Leitoras com Swag

Hey garotas, beliebers ou não beliebers. Só estava faltando você aqui! Nesse blog, eu, Isabelle, faço IMAGINE BELIEBERS/ FANFICS. Desde o começo venho avisar que não terá partes hots nas Fics, em nenhuma. Repito, eu faço 'Imagine Belieber' não Imagine belieber Hot. A opinião da autora - Eu, Isabelle - não será mudada. Ficarei grata se vocês conversarem comigo e todas são bem vindas aqui no blog. Deixem o twitter pra eu poder seguir vocês e mais. Aqui a retardatice e a loucura é comum, então não liguem. Entrem e façam a festa.
" O amor não vem de beijos quentes. Nem de amassos apertados. Ele vem das pequenas e carinhosas atitudes."- Deixa Acontecer Naturalmente Facebook.
Lembrem-se disso. Boa leitura :)

Com amor, Isabelle.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

One Love 26

— Precisamos conversar — Caitlin desabou na cadeira ao meu lado.
Vasculhei o café do aeroporto em busca de ouvidos bisbilhoteiros. Hanna se apoiava no balcão dividindo o peso sobre o Louboutin preto de sola vermelha sofisticado, apontava para o cardápio animadamente, afinal, era hora do café da manhã. Caleb ria ao seu lado quando pensava que ela não via. Ele nunca entendeu o espaço que a comida tinha em nossa vida. Por sua vez, Maya não saíra do banheiro, gastava todo seu tempo tentando ficar longe. O único a prestar atenção em nós duas era Ryan, me encarando do outro lado da mesa redonda de madeira, implicitamente já concordando com o que ela diria.
Cruzei os braços, um mecanismo de defesa.
— Pode falar.
— Quando foi que você ficou demente? — rosnou.
Olhei séria pra ela.
— Me diga você.
— Acho que foi quando decidiu confiar em Justin Bieber de novo e trazer Maya Baker com a gente. Você está caindo na conversinha dos maiores pilantras.
— Caitlin...
— Me conte exatamente o que está acontecendo entre você e Justin.
Caitlin começou a girar o saleiro, representando uma espécie de ampulheta. Me senti num interrogatório policial hollywoodiano. De fato, eles me olhavam como uma criminosa. Para uma interferência dessa gravidade partindo dos dois, minha situação podia estar pior do que eu mensurava. 
— Somos amigos — dei de ombros — Por que estão me olhando desse jeito?
Caitlin arqueou uma sobrancelha. Era uma pergunta óbvia, ela não responderia.
— Quem disse que são amigos?
— Nós dois. Ele propôs. Eu aceitei.
Suas órbitas quase pararam no cérebro quando revirou os olhos. Não pude deixar de me irritar um pouco com aquilo. Parecia que eu tinha enfiado o dedo estupidamente na tomada com os pés descalços para receber uma reprovação daquelas.
— Sabe o que é pior? Ver você se tornando dependente outra vez quando achei que melhoraria. Não achava que seria burra o bastante para cometer o mesmo erro duas vezes, mas olha onde estamos.
Ryan virou toda a cabeça em sua direção para que ela visse seus olhos repreensivos. Só que já era tarde. A onda de raiva se movimentava livremente por minha corrente sanguínea.
— Seu problema, Caitlin, é pensar que o mundo é um mais um. Na realidade, a resposta nem sempre é dois.
Névoa densa tomou conta de sua íris azul.
— O que a droga da matemática tem a ver com isso?
— É um jeito ameno de te dizer que o buraco é mais embaixo. Que não se trata apenas de aparência. E a porra do sentimento que me consome você nunca vai entender. Então não venha falar com tanta propriedade sobre o que não sabe. Se a sua forma de lidar com a volta dele é bloqueá-lo, ótimo, não vou meter o dedo. Mas o jeito que administro essa saudade que me matou não pode ser teu alvo de críticas também.
