus olhos — Soube um pouco depois. E aí já era tarde.
— Tarde? — insisti, recusando-me a aceitar seu suspiro fadigado como a conclusão do assunto.
— Sim. Eu já o amava e não abriria mão dele por nada — confessou num tom um pouco envergonhado. Amar um assassino era motivo de desonra. Percebi um leve incômodo arranhar as paredes do meu estômago.
— Mas ainda assim vocês terminaram.
Agora eu podia ver o que ela tentava esconder em seus grandes olhos azuis, uma espécie de tristeza reprimida.
— Sim, mas a escolha foi dele. Tivemos várias discussões acerca do futuro. Ele teria que mudar para os Estados Unidos, e eu não estava tão disposta a isso por sua causa. Não queria que crescesse nesse meio, mas isso parecia ser uma das maiores ambições de Jeremy. Não havia ao menos cogitado a ideia de que podia abandoná-lo quando ele foi embora com você — esfregou a palma das mãos em suas coxas, não soube dizer se para enxugar um possível suor ou para confortar-se com seu próprio calor.
— Se arrepende? Quero dizer, de tê-lo conhecido?
Patricia abriu a boca para responder varias vezes, chegou a balbuciar algumas palavras sem sentido, depois sorriu ternamente e alcançou minha mão inerte em meu colo para afagá-la. Não me afastei imediatamente, concentrado nas informações que seus olhos transmitiam.
— Ter você foi uma das melhores coisas que me aconteceu — respondeu, apenas.
Empurrei minha próxima pergunta goela abaixo, tirando minhas próprias conclusões. Jeremy estraçalhara sua vida de tal modo que ela não podia mais imaginar-se sem todas as coisas que ele lhe trouxera, por mais que a maioria delas fosse dor e destruição. Ele se tornara um ponto crucial em sua história, marcando-a para sempre. E por mais que negasse admitir, sentia falta dele. Estava disposta a lutar pela sua alma enquanto estivessem juntos, e lamentava o destino que haviam tomado.
— Poderia ser diferente, sabe — continuou, repentinamente — Todos precisamos de escolhas.
Escolhas. A mágoa mais profunda de Faith se baseava a minha tendência frequente de retirar-lhe essa regalia. Dessa vez, portanto, eu deveria lhe apresentar todo o leque de possibilidades, por mais terríveis que fossem, para mim ou para ela. Agora era sua vez de escolher por nós dois.
Pensei em dizer-lhe depois que nosso problema com os Peters estivesse resolvido. Senti-me imensamente tentando a ir à casa deles e encerrar com aquilo em dois segundos, o que colocaria, consequentemente, o assunto mais importante em pauta. A principal razão de tê-los deixado vivos para chegar ao almoço dos Evans era prorrogar essa fatalidade. Aliás, por um lado, eu deveria agradecê-los pela oportunidade que me deram de conhecer aquela que descia até as trevas para alcançar-me. Mas o que gritava mais alto era vontade de arrancar o coração dos três rapidamente para que o enxergassem bater na palma da minha mão antes de arrefecerem devido ao transtorno que causavam à Faith.
Contemplei-a na sala de estar com os seus, cheia de rugas em toda a expressão perturbada. Tive certeza de que as notícias que lhe traria não a deixariam em estado muito diferente. Parecia extremamente injusto que um ser egrégio como aquele passasse por tantas dolências. Ouvi os Evans palestrarem sobre seus planos e Faith começou uma queixa com Ryan e Caitlin sobre sua participação no brunch, enrolava os cabelos rebeldes nervosamente, argumentando com seu beicinho mais teimoso e insatisfeito. Quis saber se sempre que eu a olhasse seria como levar um tiro no peito para depois ser suturado por suas mãos delicadas e firmes. Aquelas emoções me deixariam de joelhos em sua frente para implorar, não havia dúvida.
Assim, resolvi subir ao seu quarto e respirei ar puro da sacada. Acabei comparando-a a Annelise, o mais próximo que eu havia tido de uma relação amorosa constante antes de conhecê-la. Claramente não havia o voto de exclusividade entre nós dois, Annelise apenas estava lá quando eu não queria me aventurar nas ruas à procura de uma mulher para me satisfazer — geralmente uma caçada breve e gratuita, tinha orgulho em dizer que nunca precisei pagar uma mulher para estar comigo —. Ela não desperdiçava nosso tempo com conversas frívolas e eu tampouco queria saber seu estado de espírito. Nos emaranhávamos com desfaçatez independentemente do local. Annelise me fazia latejar e exteriorizar uma masculinidade primitiva alheia a bom senso e adequação social. Entretanto, sua capacidade limitava-se a uma cegueira prazerosa de minutos.