Caitlin endureceu o queixo. Não tinha argumento para me rebater, bem como não concordaria. Recostou na cadeira e elevou a cabeça, cheia de razão.
— E qual a sua brilhante argumentação em relação à Maya? — debochou.
Contive a vontade de gritar que nada daquilo lhe competia. Caitlin era linda, jovem, com uma carreira promissora de modelo, livre para fazer o que queria, possuía uma casa luxuosa em Boston e um carro, não estava diretamente obrigada a se envolver em todos os meus problemas, entrava neles por livre e espontânea vontade. Porém, eu sabia que a ausência do seu irmão lhe doía tanto que ela se agarrava ao mundo em que ele vivia, ao mesmo tempo que procurava em outras pessoas a fraternidade que tinha com ele. Me perguntei se preferia que fosse Christian de volta no lugar de Justin, e isso justificava metade da sua fúria.
— Annelise mesmo confirmou que ela está na merda. Me sinto responsável por essa situação — me apressei quando ela abriu a boca para falar — E já pensei que podem estar armando alguma juntas. Mas não vou deixá-la sair da minha vista agora que sabe que Justin está vivo.
Caitlin deu um sorriso ácido.
— Parece que deixou sair agora — levantou-se. Eu não sabia dizer se era para ir atrás de Maya ou por não aguentar mais ficar perto de mim.
Ryan tentou sem sucesso segurar sua mão assim que ela passou feito um furacão. Ele soltou um suspiro cansado, deixando seus olhos caírem em mim. Peguei um guardanapo no compartimento de metal e — me perdoem árvores — comecei a picotá-lo com a ponta dos dedos.
— Você sabe que esse assunto é delicado pra ela. Dá um desconto — pediu.
Reparei quanto era, no mínimo, fofo que ele tentasse aliviar o lado de Caitlin. Os dois tinham diferenças suficientes para os considerarmos opostos. A despreocupação e encarnação da ira em pessoa. Dava pra ver no que se completavam, trazendo aquilo que o outro estava em falta. Foi impossível não pensar se eu e Justin já, pelo menos, fomos assim. O que acrescentamos no outro? Tirando toda aquela metáfora passada de inverno e outono, éramos compatíveis? E se eu agora estava mais para inverno, nem a teoria podia nos acobertar de uma possível verdade: Caitlin estava certa em pensar que nossa coexistência se dotava de toxidade.
Eu não conseguia pensar em uma conclusão sozinha. Rasguei de uma vez todo o papel e joguei na mesa com um grunhido.
— E você? Não quer jogar acusações também?
Ryan franziu os lábios, relutante.
— Tem certeza que não vai jogar saleiro na minha cara se eu disser o que penso?
Afastei o saleiro de mim como prova. Ainda assim, ele pensou um pouco antes de falar. Coisa esta que não era do seu feitio.
— Veja, eu gosto muito da Caitlin, mas sei que tenho uma vida toda além dela. Se for uma coisa muito obsessiva, vai acabar fazendo mal para nós dois. Não estou querendo comparar vocês com a gente. Só... toma cuidado com vício porque leva à overdose — ele se aproximou um pouco mais de mim, abaixando a cabeça e a voz — Ouvi dizer que overdose mata. Só não conta pros clientes dos traficantes pra não cortar o barato.
Eu ri porque só Ryan conseguia fazer coisas serias ficarem engraçadas.
— Acho que eles sabem e mesmo assim compram.
Ele bateu na mesa e apontou para mim, empolgado.
— É isso o que estou dizendo! Não seja esses caras.
Assenti, fingindo uma expressão séria.
— Está dizendo para eu me afastar do Justin, agora que eu descobri que ele está vivo, porque posso morrer de overdose?
Ele meneou a cabeça.
— Cara, eu amo o Bieber como a um irmão. Ele é o cara. Mas um cara com cabeça mole que faz tudo o que dá na telha. Ou seja, tem que aprender a trabalhar com ele pra que não folgue muito. Todos trabalhamos muito mal para ele chegar a fazer uma coisa estupida dessas de fingir estar morto pra gente. Claro que ele afirma ter feito isso por um gesto altruísta, porque se preocupa com você. Só que temos que calibrar. Eu ainda estou puto. E se dissesse que gosto da ideia de vocês dois juntos vou estar mentindo. Você é muita areia pra esse cara de pau. E eu vou quebrar a cara dele por ter vacilado com um mulherão da porra desses. Mas você é adulta pra saber o que quer e eu vou te apoiar de qualquer forma. É isso, cara.
Possivelmente, meu coração se derretia naquele instante conforme a ponta dos lábios se esticava. Ryan. Como eu podia definir Ryan Butler?
— Quantas vezes você fala a palavra “cara” num dia?
Ele abriu um sorriso largo.
— Cara... quantas vezes você quiser, bebê — piscou.
Eu ri, expulsando a umidade dos meus olhos.
— De qualquer forma, posso cultivar uma amizade com ele tão saudável quanto a sua.
Agora ele gargalhou.
— Tá bom. Mas, sério, eu vou matar qualquer desgraçado que fizer mal pra você, e Justin não está isento dessa — fez uma expressão maldosa — Muito menos Annelise. Desde o início repudiei essa aliança com ela. Mas deixa ela perder a utilidade pra ver o que acontece.
Por essas e outras Ryan era uma das minhas pessoas favoritas no mundo. Estendi a mão para ele.
— O que seria de mim sem você?
— Literalmente nada — respondeu presunçoso, beijando as costas da minha mão — E sim, eu acho que o Bieber está realmente a caminho de Boston. Ele está louco para resolver isso de uma vez — adivinhou minhas profundas preocupações.
— Sei como ele quer se ver livre dessa história. Então o que garante que não esteja indo para a Califórnia?
— Eu disse que cortaria as bolas dele com canivete enferrujado e jogaria para os tubarões comerem. Um homem dá muito valor na sua genitália.
Fui obrigada a tapar a boca para não explodir o café com minhas gargalhadas.
— Já que vocês não querem contar sobre a volta dele, essa foi a melhor decisão. Nós no voo comum e ele num jatinho particular. Se bem que eu sinto mesmo uma falta tremenda de um jatinho — Ryan fez uma careta.
Eu entendia porque Justin tinha um jatinho, não é como se ele pudesse desfilar livremente por aí com sua cara de defunto enquanto viajava entre estados e países. Mas não me parecia sensato deixá-lo ir para Boston separado de todos nós. A lista enorme de motivos para isso era mais clara que água cristalina, enumerá-los me levaria o dia todo. O ponto de encontro seria na antiga casa de Caitlin. Previsivelmente, ele chegaria mais cedo. Tomando como possibilidade que realmente estivesse indo para Boston, o que faria até que chegássemos lá também me preocupava. Como se eu precisasse de mais do que apenas estar longe dele para ficar inquieta.
— Alguém disse jatinho? Caleb não quis vir com o de Bryan — Hanna afastou as cadeiras com os quadris, sentando-se no lugar em que outrora estivera Caitlin. Nas mãos equilibrava uma bandeja com Waffles e torradas, Caleb uma jarra de suco de laranja e outra pequena de café. A mistura atrativa do aroma quase alcançou meu estômago.
Caleb se acomodou ao lado de Hanna, Ryan ficou visivelmente isolado.
— Eu estava dizendo que quero comprar um — respondeu.
— Como você vai conseguir dinheiro para um jatinho trabalhando numa boate? — Caleb perguntou cético.
Chutei o pé dele por baixo da mesa.
Ryan forçou um sorrisinho.
— Não duvide da minha determinação — e então levantou — Vou atrás da Caitlin.
Esperei que ele saísse para lançar um olhar feio ao meu irmão.