Em contrapartida, Faith conseguia perfurar o mais fundo da minha alma com um breve olhar, remexendo em tudo o que eu jurava ser mais concreto dentro de mim, bagunçando e modificando. Enxergava-me além da musculatura arduamente definida que prometia aprazimento sexual ou uma arma mortal; enxergava-me em minha dignidade de criatura, por inteiro; enxergava-me merecedor de seus sorrisos, os quais afastavam qualquer nebulosidade que pudesse me espreitar; enxergava-me como eu era e o que poderia ser. É justificável que eu tenha entrado em colapso em nossa convivência, Faith me abria em minha vulnerabilidade mesmo sem ter essa intenção. Lutei bravamente contra ela no início, até me entregar como um viciado aos seus caprichos. Em meus 24 anos vagando pela terra feito um cavaleiro da morte, Faith era a primeira e única coisa a me colocar medo. Tive medo de ser dominado por ela, medo de perdê-la e depois, medo de mantê-la egoistamente ao meu lado.
Uma mensagem sua me despertou do meu transe e me jogou na imensidão abstrata do meu ser. Faith me roubara de mim, eu também gostaria de saber onde estava. E do jeito que as coisas andavam, previa que nunca mais voltaria a mim mesmo. Pelo menos não como antes.
Ouvi todo seu trajeto embaraçado pelas escadas até chegar como uma bala ao quarto. Enrijeci, contendo a necessidade de virar-me e tomá-la nas mãos com a força necessária para fundi-la a mim para sempre. Vi-me obrigado a me voltar para trás antes que pudesse me tocar e desorganizar um pouco mais toda minha linha de raciocínio. Evitei olhá-la, lembrando-me que ainda não deveria lhe dizer nada. Mas não fiquei inteiramente surpreso quando me encurralou no closet, a mão pequena a centímetros de tocar-me. Meu corpo todo ardeu, em júbilo com a iminência do contato. Talvez se eu olhasse seus olhos perdesse toda essa urgência.
Tive visão de um fio de cabelo desgrenhado caindo solitário em seu rosto e instantemente sorri com sua natureza caótica. Caos este que não seria suficiente para resguardar-me, a determinação de Faith Evans era quase impossível de ser combatida, e sua desconfiança a impelia a agarrar-se um pouco mais a ela, como se já não fosse difícil o bastante. Eu podia ver em seus olhos que já navegava em sua imaginação fértil justificativas para meu modo de agir meio estranho e concluí que não seria mais tão benéfico aguardar até termos resolvido com os Peters. Ela tem competência legítima para infligir-se tortura psicológica. 
Preparei-me para dizer, e fui assaltado por uma série de reações estranhas em meu corpo. Todas as palavras fugiram da minha mente, fluído aquoso e incolor ameaçou tomar conta das minhas mãos e axilas, e determinada concentração de calor começava a escalar meu pescoço para atingir a glória em minhas bochechas. Reorganizei meus pensamentos conforme minha expressão deixava Faith gradualmente assustada.
— Estive com Annelise esta manhã — soltei. Eu não chamaria isso exatamente de pensamentos organizados.    
Faith cruzou os braços e arregalou os olhos ligeiramente a menção do nome que ela detestava, a cor em seu rosto atingindo certo tom de vermelho. Ainda assim, permaneceu calada, me esperando concluir. Ou provavelmente apenas tomando o tempo necessário para sua mente listar formas criativas de matar duas pessoas.
— O que eu quero dizer é... — Apressei-me — só de estar aqui ela confirmou uma alternativa que premeditei. Não acreditei que ela trairia George por uma quantia em dinheiro, qualquer que fosse. Para gastá-lo, há a premissa de que esteja vivo, e isso não ocorre com os traidores de George. Mas era a única forma de colocarmos as mãos no contrato. E para disponibilizar com tanta facilidade assim a informação, só pode haver uma justificativa. George quer os Peters fora da jogada — hesitei, acostumando-me com o ódio e desprezo que ela sentiria por mim depois da informação seguinte — Ele não pode se livrar deles sem parecer imoral, então é preferível que a informação de quem foi o contratante vaze do que a acusação de eliminar por conta própria um cliente. Assim, espera que nós os eliminemos para que ele... para que ele mesmo possa acertar as contas com você.
— Isso... — ela respirou fundo, vincos de tensão se aprofundando em sua testa — Isso quer dizer que ele sabe que você está vivo? — um toque de pavor quase desafinou sua ultima palavra.
Estreitei os olhos, cético com a informação que ela escolhera como primordial para esclarecer.
Assenti rápido, não dando importância para o fato — por mais que se pensasse nele por mais de cinco segundos pudesse sentir os músculos retesarem.
— É claro que não vou permitir que cheguem perto de você. Só que isso nos deixa com algumas opções, e quero elucidá-las para que as escolha — olhei diretamente em seus olhos, prendendo sua atenção, a qual quase se dispersava por pânico — Posso ficar aqui, e quando digo aqui me refiro onde quer que você esteja. Seria mais fácil se escolhêssemos o estado mais longe da matriz em Minneapolis, e um onde não tenha uma filial também. Se não quiser tal discrição, posso erradicá-los, de maneira que não sobre um só que possa ir atrás de você. Ou então... Você pode ir para o Canadá comigo. Eles não irão perturbá-la lá, nem mesmo aos seus amigos e familiares que estiverem aqui, tenho certeza disso e posso explicar o motivo mais tarde.