— Muito soberbo você, não?
Ele pegou uma xícara de café tranquilamente.
— Só disse uma verdade. Com que dinheiro ele planeja comprar um? Acaso está planejando outra fonte de renda?
— Se quer saber se ele voltou ou planeja voltar para a vida sanguinária, a resposta é não.
— Sou um monstro por não querer minha irmã andando com assassinos?
— Achei que depois de saírem ontem a noite estavam se dando melhor. Ryan não é uma pessoa ruim.
Caleb assentiu vagamente, tomou um gole de café e pegou uma torrada com o guardanapo. Hanna se ocupava em recolher a chacina que eu tinha feito na mesa.
— É isso que planejo ver.
Apoiei o cotovelo na mesa e descansei a cabeça na mão. Aquela intriga entre os quatro estava me dando fadiga.
— O que aconteceu que você ainda não atacou o waffle? — Hanna me perguntou, pegando um pratinho para si.
— Estou meio sem fome.
Ela me ignorou, colocando um prato na minha frente também. Depois de me servir com um Waffle, praticamente encheu um copo de suco de laranja.
— Gosto mais da Faith que come. Não me deixe sentir como uma baleia sozinha. Você disse que ainda somos amigas. 
Não seria Hanna se não tivesse pelo menos uma chantagem emocional no dia. Para deixá-la mais contente, empurrei tudo aquilo para o meu estômago, e percebi que realmente isso lhe deixou mais à vontade, como se tudo voltasse a ser como antes. Consequentemente, Hanna iniciou seu costumeiro tagarelar, não deu um segundo sequer de descanso para a boca, se não falava, mastigava.
Para alguém que sentia saudade da amiga, me perdi mais vezes do que posso contar nos assuntos. Entretanto, eu sabia dizer quase todos os temas: reclamações em geral das matérias da faculdade, destaques nas roupas das nossas colegas (ex colegas para mim), sua aproximação inesperada com algumas delas (reforçando que nenhuma chegava aos meus pés), discussões imotivadas que andava tendo com sua mãe, e estranhamente, não houve uma citação sequer sobre garotos. Esse, entre comida e roupas, sempre foi o assunto preferido de Hanna. Depois de meses ela ainda não tinha um crushzinho para me contar?
— Sei... Mas e os calouros desse ano? Foi mesmo uma leva tão ruim assim? — um dos nossos hobbies todo começo de semestre era analisar a carne nova para reajustar a lista hierárquica de Hanna.
Ela subiu a escada para o avião atrás de mim, e mesmo assim vi seu dar de ombros.
— Não reparei neles — desdenhou.
Cumprimentei as comissárias e o comandante com um “bom dia” muito bem planejado para soar simpático. Eu depositara minha vida na mão dessas pessoas, conquistar sua empatia era importante. Uma vez dentro do avião, me senti grata por Caleb e Hanna terem protestado pela primeira classe — com a promessa de pagar a diferença para quem não tivesse dinheiro suficiente. Aviões já são claustrofóbicos num geral, eu precisava de mais espaço para respirar. A desvantagem era que Maya se sentaria ao meu lado por praticamente três horas. Eu não podia jogar essa responsabilidade para mais ninguém.  
— Desde quando você não repara em homens?
Minha poltrona era a primeira do lado direito, bem perto da janela, paralela a de Ryan e Caitlin no lado esquerdo; Hanna e Caleb atrás de mim. Sentei-me no tecido azul afofado, virando a cabeça para trás a fim de receber a resposta. Com os olhos em qualquer lugar menos em mim, ela elevou a cabeça, se acomodando em seu lugar.
— Você deve estar me confundindo com outra amiga sua.
Mensurei o tom defensivo de Hanna e acabei concluindo que ela não queria esse tipo de conversa em público. Não que se importasse com isso antes. Mas talvez tivesse conhecido alguém especial e quisesse me contar depois com mais calma. Preferi deixar para lá e me contentei com meu lugar, me voltando para a televisão retangular à minha frente. Respirei fundo, já sentindo os nervos pipocarem de tal modo que pareciam tomar conta da minha garganta numa clara ameaça de fechá-la. Nunca fui muito a favor de altura. Entrar numa caixa metálica voante a cerca de onze mil metros — repito, onze mil metros — do chão, não me parecia muito inteligente.
Para ajudar com a inquietação, assim que a comissária passou oferecendo os lanches, pedi um café do Starbucks e um chocolate. Balançar meus pés no ar se mostrara uma atividade ineficaz para fazer. Mastigar — embora já houvesse comido, e sem fome mesmo — podia ser boa ideia para evitar ranger meus dentes. Ainda descontente, sem encontrar algo me satisfizesse na televisão de onze polegadas, conectei meu celular com o Wi-Fi e chequei meu iMessage. Para um quase alivio instantâneo, havia uma mensagem do número que Justin salvara no meu celular noite passada.
“Estou a caminho de Boston. Seu voo já saiu, certo?”
Respondi:
“Certo. Duas horas e quarenta de voo. Eba.”
Meio minuto depois chegou sua resposta:
“Você está sentada ao lado de Maya?”
Dei uma olhadinha de esguelha para minha companheira. Ela permanecia entretida com The Voice, tomando uma taça de vinho. Os ombros encolhidos contrastavam com sua fachada relaxada. Então eu ainda não me sentia ameaçada por sua presença.
“Sim.”
“Dê um tiro nela por mim.”
“Se você der um em Annelise.”
“Já te disse: Precisamos que ela nos acoberte até chegarmos à Boston, depois disso, temos umas contas a acertar.”
Bufei. Umas contas a acertar. Que tipo de contas? Lençol + roupas no chão = Justin e Annelise reatando?
Não se eu pudesse impedir.
“Vai ter que entrar na fila.”
“Se quiser podemos fazer juntos.”
Abri um sorrisinho e comecei a digitar:
“Podemos fazer muitas coisas juntos.”
Por estar com um pouco de juízo, apaguei e mandei apenas: “Combinado.”.
Eu não havia realmente pensado no que estava prestes a fazer e no que aquilo significava. E mesmo que não fosse admitir em voz alta em hipótese alguma, tinha conhecimento de que meu plano era extremamente impulsivo e precipitado. Levar Maya para Boston, não parecia só arriscado, como burrice também. Como complemento, seria a primeira vez que veria Eleanor e Bryan depois de todo aquele tempo. Me afastei deles porque os julguei parcialmente responsáveis por toda a merda que havia acontecido comigo. Mesmo com Justin de volta, não mudava sua negligência quanto a nossa segurança. A notícia da festa só mostrava que não haviam mudado. Tudo o que importava para os dois era o status social elevado, vanglória e exibicionismo. Por outro lado, de Flê e Etienne eu sentia falta.

— Meu Deus do Céu!!! — Hanna deu pulinhos quando descemos no aeroporto, agarrando meu pescoço com um braço — Boston você está sentindo isso?! O ar até está diferente agora que esse lugarzinho medíocre tem Hanna e Faith reunidas no solo em que tudo começou! Espera só a vibração que o shopping vai sentir!
Desvencilhei-me de seu braço sufocante.
— Hanna, eu não vim aqui fazer compras — repreendi.
Ela não perdeu a animação.
— Nós vamos para a festa, você tem que se arrumar, precisa de um vestido perfeito, a maquiagem, as unhas...
— Será que ela sabe que estamos num caso de vida ou morte aqui? — Caitlin comentou com Ryan propositalmente alto.
— Se vamos morrer, vamos morrer com glamour.
Caleb riu e imperceptivelmente Maya concordou.
— Eu não vou a shopping nenhum — retruquei.
Hanna me olhou séria.