Faith engoliu com esforço, ainda assim, certa umidade espreitou seus olhos. Ela não estava triste, mas furiosa. Em meio a fúria, entretanto, estava um pavor discreto. Cravei as unhas na palma das mãos. Eu odiava vê-la assim, e ser responsável por isso não tornava o fato muito melhor. Seus olhos rodaram para todos os cantos enquanto tomava consciência de cada uma das palavras, depois me encarou com violência. Agora era a hora dos insultos e acusações completamente lógicas.
— Eles não têm mais o que fazer? — grunhiu. Colocou as mãos com força contra o rosto e balançou a cabeça, murmurando palavras ininteligíveis — Se eu for pra outro lugar virão atrás da minha família e amigos, não é? — adivinhou, falando abafado contra suas palmas.
— Sim — respondi a meio tom. Os tecidos da palma da minha mão já cediam sob as unhas.
— Então a primeira opção não é bem uma opção, certo? — ergueu a cabeça para mim, os cantos da boca puxados para baixo — E os outros... E como... Eu não poderia... Não quero que você fique se sacrificando por mim, Justin. Você não me deve nada. Estará seguro no Canadá? Você deve ir agora. Nós resolveremos tudo com os Peters — Agarrou meu pulso, puxando-nos para fora do closet — Precisa da ajuda de Caitlin e Ryan para escolta? Eu não sei se posso servir muito, mas se me instruir posso causar uma distração...
— Faith — plantei-me no meio do quarto, interrompendo sua travessia desnorteada. Ao virar-se para mim, tive a impressão de que seu rosto desmoronaria com o mais leve dos ventos, instantaneamente segurei-o com uma das mãos, embora no fundo tivesse consciência de que ela não se desfaria de verdade — O que está fazendo? Eu não vou sair daqui.
A umidade em seus olhos se alastrou repentinamente e transbordou diante do pânico crescente.
— Você vai sim, Justin. Nem que eu te leve amarrado. Você mesmo disse que os traidores de George não ficam vivos. E não sei se você se lembra, mas traiu ele. Idiota, você tem que ir embora! Ele sabe que está aqui.
Limpei seu rosto apressado, sentindo-me corroer por dentro. Eu odiava que chorasse.
— Por que está chorando? Não vou deixar que te machuquem, Faith, eu te prometo, vou cuidar de você.
Ela empurrou meu peito com os punhos fechados em direção a porta, esquecendo-se de que os seres no andar de baixo não sabiam que eu ainda vivia.
— Não me importo comigo, porra. Eu não vou suportar... não vou suportar se... Ah, Justin, não posso permitir que coloquem as mãos em você! — a histeria reforçou suas tentativas vãs de me colocar para fora do quarto.
Segui meu impulso de abraçá-la, imobilizando-a contra meu peito enquanto se debatia. Implorou para que eu a soltasse e partisse veementemente antes de dar-se por vencida em meus braços, desmanchando-se como gelatina.
— Não posso, Justin, não posso, não posso, não posso... — balbuciava.
Acariciei seus cabelos, afastando os fios do rosto molhado que ela escondia de mim.
— O quê? — perguntei ansioso.
— Deus — lamuriou num tom que me partiu ao meio — não vou existir sem você de novo. Prometa-me que não vai deixar que te peguem.
— Faith...
— Prometa — vociferou.
— Você acha mesmo que está nos meus planos deixar que me peguem? Mato todos eles antes de conseguirem, Faith — falei devagar para que entendesse — E o mesmo para você. Não vão encostar em um só fio do seu cabelo — enrolei uma mecha castanha no meu dedo.
Acreditando em minhas palavras ou não, deixou-se acalmar, respirando regularmente para regularizar o ciclo respiratório.
— Fique calma. Eles não nos perturbarão enquanto não eliminarmos os Peters. Estamos seguros até lá. Agora, posso continuar com as opções que te explicava? — roçou a cabeça vagarosamente em minha camisa.
Soltei-a por um momento para olhar em seus olhos levemente avermelhados e pequenos, segurando sua mão. Eu ainda estava esperando o ódio que a faria atirar coisas para cima de mim.
— Eu sei que a culpa é toda minha, e sinceramente, te peço perdão por isso — ela começou a negar com a cabeça e coloquei o dedão em sua boca para impedi-la de falar — Você não precisa dar a resposta agora de qual opção soa mais benéfica a você, mas a priori já quero deixar claro que... — pigarreei — O fato de estar com você não significa que será obrigada a estar comigo, se me entende. Não é isso que eu pretendo. O que importa para mim é o seu bem-estar, genuinamente. Mas se... se acha que pode... que podemos... que — palavras inúteis, se reorganizem! Dei um estalo significativo no cérebro e prossegui com firmeza — Eu gostaria de me comprometer a você, de corpo e alma. Não quero que tenha dúvida alguma de que a amo, Faith, com tudo o que tenho, com o nada que eu sou. Por isso tenha certeza de que eu trago o inferno à terra antes de deixar que te machuquem.

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