— Faith, você precisa estar vestida para matar, não vou te deixar sabotar sua volta triunfante.
— Não é uma volta.
Finalmente, suspirou exasperada.
— Caleb, faça alguma coisa.
Ele levantou as mãos, imparcial.
— Temos coisas mais importantes para fazer do que brincar de modelos da Victoria Secret's. Sem ofensa, Cait.
— Não me ofendi, dá mesmo muito trabalho pra conciliar com outra coisa.
Hanna revirou os olhos, rapidamente agarrando meu braço para me puxar longe dos outros. Me encarou fixamente e esbravejou:
— Nós já planejamos tudo de cabo a rabo, não há o que fazer a não ser esperar dar a hora da festa. Você prefere ficar se retorcendo de agonia entre quatro paredes a passar um tempo comigo? Por que tenho a impressão de que tenta passar o máximo de tempo longe de mim?
— Han, não é assim.
— O que eu te fiz? — perguntou ressentida.
Relaxei os ombros. Se ela soubesse que Justin estava vivo certamente entenderia porque eu me afastava. Tudo o que eu queria era ficar perto dele e garantir que nunca mais me deixasse. Da forma que fosse, eu só precisava que ele ficasse. Aquelas poucas horas longe dele já estava me deixando com falta de ar. E confesso que meu passatempo predileto no avião foi na verdade reviver infintas vezes a noite passada. Aquela massagem dos deuses seguida de uma conversa despretensiosa até que adormecêssemos como o havíamos feito no dia anterior — infelizmente tirando a parte de acordar em cima do seu peito desnudo.  
Vislumbrei um olhar significativo de Ryan sobre o ombro de Hanna e peguei a mensagem. Queria me lembrar da obsessão que já me repreendera. Quase esperneei como uma criança birrenta diante de seu fracasso. Ambos estavam certos. Justin dissera que eles ainda não estavam no aeroporto, não tirara os olhos do monitor para rastreá-los. De Los Angeles para Boston são sete horas, então se pegassem um voo nesse momento não chegavam antes das cinco. Hanna merecia nosso tempo juntas e eu também. De algum modo, ajudaria a colocar um pouco da cabeça no lugar.
— OK. Vamos — cedi de uma vez antes que pudesse desistir.
Feito uma criança, os olhos de Hanna se iluminaram imediatamente.
— Mas eu vou ter que levar Maya comigo — avisei. Sua perda de entusiasmo com essa informação não foi significativa. Ela não podia me dar mais motivos para desistir, minha convicção diminuíra em 99,9%.
— Não tem problema — cintilou — Caleb! — ela se voltou para o grupo paciente — Vá para a sua casa e ajude com os últimos detalhes. Nós vamos ao shopping arrumar roupas decentes.
— Caitlin, vá com elas, eu vou pra sua casa e... espero vocês lá — Ryan se pronunciou.
Caitlin e Hanna se olharam, diga-se de passagem, um pouco desgostosas.

Mal havíamos entrado no uber e Justin me mandou outra mensagem, disparando meu coração:
“Depois você me diz que não tem péssimas ideias.”
Pelo que eu havia estudado no ensino médio, os efeitos daquela mensagem apontava para uso frequente de heroína. Sua mini-bronca era mais bem vinda do que ele pensava. 
“Já chegou em Boston?” — desconversei.
“Estou na casa da Caitlin. Eu cumpro o combinado.”
E assim eu esperava que fosse em relação à Annelise. Mesmo que uma parte de mim se recusasse a acreditar somente em suas palavras, já podia me sentir parcialmente aliviada com sua afirmação de estarmos no mesmo território. Por outro lado, angustiada por estar tomando justamente o caminho contrário dele.
“Não faça nada fora do combinado, Justin, Ryan está a caminho.”
Ryan havia me prometido ficar de olho nele e me mandar uma mensagem assim que chegasse à casa para confirmar sua localização. Se não tivesse o feito eu estaria mais perturbada do que fiquei durante as compras.
Andar no shopping atrás de uma roupa ideal pode ser extremamente desgastante se sua cabeça não estiver totalmente focada e preparada para isso. Esforcei-me exclusivamente por conta de Hanna. Ela estava tão animada que mal andava, corria. Imaginei dois grilhões colados aos pés de Caitlin, seguindo-nos com uma nuvenzinha negra sobre a cabeça disparando raios e trovões. Maya já se sentiu em seu habitat natural. A partir do momento em que pisamos no centro comercial salpicado de pessoas, lojas perfumadas com rosas e cheiro de roupas novas e ar condicionado no ponto certo, notei certo músculo rígido em sua testa descansar. Foi bom porque eu mesma estava me vendo estourando-o com uma agulha.
— Você não pode detestar todos os vestidos que eu te mostro — Hanna queixou-se, segurava pelo menos uns cinco cabides na mão direita e mais quatro na esquerda — Pelo menos tem de prová-los.
Joguei a cabeça para trás, cansada só de imaginar o “tira e põe roupa” em looping. Entretanto, não adiantou discutir. A partir daquele instante, sentadas no sofá vermelho longo fora das cabines de prova, Hanna, Caitlin e Maya me viram desfilar por infinitas vezes. Não foi tão ruim quanto eu pensava. Tudo bem, a parte de vestir e tirar os tecidos elegantes era extremamente desgastante — e precisei da ajuda de Hanna em algumas vezes —, mas, encontrei aí oportunidade de integrá-las, pedindo a opinião das três, embora já soubesse a minha. Elas podiam abrir uma loja em conjunto, todas adoravam a arte de se vestir, Caitlin sabia exatamente o que falava — aprendera dos vários estilistas pelos quais passara. Conforme eu posava, alguns comentários entre elas começaram a surgir sem que percebessem.
— Vocês não acham que a pele dela casa perfeitamente com amarelo? — Hanna perguntara.
Elas me analisaram e assentiram.
— Com certeza. Mas esse ficou meio sem graça. Faith pode ser mais elegante do que isso — Maya argumentara. Foi a primeira coisa que falou de livre e espontânea vontade em horas.
— Precisamos de outros vestidos. Vamos nós três à caça. Faith, não saia daí — Han comandou.
— Eu estava pensando... — comecei a dizer, colocando as mãos na cintura e olhando a pilha de descarte de vestidos. Assoprei os cabelos que faziam cócegas na minha cara para terminar — Eu não quero vestir uma coisa assim.
Recebi três pares de olhos descridos.
— Como assim?
— Isso tudo parece muito “Eleanor”. Sou independente agora. Quero alguma coisa que...
— Que ela vá desaprovar — Hanna completou, desafiando-me a contrariá-la.
Pensando bem, eu nem ao menos queria encontrar argumentos para contestá-la. Precisava provar para meus genitores que eles não eram meus donos. Precisava provar que sou um sujeito pensante, de opiniões próprias e dignidade personalíssima. 
— Eu posso ter uma ideia — Maya disse a meia voz. 
Ao não encontrar oposição, enfiou-se entre os cabides, escolhendo entre as roupas durantes minutos fugazes. Nos limitamos a observá-la, nos deparando com sua presunção ao apresentar seus resultados.
— O que acham?
Quase foi possível ouvir o ruído de três bocas se abrindo de perplexidade.
— É vestimenta de uma rebelde sem causa. Com certeza. Eleanor ficará furiosa. Você tem certeza de que quer fazer isso na festa de aniversário dela? Não é todo dia que se comemora quarenta e cinco anos.
Hanna produziu o efeito contrário que desejava. Visualizei Bryan e Eleanor espumando diante de seu público ao encarar a filha que criaram debaixo de tantas regras de etiqueta vestida daquela maneira. O sorriso em meu rosto foi involuntário.
— Você disse vestida para matar, não foi, Han?

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